Fanfic: Concubina (Terminada)

Ela
escorregou de volta à Terra. Caíra de costas, os olhos
presos nos dele. Anahí viu a alegria tonta brilhando nos olhou dele e se
perguntou se era amor. Poderia se sentir assim com o imperador? Ou apenas com Poncho?

Não sabia, e isso a
desconcertou ainda mais. Ouviu vozes e passos de eunucos no corredor e chorou
alto para eles a ouvi­rem. Virou-se e beijou o ventre de Poncho.

Era
amor. Amava Poncho. Amava o melhor amigo do impe­rador. Amava um homem que
veria sempre na Cidade Proibida, mas estaria casada com outro. Desviou os
olhos, sem precisar forçar as lágrimas que lhe desciam
pelo rosto.

***

Anahí
voltou para seu quarto, as pernas trêmulas, a maquiagem borrada
de lágrimas, os cabelos desarrumados. Para qualquer um
que a visse, era uma mulher espancada. Mas sabia que era uma mulher apaixonada.

Que
desastre! Não se juntou às virgens para o jantar,
preferiu tomar um banho em solidão. Não disse a ninguém, mas nunca estava
sozinha. Mesmo no quarto de banho, um eunuco a vigia­va. E não se surpreendeu quando o
chefe dos eunucos foi ao seu quarto naquela noite, para saber o que havia
acontecido com ela quando estava com Poncho. Mal olhou para ele até perceber que havia outra
pessoa entrando atrás do eunuco.

- Viúva consorte! - exclamou, enquanto se
ajoelhava e encostava a testa no chão.

O
cabelo estava despenteado e as roupas desarrumadas. Olhou para a colega de
quarto, Hua Si. Por isso aquela maldita não havia se despido, embora
fosse tarde. Sabia que a viúva consorte viria!

- Minhas mais profundas desculpas. Não tinha idéia de que a senhora viria,
ou ficaria apresentável.

- Bobagem, bobagem! Levante-se.

Anahí
se levantou lentamente, cautelosa e cheia de dor. A viúva consorte se sentou na
cama dela, observando-a. Anahí fi­cou em pé diante da mulher mais
velha, a cabeça baixa, as mãos entrelaçadas em frente ao corpo.

- Como posso servi-la, minha senhora?

- Oh, minha cara, vim apenas saber se está ferida. Depois da exibição de Alfonso, fiquei
preocupada com sua saúde.

Não era difícil chorar ao ouvir o nome
de Poncho. Nunca imaginara que doía tanto amar um homem.

- Ele lhe bateu muito?

Anahí
olhou para Hua Si e para o chefe dos eunucos que tam­bém estava perto. A viúva consorte esperava mesmo
que confes­sasse alguma coisa com aqueles dois no quarto?

A
mulher compreendeu e bateu palmas.

- Para fora! Os dois! Quero falar com a virgem Anahí
sozinha!

Os
dois se prostraram, depois recuaram para fora do quarto. Colariam os ouvidos na
parede, mas não tinha importância. Anahí não contaria à viúva nada que não pudesse ser conhecido
por toda a China.

- Tantas mudanças - murmurou a viúva. - É difícil e con­fuso para mim e
pior ainda para vocês, jovens. - Sorriu para Anahí. - Ouvi falar de sua mãe, é muito inteligente. Sente
falta dos conselhos dela?

Os
olhos de Anahí se encheram de lágrimas. Não conseguia falar, assim
acenou, infeliz. Tudo era claro quando a mãe estava perto, mas, longe
dela, tinha apenas dúvidas e perguntas.

- Fale-me sobre sua mãe. Eu gostaria da
companhia dela?

- Não tenho o direito de
presumir de quem a senhora gos­taria, minha senhora. Só posso dizer que sinto
muita falta dela. Sempre vê as coisas com mais
clareza que eu.

- Esta foi uma resposta tola. Pensei que soubesse
que a vida na corte exige inteligência. Você não conseguirá sobreviver com sua aparência. Seus pés são grandes.

- O que quer que eu lhe conte?

- O que Alfonso fez com você hoje?

- Ele me bateu.

- Você sabe por quê?

Anahí
acenou e respondeu como a mulher esperava:

- Porque me deseja, mas não pode me ter.

- E você retribuiu o desejo?

Essa
era uma pergunta perigosa, e Anahí pensou durante um momento. Todos na Cidade
Proibida dependiam de espiões. Para ser útil à viúva, Anahí podia se
oferecer para ser uma de suas espiãs.

- Eu finjo desejá-lo.

- Muito prudente. O desejo não é real?

- Ele é amigo de seu filho. Posso
sobreviver a uma surra para ter uma compreensão melhor das influências sobre o gran­de líder de nosso povo.

Acabara
de provar à viúva que era inteligente o
bastante para ser uma espiã. Agora tinha de convencer
a mulher de que não era uma ameaça, de que podia ser
controlada. Precisava mos­trar-lhe que uma coisa simples a manteria nas mãos dela.

Olhou
para as mãos, a expressão vulnerável.

- Posso lhe contar um segredo, minha senhora?

- É claro, minha querida.

- Os poetas falam de amor. Alfonso está consumido pelo desejo.
Temo ser uma criatura estranha, porque nenhuma dessas coisas me atrai. Há apenas uma coisa que
desejo.

- E o que é?

Anahí
tentou parecer culpada.

- Meus pais não têm muito dinheiro. Tenho
dois irmãos que querem fazer os exames, mas os professores
são
muito caros, e minha mãe diz que os meninos são nosso futuro.

- Está muito certo. Quer
dinheiro para seus irmãos?

- Er... sim, é claro.

- Que objetivo nobre, Anahí, mas não é verdade, é?

- Hmm, não, realmente não.