Fanfic: Addictive Life - AyA [Finalizada]

Addictive Life

Capitulo 72 – Elos

Minha voz ecoou sem receber nenhuma resposta.

            — Quem está ai? – repeti – Apareça!

Algo a minha frente mexeu-se. Lentamente vi a figura diminuta de uma criança. Uma menina, cabelos castanhos na altura dos ombros. Parecia cansada e com medo, talvez faminta.

            — Quem é você? – perguntou ela deixando sua voz infantil acalmar-me.

Baixei a faca sentindo o braço exausto. Meu corpo inteiro pedia por descanso.

            — Você vai me levar à mamãe? – perguntou ela novamente.

Podia sentir em sua voz a constância ansiedade.

            — Não sei quem é sua mãe, o que faz aqui? – perguntei apertando os olhos para vê-la.

O silencio inundou o lugar. A pequena garota deu um passo à frente dando-me a visão de seu rosto cálido. As faces redondas poderiam estar rosadas, mas a palidez era evidente ao reflexo da luz. Senti uma pontada em parte do meu corpo, era intrigante.

            — Você está sangrando! – disse jovialmente.

Olhou o corte que manchava a camiseta e eu fiz a burrada de olhar também. A aversão ao sangue fez-se presente. Parecia dez vezes mais ensangüentado que antes, o ardimento tomou conta da pele sensível entorno ao corte. Larguei a mochila ao chão, larguei a faca e retirei o casaco.

            — Não se aproxime! – alertei a garotinha que quis fazer tal ação.

Com os olhos fixos nos dela levantei a blusa. O tecido grudou arrastando-se pelo corte. A dor deixara-me tonta. Procurei a parede mais próxima e deslizei sobre ela sentindo a exaustão chegar tão forte que fora impossível manter os olhos abertos. Respirei fundo.

            — Quer ajuda? – perguntou a menina.

            — Não! – reprimi um gemido de dor – Fique onde está!

Tomei a coragem necessária e olhei o corte. Profundo, banhado de sangue. Minha mente girou ao mesmo tempo em que meu estomago revirava. Apertei os lábios e olhei para o teto buscando controle. Respirei uma, duas, três vezes e a sanidade voltou em partes. Fechei os olhos, mas quando quis voltar a abri-los não conseguia mais.

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A alienação era quase favorável. Uma luz irritava meus olhos, conseguia respirar e ouvir. Meu corpo era um peso morto, mas minha consciência estava mais viva que nunca.

            — Tititi!

Os dedos leves traçaram meu rosto. Gélidos e leves a mão pequena deslizava em minhas bochechas com carinho. Desmaiara de tanto cansaço, proveniente de tanto esforço e dores.

            — Tititi acorda! – a voz da garota soou próximo ao meu ouvido.

Era insistente, teimosa. Quando, lentamente, abri meus olhos me deparei com o rosto angelical da garotinha mirando-me com curiosidade. Podia vê-la melhor a luz do dia que amanhecia pela janela larga. Os olhos da menina eram tão azuis quantos os meus, os cabelos castanhos faziam uma franja na testa estreita. Dentes faltavam-lhe na boca pequena e macia. Fixei meu olhar nela tentando levantar-me. Meu corpo recusou o convite. Sentia cada extremidade dolorida e o local do corte concentrar ardência. Suspirei evitando a dor cortante.

            — Tá machucado Tititi, não pode levantar! – falou sentando-se ao meu lado.

A doçura em sua voz era característica da sua idade.  O que uma menina fazia ali? Naquele lugar? Fiz um esforço para colocar meu tronco ereto. Sentada no chão frio pude analisar melhor o local em que estávamos.

            — Tá doendo? – apontou para o corte.

            — Um pouco! – respondi-lhe em automático.

Meus pensamentos afetavam-me mais que a dor física. Mirei a garotinha e fixei meus olhos atentamente nos dela. Lembrava-me alguém se analisasse todos seus traços, mas não recordava quem.

— Como veio parar aqui? – perguntei-lhe.

Ela deu de ombros. Suspirei virando a cabeça para olhar o dia nublado que se fazia lá fora. Choveria novamente, era questão de tempo. Precisava arranjar uma maneira, uma solução pra minha vida.

— Me escuta! – olhei para a menina novamente – Preciso cuidar do machucado será que você pode me ajudar? – perguntei-lhe.

Com um sorriso entusiasmado ela assentiu.

            — Vamos cuidar do dodói? Minha mãe sempre disse que tem que cuidar do dodói!

            — Sim, vamos cuidar! – sorri-lhe de canto.

Estava receosa a ela antes, mas me dava conta que era só uma criança. Algum instinto no fundo do meu peito intrigava-me a descobrir o que acontecera com a pobre menina. Descobriria isso, mais tarde.

            — Pegue minha mochila... – apontei-a com a cabeça – Tem uma garrafa de... – relutei – De água no fundo.

Sorrindo ela se levantou apressada. Era como dá-la uma missão de vida ou morte, era entusiasmático a ela ter aquilo pra fazer.

            — Aqui Tititi! – disse estendendo-me a garrafa.

            — Porque me chama de Tititi? – perguntei curiosa abrindo a garrafa de... Vodka.

Mais uma vez vi uma mania minha nela: dar de ombros.

            — Você tem cara de Tititi!

            — Me chamo Anahí! – observei-a – Qual seu nome?

            — Ana Paula! – disse alegre.

Sorri-lhe fracamente.

            — Ok, Ana Paula... Preciso de algo limpo para cobrir o ferimento!

            — É como no filme Tititi?

            — Sim, quase como um filme! Acha que consegue?

Ela assentiu levantando-se. Vi-a afastar-se e dirigir-se até o amontoado de papelão. Quando voltou, pra minha sorte, trazia em mãos um kit mínimo de primeiros socorros.

            — Onde conseguiu isso? – pedi-lhe segurando o estojo.

            — Encontrei junto com as coisas velhas do terceiro andar!

Assenti-lhe. Abri o estojo e encontrei um papelote de gases fechadas.

            — Vou limpar a ferida com a... água! – expliquei-lhe – Quando acabar gostaria que você colocasse isso em cima combinado?

Ela assentiu. Suas mãos miúdas logo estenderam-se, mas impedi com as minhas rapidamente. O ato fora involuntário, mas vi um resquício de medo em seus olhos ao modo como a segurei. Mais uma vez quis saber o que teria acontecido com ela.

            — Não pode pegar com as mãos sujas... – esclareci soltando-lhe – Temos que lavá-las com a água, como nos filmes!

Ela assentiu. Tentei não falar-lhe depois, apenas derramei um pouco do álcool em suas mãos e depois nas minhas. Não poderia correr o risco de infeccionar o ferimento. Seria pior depois. Uma vez prontas respirei fundo preparada para jogar o liquido sobre o corte.

            — Está pronta Ana? – garanti-lhe.

            — Estou Tititi, como nos filmes... – pausou – Mas não vai doer?

            — Um pouco sim, mas não se preocupe... – dei-lhe um sorriso encorajador – Quando eu disser faça sua parte.

Ela assentiu. Em um instante derramei o liquido incolor.