Fanfic: Amado

- Ok, class. Estão dispensadas por hoje - Miss James,
como fazia questão de ser chamada, encerrava mais uma de suas aulas de balé.

- Ai, nem acredito. Acabou a tortura - resmungou uma certa
loirinha que se sentava no chão, ao lado de suas amigas.

Realmente, aquilo era uma tortura. Não o balé, mas a
professora, uma solteirona amargurada, beirando seus quarenta ou mais anos. Uma
americana, que se sabe lá o que veio fazer no México. Como diziam as más
línguas, ela se mudou na esperança de arranjar um marido.

- Não fala assim - Maite repreendeu a amiga. - Você sabe
que ela está assim por falta de homem - completou em alto e bom som. A loira
caiu na gargalhada. Miss James observava de longe, com o olhar carregado de
ódio. Ela já não respondia as alfinetadas das garotas, que se tornavam cada vez
mais freqüentes.

- Maicita, só tu mesma - Anahí ria descontroladamente. Um
riso forçado, apenas com o intuito de provocar a professora.

- Só faço o possível - a morena sorriu, imitando um gesto
de Miss James.

- Mai, Coitada. Já está passando dos limites, não acha? -
Anahí caçoou, arrancando uma última gargalhada das duas.

De repente, Maite ficou séria. Observou a ruiva ao seu
lado. Ela estava mais calada do que o de costume. Passou uma das mãos em frente
ao rosto da amiga, que continuou imóvel, com fones nos ouvidos e fitando o
chão.

- Affe, Dulce! - Anahí empurrou a garota, que por pouco
não bateu a cabeça devido ao susto. - Pára com isso! Está me pondo medo, sabia?

- Medo tenho eu de você, sua maluca - ela respondeu
arrancando com uma das mãos os fones dos ouvidos, enquanto devolvia o empurrão
com a outra. - Quase me machuca, sabia? - Dulce repetiu ironicamente a última
fala de Anahí.

- Calma, Duds - Maite tentou apaziguar.

- Fácil falar - Dulce dobrou os joelhos, apoiando o
queixo sobre eles e recolocando os fones.

- Deixa, Mai - Anahí disse distraída com seu celular. -
Eu sei qual o problema dela.

- Sabe nada. Não tem problema nenhum - Dulce, que por
acaso escutou o comentário, esbravejou tentando colocar um ponto final no
assunto.

- É o pianista - a loira completou, ignorando a
"observação" da amiga.

Dulce a olhou ainda mais enfurecida, sentiu seus olhos
arderem e levantou dali rapidamente, procurando um lugar em que ninguém a visse
chorar.

Por que Anahí fazia aquilo?

Ela sabia muito bem dos sentimentos de Dulce pelo tal
pianista, por que fazia questão de magoá-la? Se for essa que dizia ser sua
amiga, imagine se não fosse?

Dulce andava, por pouco não corria pelos corredores da
escola de música. Lembranças vinham à tona, sentia as maçãs de seu rosto
queimarem a cada lágrima. Maldito seja o dia em que aquele pianista entrou em
sua vida.

- Lar doce lar! - Anahí se jogou
em um dos sofás, colocando as sacolas de lado, enquanto Dulce e Maite
resmungavam, carregando mais sacolas para dentro da república.

Era uma tarde de sábado, as três amigas acabavam de
chegar das compras. Como já era de se esperar, a loira havia comprado um pouco
mais que as outras.

Entrou em um dos vestiários e deixou-se deslizar por uma
das paredes. Suas pernas já não suportavam o próprio peso.

- Olá, garotas - um belo rapaz
que descia as escadas, chamou a atenção das amigas.

- Não, espera - Anahí, que estava de costas, virou-se
para o jovem. - É tu, garoto! - a loira sentiu-se extremamente feliz. Se não
corresse o risco de estragar suas roupas novas, voaria no pescoço do rapaz ali
mesmo.

- Muito prazer. Qual seria a
graça de tão nobre donzela? - ele se ajoelhou em frente à Anahí e beijou-lhe
uma das mãos, repetindo uma velha brincadeira dos dois.

- Ela é donzela. Mamãe também -
Maite cochichou a Dulce, que não evitou um risinho. Nenhuma delas era
exatamente santa. Até Dulce, a mais recatada, havia conseguido se corromper,
parcialmente.

- Caladas! - Anahí gritou. - O
prazer é todo meu, gentil cavalheiro. Chame-me de Any. Pra você é somente Any -
a loira dirigiu ao rapaz um sorriso atrevido. Maite olhava a cena enjoada
enquanto Dulce riu das caras e bocas da amiga.

- Chris, somente Chris - ele
respondeu ao sorriso dando um beijo no canto da boca de Anahí. - E as
senhoritas - falou se levantando. - Prazer em conhecê-las - disse beijando a
mão de cada uma delas.

- Dulce María - respondeu
tímida.

- Christopher. Só Chris - ele
sorriu galante.

- Maite. Mai, por favor - a
morena se esforçou em ser simpática.

- Certo, Mai. E Dul -
Christopher lançou um olhar desafiador a ela.

Aquele garoto carregava um ar de
prepotência que enojava a Dulce. Como ele podia ser tão ousado? Não tinha a
mínima intimidade para chamá-la assim.

Sem contar o quase beijo em
Anahí.

- Odeio te amar tanto - Dulce suspirou pela última vez
antes de ouvir alguns ruídos.

continua?