Fanfic: Concubina (Terminada)

Os
lábios
do mestre se curvaram com desprezo quando se virou e falou para todas elas:

- Vocês serão levadas para o exame.
Ficarão nuas diante do médico. Permitirão que as toque, investigue
e meça seus cor­pos da maneira que for necessária. Agüentarão tudo em silêncio como garantia de que
são
mesmo virgens.

Arquejos
de horror receberam as palavras. A maioria nunca vira um médico antes, mas mamãe previra esse exame e a
prepa­rara. O processo era repugnante, mas não a perturbaria.

- Esse exame será repetido regularmente,
portanto sugiro que guardem bem sua virgindade.

Anahí
se perguntou como qualquer dessas moças perderia a virgindade
se eram vigiadas o tempo todo. E, mesmo se houves­se oportunidade, quem faria
uma coisa assim tão estúpida?

As
virgens restantes foram divididas em grupos, dez em cada, e Anahí era a última de sua fila. A
primeira moça foi levada por um eunuco para outra sala e saiu
uma hora depois, as roupas desarrumadas, soluços escondidos pelos
cabelos soltos. A segunda entrou e saiu menos de vinte minutos depois.

A
uma pergunta de Anahí, o eunuco respondeu que a moça tinha cabelos demais e
seria devolvida para casa. Anahí demo­rou um pouco para entender o que
significava cabelo demais e então compreendeu. É claro que um exame de
virgindade signi­ficava a inspeção das partes baixas do corpo!
A mãe
consultara adivinhos para saber quanto seria cabelos demais ou de menos. Anahí
estava a salvo nesse quesito. Mas passara o creme, e isso seria descoberto!

As
outras moças entraram em pânico e pensaram em
arrancar os cabelos antes do exame. Uma delas tentou sair da sala e foi
impedida por dois eunucos.

- Eles não me deixaram voltar para
meu quarto - disse, chorando.

- Não adiantaria - disse Anahí -, eles perceberiam. -
Como
perceberiam seu creme.

Não tinha importância, pensou. O pior que
poderia acontecer era ela ter que se lavar, o que seria constrangedor, mas não fatal. Mas, naquele
momento, a jovem que havia gritado foi arrastada de volta, os cabelos
desarrumados, o rosto esfregado e marcas roxas nos braços. Chorava de novo, os
soluços de uma mulher sem esperanças.

Anahí
se levantou.

- Pare! - Foi até a moça, a expressão terna, tirando mechas de
cabelos dos olhos dela. - Com certeza não foi tão ruim as­sim - disse com gentileza.

- Vão me mandar de volta para
casa!

- Mas por quê?

- Ela foi levada à viúva consorte, que a
declarou feia demais.

- Mas é claro que está... está... pouco atraente, com
marcas escuras e arranhões.

O
eunuco não pareceu se incomodar.

- De qualquer maneira, é jovem demais. - E arrastou a moça para fora.

Anahí
não
foi obrigada a se sentar, mas sentiu medo. Não ousaria aparecer diante
da viúva consorte com os cabelos de­sarrumados e a pele
manchada. Mas sem acesso a um banheiro, como limparia o creme?

Uma
a uma as moças foram levadas ao consultório. Uma de­las foi
dispensada por ter joelhos grossos, as outras saíram cho­rosas, mas tiveram
permissão para passar pelo segundo teste: almoçar com a viúva consorte.

Então foi a vez de Anahí.
Entrou no consultório e suspirou aliviada quando viu o médico: era uma mulher
idosa.

- Você não vai chorar, vai? Não agüento mais, não vou to­lerar mais
histeria, está ouvindo?

Anahí
acenou.

- Você é mais velha que as outras.

- Não, nasci no ano do galo.

- Se é verdade, então vai envelhecer depressa.

- Ela nasceu no ano do cavalo, aposto - disse uma voz masculina
atrás
dela.

Anahí
se virou, mas já sabia quem era... seu torturador... o mestre do
festival. Estava atrás da porta, por isso não o vira antes, e tinha um
sorriso debochado no rosto bonito. Enrijeceu com o choque, mas o coração disparou.

- Está me acusando de mentir?

- É claro que estou. Por que
teria a palavra "hí"... grão... no nome, se não fosse do ano do cavalo?
O que significa que está destinada a uma vida difícil, Anahí, de muito
trabalho. Pode ter uma mente aberta, mas não tem perseverança e é incapaz de guardar
segredos.

- Isso é ridículo!

- Se eu fosse você, também teria mentido sobre
minha idade.

Ela
desviou o olhar. O que dissera era exatamente o motivo por que mentira sobre a
idade. Embora não acreditasse que o ano e a hora em que nascera
determinassem sua personalidade, sabia que os outros lhe davam grande valor,
especialmente quando previam qual seria a concubina mais fértil.

- Não se preocupe, ser
imperatriz é uma tarefa difícil, tem que ser uma
mulher que trabalha muito - consolou ele, de­bochado.

A
médica
grunhiu.

- Todas as mulheres trabalham muito, não importa a idade. Venha,
estou com fome. Mostre os seios.

Anahí
piscou, a compreensão a atingindo como um raio. Se­ria medida, despida
e avaliada enquanto ele olhava.

Não podia fazer isso, ele a
julgaria com severidade e a médi­ca concordaria. Era
assim na China: os homens tomavam as de­cisões e as mulheres
aceitavam, não importava que o resultado fosse uma
imbecilidade.

Se
fracassasse no exame físico, seria mandada de volta para casa! Tinha que
descobrir um meio de afastá-lo do consultório.

Anahí
sorriu com doçura para a médica e fez uma profunda
reverência.

- Reverenda senhora, juro que não vou lutar, desmaiar ou
chorar. Não há necessidade de o mestre
do festival ficar, ele deve ir almoçar.

- Já almocei - disse ele, mostrando um
prato vazio.