Fanfic: Concubina (Terminada)

Um
berro cortou a sala. Anahí, tonta com o ópio, não compre­endeu o que
acontecia. Ouviu sons a distância, mas não sabia o que era. O homem
que segurava o cachimbo desaparecera e o cachimbo estava no chão, esquecido.

Então viu Poncho, o rosto
contorcido de fúria. Movia-se com imensa rapidez e puxou o homem
que a segurava, libertando-a. Podia respirar de novo, mas não se moveu. Observava seu
amado. Podia ver cada flexão dos músculos, cada gota de suor
em seu rosto. Seus movimentos eram fluidos, a troca de murros como um fluxo de água numa elaborada dança numa fonte.

Ouviu
os gritos das virgens, os berros de outros homens, mas Poncho lhe preenchia a
visão
e os pensamentos. Parte dela temia por ele, cada vez que alguém lhe bloqueava, e temia
que não voltasse, que não sobrevivesse. Mas sempre
voltava, para lutar por ela de novo. Seu coração se encheu de amor por
ele.

E
então
a sala ficou vazia. Poncho estava livre para se ajoe­lhar ao lado dela, os
olhos ansiosos. Sangue e suor lhe marca­vam o rosto, o peito subia e descia com
a respiração difícil e as mãos tremiam enquanto se
estendiam para o rosto dele.

- Anahí! Anahí! Você está bem?

- Eu amo você - disse ela, e repetiu -, eu amo você. Ele pressionou os dedos
nos lábios dela.

- Shh, Anahí, você não está se sentindo bem.

Queria
dizer que se sentia perfeitamente bem, mas não queria discutir. E não tinha importância, porque ele não estava olhando para ela.
Embora mantivesse uma das mãos sobre a boca de Anahí,
apontava com a outra e dava ordens.

Anahí
não
percebera que havia outros na sala, outros que haviam lutado ao lado de Poncho.
Agora ouvia Poncho ordenar prisões. Os brancos seriam
escoltados para fora da China e proi­bidos de voltar, sob pena de morte. As
outras virgens estavam sendo enviadas para um palácio de que nunca ouvira
falar antes e a médica deveria ser chamada.

Só quando alguém lhe pisou nos cabelos
ela compreen­deu que não podia ficar deitada no chão. Precisava erguer o
corpo pesado e ir para a segurança de sua cama. Mas não pensava no palácio das virgens, nem
sonhava com sua cama na casa de seus pais. Pensava apenas nos braços de Poncho em torno
dela, em descansar a cabeça em seus ombros e ver o dia amanhecer.

Mas
nada disso aconteceria, era uma virgem imperial e logo se tornaria a esposa do
imperador, mesmo se fosse trancada no harém inferior. Poncho não era parte de seu futuro,
e continuou deitada, as lágrimas silenciosas lhe descendo pelo rosto.

Ouviu
o gemido estrangulado de Poncho e enterrou o rosto no chão.

- Você precisa ver a médica! - Sentiu-lhe as mãos a pega­rem gentilmente.
Era tão bom ficar nos braços dele, enquanto a
apertava com força contra o peito. Ouviu-o dizer mais alguma coisa.

- Jogue o corpo dele para os cães.

Alguém morrera, e a curiosidade
a fez levantar a cabeça, Era o eunuco Duan Xu, um dos principais responsáveis pelos even­tos terríveis daquela noite.
Sentiu-se grata por nunca mais ter de ver-lhe o rosto.

Outra
imagem lhe surgiu na mente. Viu Duan Xu atirar uma pesada bandeja de madeira na
cabeça de Poncho, que se abaixa­ra e lhe dera um chute
poderoso no queixo. A cabeça de Duan Xu dobrou para
trás
e ele caíra como estava agora, o pescoço quebrado.

- Você o matou.

- Isso a incomoda? Negou com a cabeça.

- Obrigada.

Poncho
soltou um grunhido bem masculino e começou a an­dar. Carregou-a
para fora do palácio do imperador e ela sentiu o ar frio da noite
na pele e a brisa lhe balançar os cabelos. Abriu os
olhos e viu milhares de estrelas. Era a hora mais escura da noite e ela sorriu,
sabendo que teria mais tempo para ficar bem ali, nos braços dele.