Fanfic: Aconteceu no Verão (Terminada)

Naquela noite, porém,
estavam isolados do resto do mundo, por Bonnie, a tempestade tropical. Talvez
por causa disso, seus hor­mônios estavam ativos como
nunca estiveram nos últimos cinco anos. O efeito disso era um aumento
real de sensibilidade, como se a pele ganhasse novos sentidos, que a faziam
sentir-se mais viva do que nunca. Deu um passo na direção
dele.

Alfonso recuou.

-
Eu mal conheço você -
argumentou ele. - Quer dizer, não parece certo. Não
é
justo com você.

Justo? O que ele queria
dizer com aquilo? Anahí queria o corpo dele. Ali mesmo. Queria muito. Em sua
cartilha, aquilo era justo o bastante.

Mas não
falou em voz alta. Bastava a empatia que os dois corpos demonstravam um pelo
outro, dialogando sem necessida­de de palavras.

Já
não
acontecia o mesmo com o intelecto de cada um, sempre procurando argumentos para
não
se deixar levar pelos instintos do corpo, uma coisa simples e natural. A maior
parte das vezes ocorria o contrário, pois em vez de agir
baseado nos pensamentos, estes é que procuravam
justificar as ações. Parecia ser esse o conflito que ocorria com Alfonso.

-
O que eu gostaria de verdade era pedir seu telefone -
declarou ele. - Quero sair com você,
conhecer você melhor. Talvez possamos jantar juntos ou alguma
coisa parecida, o que acha?

Anahí viu que ele dava
de ombros, como se justificasse para si mesmo o que dissera, e não
conseguiu ficar irritada com Alfonso. Percebia-se que se tratava de um rapaz
decente, querendo fazer o que era certo; a despeito do que seu corpo obviamente
sentia no momento, a mente queria proceder de forma correta.

Como um espelho,
descobriu que a própria mente também dis­cutia o assunto
consigo mesma. A exemplo do que acontecia com Alfonso, seu cérebro
também tinha a intenção de colocar em dúvida,
porém dava a impressão de perder, pois viera
com esse intuito para a praia. Provavelmente, Anahí não
era do tipo que se satisfaria com um encontro apenas. Na verdade, não
sabia, pois jamais procedera dessa forma. Pelo contrário,
sempre reprimira a si mesma, deixan­do de aproveitar muita coisa, e agora
queria experimentar o reverso dessa moeda. Não sabia como iria
sentir-se no dia seguinte, depois de fazer amor com um estranho. Apesar de
tudo, não foi difícil dizer o que ele
queria escutar.

-
Está bem.

-
Que bom - concordou ele, aliviado.

-
Nesse caso, venha sentar ao meu lado e vamos conversar um pouco -
convidou ela.

Naquele instante, sentiu
que Anahí Séria ficaria melhor de fora, sem tomar parte em
seu comportamento, motivo pelo qual preferiu não colocar os óculos,
que faziam parte dessa personalidade con­trolada. Gostaria de permanecer Anahí
Sexy, e aproveitar toda a sensualidade da situação insólita
que partilhavam naquela bolha de espaço-tempo, que parecia
criada para testar os sentimentos de ambos. Mas queria manter o clima erótico
e inédito.

Mesmo que não
fizessem amor. Porque depois que saísse dali, passaria a ser
a dra. Portilla, e os encontros entre ambos seriam diferentes, mais controlados
e menos ousados. O comportamento seria mais social do que nunca e Alfonso não
mais a trataria como aquela garota que desejava levar para a cama. Manteria
distância, como faziam todos os outros homens que
conhecia, uma vez es­tabelecidas as barreiras sociais que a profissão
impunha.

Talvez fosse ela mesma a
fazer isso, como uma forma de defesa emocional. Mantendo a distância
do sexo oposto com os óculos, o estetoscópio e o avental branco.

Tinha consciência
de ter aprendido esse procedimento em seu estágio de residente.