Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

O sr. Cardolino trabalha com encanamento e aquecimento. Meu pai vive dizendo que ele ganha uma fortuna, e acho que ganha mesmo, para os padrões de Brookside. Ele sempre anda com um Buick novo, a sra. Cardolino tem um casaco de pele e a família toda está sempre coberta de jóias de ouro, até mesmo a filha de um ano de Tanya, irmã de Bruce, que tem orelhas furadas e no momento está fazendo a dança do passarinho com meus sobrinhos.

-  Continua morando em Nova York? - pergunta Bruce. Quando faço que sim com a cabeça, ele pergunta: - É mesmo? E como é lá?

- É ótimo - digo, sem vontade de me estender. Qualquer coisa que eu diga vai chegar aos ouvidos dos meus pais, então preciso ser muito cuidadosa.

- Já viu o Donald Trump na rua?

- Não, nunca vi.

- E aquele pessoal do Today Show? Já viu? - Não, nunca vi.

- Então, você nunca foi ao lugar onde eles gravam o programa e acenou para a câmera? - Não.

- Hmm. Minha namorada vive dizendo que quer fazer isso. Diz que se a gente se casar algum dia, ela quer passar a lua-de-mel em Nova York só para segurar um cartaz dizendo que somos recém-casados. - Ele solta uma gargalhada do tipo Vá entender.

- Quem é sua namorada, Bruce? Alguém que eu conheço?

- Angie Nardone. Você conhece?

- Angie Nardone! Conheço sim, ela é alguns anos mais nova que eu, mas participamos juntas do Key Club.

- É ela só tem 19 anos - diz Bruce em tom de confiden­cia. - Acho que ela é nova demais para falar em casamento.

- É, 19 é jovem.

- Eu vivo dizendo para ela que se ainda estivermos jun­tos no ano que vem, quando ela for mais velha, veremos.

- É - digo, com cara de legume. - Ela vai estar com 20 anos.

- É, é melhor que 19. Meus pais se casaram com 19 anos, mas as coisas eram diferentes naquela época.

- Eram mesmo. Mas, bom, Tanya casou assim que saiu da escola, e ela e Joey parecem muito felizes - observo. Obviamente, ela não é casada com meu irmão Joey... há incon­táveis Joeys em Brookside. Aliás, a maior parte deles está bem aqui, na festa de aniversário de casamento dos meus pais.

A irmã de Bruce, Tanya, e o Joey dela têm pelo menos cinco filhos, e ela está grávida de novo, mas os dois dança­ram todas as músicas lentas que Chaz tocou.

- E, mas isso também é diferente - diz Bruce, inclinando-se para ficar mais perto de mim. - Eles tiveram de se casar, lembra?

- Ah, é. - Eu tinha me esquecido disso completamente.

Aqui em Brookside, quando você é solteira e católica apostólica romana e fica grávida, tem de se casar. Simplesmente não existe alternativa.

- Então, o que você faz? - pergunta Bruce. - Em Nova York?

- Trabalho em uma agência de publicidade.

- O que você faz lá?

Não vou usar a palavra que começa com "S" de jeito nenhum. Não com Bruce sentado aqui do meu lado com essa cara de impressionado com o simples fato de eu morar em Manhattan.

Respondo de modo vago:

- Faço várias coisas. Agora, por exemplo, estou tentando criar um nome para um produto novo.

- Está brincando! Que tipo de produto?

- E um desodorante novo. É feito para durar a semana toda.

- Que legal. Quais foram os nomes que você inventou? - Meu preferido é Persist - digo a ele. - Mas não sei se vão aceitar, então ainda estou pensando.

- Ei, vou dar uma pensada e escrever alguns nomes para você, certo? Adoraria ajudar com algo assim.

- Obrigada, Bruce... - Quero dizer a ele que não precisa se incomodar, mas não sei como falar isso de maneira educada, então digo apenas: - Seria ótimo.

Ele pede o meu endereço, escreve na toalha de papel, rasga o pedaço e coloca no bolso da camisa. Conversamos mais um pouco, na maior parte sobre o ramo dos encanamentos e do aquecimento e sobre pessoas que conhecíamos.

Então Celebration toca de novo e Bruce se levanta de um pulo, gritando:

- Uh-hu! Quer dançar, Anahaí?

Esse bit não tão antigo assim? Nem que minha vida dependesse disso. Mas respondo, com educação:

- Não, obrigada. Mas sinta-se à vontade.

- Vamos lá! Angie não se importaria. Ela teve de trabalhar hoje... Eu contei que ela faz flebotomia no hospital Brookside General?

- Não, acho que não contou. - Ah, vamos dançar.

- Não, tudo bem. Vou ver se meus sobrinhos já comeram bolo - digo a ele, e saio à procura de Vince Júnior e Nino, enquanto Bruce se junta à multidão saltitante na pista de dança.