Fanfic: Concubina (Terminada)

Era
verdade, os eunucos estavam por toda parte. Mesmo no palácio das virgens, ficavam
de sentinela, vendo-as tomar ba­nho, se vestir, até mesmo usar o vaso.

- Mas uma virgem deve ser modesta e, como já acordei, sua tarefa terminou.

A
expressão dele se tornou ameaçadora e... divertida? Vira
o riso sob a expressão sombria?

- Não será tão atrevida depois do exame
físico.
Sem cosmé­ticos, será vista sem mentiras. - Fez uma reverência debochada e saiu.

- Você é tão corajosa! - disse Hua Si. - Sempre tem resposta para
tudo. O imperador certamente perceberá sua co­ragem.

Anahí
notou a ironia e pensou que, se continuasse a falar tanto, o imperador mandaria
atirá-la no lixo. As virtudes de uma mulher incluíam o silêncio e a submissão, não uma língua ferina.

- Sabe o que é o exame físico?

- Não, mas espero que haja
comida - respondeu Hua Si. - Estou morrendo de fome.

Anahí
não
respondeu. Não conseguiria comer, não com a previsão sombria do mestre
martelando-lhe o cérebro. O que poderia fazer sem cosméticos para ficar mais
bonita?

Sem
pensar, pegou um pote de creme com um perfume suave. Não era maquiagem, apenas um
creme especial para manter a pele bonita e tirar o cheiro do corpo. Seria
fraude se o usasse?

- O que está fazendo? - perguntou Hua Si.

- Nada.

- Ele disse para não usar maquiagem!

- É para a pele, como um remédio.

- Eles vão descobrir - disse Hua Si, e saiu.

Anahí
percebeu que Hua Si a denunciaria e lavou o creme do rosto. Mas havia um lugar
em que o cheiro de mulher era mais forte. Decidiu-se, passou um pouco do creme,
arrumou a roupa e saiu.

Não havia café da manhã, apenas chá. Anahí tomou um pou­co e
observou as outras moças. A maioria estava nervosa, rindo alto, e algumas ignoraram a
proibição de usar maquiagem.

Então ele entrou e Anahí não conseguiu pensar em
outra coi­sa. Estava vestido com roupas de cortesão, em vermelho e preto.
Usava-as como se fosse obrigado e nesse ponto se parecia com o pai, mas em tudo o mais era o
oposto. Ombros largos, alto e um queixo másculo. Demonstrava tanta
confiança em si mesmo que teve vontade de desafiá-lo, descobrir se podia
ser melhor no jogo. Mas o olhar dele se virou para ela e a respiração ficou presa na garganta.

Os
olhos, escuros e intensos, pareciam mergulhar nela. Mais uma vez, sentia-se no
pesadelo da liteira, a mão lhe segurando o tornozelo, o joelho, a coxa.

- Virgens, vocês foram avisadas para não usar maquiagem. As que
desobedeceram serão levadas e lavadas sumariamente.

O
olhar nela era severo, como se soubesse o que havia feito. Mas não podia, nem Hua Si sabia.
Assim, ergueu uma sobran­celha. Ele que descobrisse onde passara o creme e
depois expli­casse ao imperador como o encontrara.

Poncho
sustentou o olhar dela e foi como se a corda de um alaúde vibrasse entre eles. O
tom era baixo demais para ser ou­vido, mas sentiu-o no útero. Quanto mais o
momento se prolon­gava, mais forte se tornava a nota.

Uma
das moças gritou, ele desviou o olhar e só então Anahí conseguiu
respirar. Olhou em torno e viu que eunucos se mo­viam entre as moças, inspecionando-lhes o
rosto, erguendo-lhes os cabelos e cheirando-lhes as nucas. Qualquer sinal de
maquia­gem, e a moça era retirada de forma brutal. A que gritara era
tão
jovem - jovem demais para estar ali -, e o eunuco a tratava com
brutalidade. Puxou-a pelos cabelos com força.

Anahí
ficou indignada. Não viam como estava apavorada? Longe da família, cercada por serpentes
de todos os tipos, e ago­ra maltratada por um eunuco... Não era de admirar que a
menina gritasse. Pior, sua reação tornava o eunuco mais
brutal e ele lhe torceu o braço. E qual fora o crime
dela? Pusera um pouco de tinta nos lábios, era tudo!

Anahí
se levantou para pôr fim à crueldade, do eunuco. Foi
uma ação estúpida, não podia mais chamar a atenção sobre si mesma. Além disso, uma jovem a menos
aumentava suas chan­ces. Mas temia pela sanidade da moça.

- Pare com isso! - gritou o mestre.

A
voz foi tão autoritária que todos congelaram. Anahí
parou, meio erguida do banco. As pernas tremiam enquanto via o mes­tre
atravessar a sala até a moça, que parará de gritar. Anahí viu que
ela também não respirava, a boca
aberta, os olhos enormes e a pele pálida.

O
mestre parou em frente à moça.

- Respire!

A
moça
arquejou ao ouvir a ordem.

- De novo!

Ela
respirou e então o mestre se virou para o eunuco.

- Solte os cabelos dela. Por que é tão cruel com essas crianças?

- Ela está usando maquiagem.

- E será lavada, mas não por você.

Fez
um gesto e dois novos guardas apareceram. O mestre voltou a atenção para a moça de novo. Pelo menos
agora estava respirando.

- Não me desafie. Ela acenou.

Ele
olhou para o eunuco.

- Vá lavar os penicos e não apareça mais aqui.

Então, com gentileza, pegou o
braço
da menina e entregou-a a outro eunuco, com olhos suaves.

- Não me desobedeça mais - disse a ela.

A
moça
acenou e foi levada com mais outras vinte que ha­viam usado algum tipo de
maquiagem.

Anahí
sentou-se de novo. Ele a vira, é claro. Parecia o tipo de
homem que via tudo. Então fez o que a mãe lhe ensinara. Sorriu
docemente com uma expressão tão vaga quanto possí­vel. Se não quisesse chamar a atenção, dissera mamãe, deixe que todos
acreditem que você é uma peça de arte vazia... beleza
sem mente... e eles se esquecerão de você. Este era seu plano e
funcionara... até agora.