Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

O mesmo vale para meus pais.

Eles me amam incondicionalmente, quero dizer.

Mas quando os vejo na festa no dia seguinte, a primeira coisa que minha mãe diz (depois de ter berrado, me abraçado e chorado, e depois de ter superado o choque inicial de me ver ali) é:

- Onde foi que você arrumou esse vestido? Devia usar coisas assim com mais freqüência. Você está linda.

O vestido foi tirado do fundo do guarda-roupa de Mary Beth (tem pelo menos dez anos e está quatro números abaixo das roupas atuais dela). Eu não sairia na rua nem morta com esta coisa a oeste do rio Hudson. O modelo é totalmente datado. Além do mais, é cor-de-rosa. E sem manga. Mas olhe só para a minha mãe com uma coisa azul-turquesa com cinto de corrente dourado. Ela não é exatamente a profissional de moda de Brookside.

Meu pai fica repetindo sem parar que já estava na hora de eu fazer uma visita. Ele diz isso na fila do bufê, durante o brinde com minha mãe e quando estamos dançando uma canção antiga de Frank Sinatra.

Ele diz isso com tanta freqüência e para tantos parentes, amigos e vizinhos que, com certeza, todo mundo fica achando que eu nunca mais estive aqui desde que fui para Nova York há mais de um ano. Já sou o assunto da cidade por ter ido embora. Agora posso estar na boca do povo porque, além de ter ido embora, dei as costas para meus pais tão amorosos.

A festa acontece no salão da igreja Mãe Preciosa (o mesmo lugar onde eu tive minhas aulas de catecismo quando criança, onde fomos aos bailinhos da adolescência e onde Mary Beth e Vinnie organizaram a recepção de casamento deles). É engraçado: já estive aqui centenas, talvez milhares de vezes, mas de repente o lugar parece completamente desconhecido.

Não dá para acreditar que eu nunca reparei no fedor da fumaça do bingo de sábado à noite, no piso de linóleo todo riscado, nas cadeiras de metal cinzento de dobrar e nas mesas compridas com toalhas de papel com estampa de sinos de casamento que são tão... bom, cafonas.

Assim como a mesa do bufê, com suas bandejas de alumínio com rigatoni e lingüiça com pimentão e salada de alface americana verde desbotada, tomates amarelo-alaranjados e molho italiano Seven Seas.

E a decoração: papel crepom franzido pendurado nas vigas e sinos de casamento dobráveis pendurados nos aros da quadra de basquete (nunca tinha reparado que tinha cestas de basquete aqui). Nas mesas há copinhos de papel amassado branco com aquelas drágeas de amêndoa que não têm gosto de nada.

Mas a pièce de resistence tem de ser o DJ: Chaz, irmão mais novo do padre Stephan, que usa um terno informal de poliéster bege que não é nada cool e retro, mas obviamente nerd. Ela já tocou Celebration pelo menos três vezes e, cada vez que toca, todo mundo aplaude, e a pista de dança se enche no mesmo instante.

Comparo a cena com os eventos que Milos organiza em Nova York, e me vejo com pena de meus pais e de meus irmãos. Nenhum deles faz a menor idéia de como tudo isto é absurdamente inadequado. Estão se divertindo a valer com tanta dança, comida e interação social.

Não me compreenda mal: eu também estou me divertindo.

Mas não posso deixar de sentir que não pertenço a este lugar.