Fanfic: Concubina (Terminada)

As
preliminares começaram. Um alemão subalterno ofereceu um
presente: um relógio de metal, ela pensou, mas era difícil ver. Poncho aceitou
com negligência casual, sem pegá-lo. Foram servidos chá e bolinhos e os alemães comeram, mas não Poncho. Depois de um
intervalo polido, os alemães começaram a falar sobre o
objetivo do encontro.

Então aconteceu uma coisa
estranha. O homem que consi­derara líder recuou e outro se
adiantou. Era o que se parecia mais com um macaco, com cabelos negros ondulados
e um na­riz largo. Falava em sua língua bizarra e o capitão de um navio traduzia
para o cantonês de beira de cais.

Poncho
não
falava aquele dialeto vulgar, mas Anahí sim. Sua ama tinha sido criada em Cantão. Enquanto outro tradutor
passa­va as palavras do cantonês para o mandarim, Anahí
escrevia tanto o que havia sido dito em cantonês como o que era traduzido
para Poncho. As negociações continuaram por bastante tempo, os ale­mães queriam tratados sobre
cidades portuárias para vender seus bens e Poncho recusava. A
China não tinha interesse nas mer­cadorias alemãs, dizia ele. Os enviados
mandaram trazer mais presentes valiosos, tecidos luxuosos e maquinaria
estranha.

Poncho
bocejou e prometeu discutir as propostas com o im­perador, mas não saiu. A princípio Anahí não compreendeu o motivo,
mas então percebeu que o presente principal ainda não fora oferecido.

O
homem com cara de macaco se adiantou, os olhos arro­gantes, e Anahí não gostou dos modos dele.
Fez um gesto e dois homens se adiantaram carregando uma arca, deixando-a no
meio do salão. O homem com cara de macaco foi até ela e abriu a tampa.

Anahí
arquejou, quando viu o conteúdo. Por mais protegida que
fosse, até ela sabia que o pó marrom era ópio, uma droga mortal e
ilegal na China havia quase cem anos.

Apesar
disso, os brancos agiam abertamente para deixar toda a população viciada. Muitos funcionários da corte eram vicia­dos
ou vendiam a droga ilegalmente, e os alemães pensavam que Poncho
fosse corrupto também. Esperavam que o novo im­perador anulasse o
decreto do bisavô, mas estavam prestes a descobrir a verdade.

A
reação
de Poncho foi imediata. Gritou de raiva e cada ho­mem que o acompanhava tirou a
espada da bainha. Os alemães agiram da mesma forma, mas foram lentos demais
e em poucos segundos cada alemão tinha uma lâmina encostada ao pescoço. O principal assistente
de Poncho afastou-se de seu lugar, ao lado do trono, foi até a arca e cuspiu nela. Não disse uma palavra, mas o
significado era claro: a China não queria ópio.

Duas
espadas estavam encostadas no pescoço do homem com cara de
macaco e seu sangue escorria. Estava vermelho de raiva, mas não ousava se mexer. O
principal assistente foi até ele e ergueu uma longa
adaga, colocando a ponta sob seu queixo barbado. Um leve empurrão e o homem estaria morto.
Ele sabia disso porque começou a falar em cantonês, pedindo para não ser morto e oferecendo
em troca de sua vida toda espécie de ouro e jóias. O tradutor de Poncho
não
traduziu as palavras.

O
assistente se mexeu de novo. Com um gesto rápido do pu­nho, fez com a
adaga uma marca semelhante a um dragão na face do homem com
cara de macaco. No trono, Poncho bateu as mãos duas vezes. Mais
eunucos entraram e jogaram óleo na arca. Todos ficaram
imóveis
por um longo momento e, final­mente, Poncho se levantou devagar do trono. Anahí
ficou impressionada com o poder que irradiava dele. Caminhava como um deus
furioso! Desceu da plataforma e andou em meio às es­padas, parando diante
do homem que Anahí considerara o líder e falou com clareza:

- Ouça as palavras do Trono do
Dragão. Todos os que co­mercializam esse pó serão mortos.

Esperou
que suas palavras fossem traduzidas, observou e es­perou até todos os alemães abaixarem a cabeça em aceitação.

Poncho
apenas piscou e subitamente todas as espadas foram guardadas nas bainhas. Cada
soldado recuou um passo enquanto os alemães permaneciam desajeitados
no centro do salão, sem ousar se mexer. A arca de ópio foi erguida por dois
eunucos, que a jogaram na imensa lareira e puseram fogo nela.

O
homem-macaco, lívido de ódio, praguejou em cantonês. Foram suas últimas palavras. Poncho se
virou de repente e atirou a adaga, que varou o pescoço do homem e ele caiu
morto.

Anahí
reprimiu um grito. O pincel caiu de sua mão e ela se afastou do
buraco na tapeçaria. Por algum tempo, temeu não conseguir respirar, a
imagem da adaga de Poncho presa no pes­coço do homem, o sangue
jorrando e... Mordeu o lábio. Não gritaria, desempenharia
seu dever como uma boa esposa. Nada mais foi dito. Poncho saiu do salão, os passos firmes, mas
os soldados ficaram. Os estrangeiros, submissos, pegaram o corpo do companheiro
e saíram.