Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

Examino a sala, com sua decoração mista de brinquedos de plástico da Fischer Price e mobília vagabunda da Sears. Sorrio ao ver as fotos de escola mais recentes dos meninos em porta-retratos em uma prateleira perto da televisão. Paro de sorrir ao perceber que o retrato do casamento de minha irmã com Vinnie está exatamente no lugar em que sempre esteve.

- Por que não tirou isso daí, Mary Beth? - pergunto, apontando para a foto quando ela aparece com duas Cocas Light e uma travessa de batatas fritas.

- O quê? A foto do casamento? O que os meninos vão achar se eu tirar daí? Sou eu e o pai deles.

- Os meninos já sabem que vocês estão se divorciando. - Isso é ponto pacífico. Eu estava com ela no último outono quando ela contou. Vince Júnior parece ter entendido, mas não se abalou. Nino nem deu atenção para a novidade.

- Eles sabem que vamos nos divorciar, mas eu não quero que eles achem que eu odeio o pai deles - diz Mary Beth, e se senta no sofá enquanto mastiga uma batatinha.

- Isso é uma loucura. Para começo de conversa, você o odeia, sim... não odeia? - quero saber, quando pego uma expressão fugaz no rosto dela.

- Ele me traiu quando eu estava grávida. Descobri que ele estava com outra quando eu estava em trabalho de parto, Anahí. Como acha que eu me sinto? - responde ela.

- Bom, então dê um fim na foto dele - insisto, atravessando a sala e tirando-a da prateleira. -Agora?

- Pronto. - Entrego o porta-retrato para ela. - Pode jogar fora.

- Mas você nos deu este porta-retrato de presente de casamento.

Ela tem razão. É de prata e tem gravada a data do casamento deles. Comprei na loja Things Remembered, e na época foi uma extravagância. Quando minha mãe viu, disse que eu devia ter comprado o de latão porque o de prata ia escurecer.

Percebo que não escureceu.

E me dou conta de que Mary Beth deve lustrá-lo com regularidade.

Isso me dá enjôo.

- Jogue fora - repito.

- Mas parece tão...

- Eu jogo para você. - Vou até a cozinha batendo os pés e piso com tudo no pedal do cesto de lixo plástico. Quando a tampa se abre, largo o porta-retrato lá dentro. Cai com um barulho molhado em cima da pilha dos restos de espaguete de alguém, misturados com pó de café.

- Pronto. Não se sente melhor? - pergunto a minha irmã quando volto à sala.

- Acho que sim.

Mas não se sente nada. Está com vontade de morrer. Quer o retrato de volta ao lugar dele. Quer Vinnie de volta ao lugar dele.

- Essas batatinhas são de baixas calorias? - pergunto, colocando uma na boca.

- Não. São as gordurosas mesmo.

- Ah. - Como aquela única batatinha, sento-me na poltrona na frente do sofá e dou um gole na minha Coca Light. - Então, como vão os meninos?

- Ah, você vai ver os dois logo de manhã. E estou dizendo bem cedo mesmo. - Ela sorri. - Eles estão tão animados por você ficar hospedada aqui, Annie. Pediram para eu dizer que você pode ficar o fim de semana inteiro aqui em casa, mas eu disse a eles que você provavelmente vai para a casa da vovó e do vovô amanhã à noite.

- É, acho que devo ir mesmo - respondo. Meus pais ficariam magoados se eu não fosse.

Mas sei que minha mãe vai me enlouquecer em 24 horas. Vai tentar fazer com que eu me sinta culpada por ter me mudado daqui. Vai agir como se fosse apenas algo temporário, como sempre faz.

- Ouvi dizer que mamãe e papai compraram um sofá novo - digo a Mary Beth.

- É. É pavoroso.

- Eu sei. Eu me lembro de ter vomitado em cima dele, e não fui a única a fazer isso ao longo dos anos.

- Não, estou falando do novo. Tem estampa marrom e bege, com tecido empelotado e almofadas duras. Eu fui escolher com mamãe.

- Está falando sério? - Tenho de rir. - Qual é a dela com os tons terrosos?

Ela também ri. Então, começamos a tirar sarro da mobília dos nossos pais. Depois tiramos sarro dos nossos pais de maneira geral. Eu sei que parece maldade, mas a gente faz tudo isso de um jeito amoroso. E eu percebo como sinto saudade da minha irmã.

Quando Mary Beth me diz que posso dormir na cama de casal junto com ela, em vez de ocupar o sofá da sala, aceito. Eu me sinto em paz acomodada ao lado dela, ouvindo sua respiração uniforme, ciente de que ela me ama e me aceita incondicionalmente.