Fanfic: Aconteceu no Verão (Terminada)

Nos hospitais, os médicos
julgavam que as enfermeiras e residentes eram como objetos sexuais para seu pró­prio
prazer, ainda que fossem casados ou comprometidos. Não
havia meio-termo possível, conforme ela descobrira nos primeiros dias.
Ou aceitava os convites e participava do jogo, servindo de diversão
e perdendo o respeito profissional, ou se colocava numa posição
de puritana, onde seria discriminada por não colaborar, mas poderia
conquistar o respeito profissional que desejava para si mesma, não
misturando prazeres ao exercício da profissão.

Pelo jeito, ele deveria
ter passado pelo mesmo problema.

Alfonso queria, acima de
tudo, acreditar que seria possível apenas conversar. Anahí
parecia suficientemente inocente. Baixando o cor­po para o chão,
ela cruzou as pernas e os tornozelos, e puxou sua camisa para os joelhos,
evitando assim que o tecido moldasse as formas tentadoras de seu corpo. Assim
preparada para uma ino­cente conversa, ela bateu com a palma da mão
no chão a seu lado, num convite para que ele fizesse o
mesmo.

O solo de concreto não
foi a coisa mais confortável que ele utilizara, mas esse aspecto tinha
seu lado benéfico, pois em vez de ajudar a sensualidade,
ajudava a manter a disciplina. Tratava-se de um terreno mais seguro, pois
aprendera desde cedo que o pro­gresso estava em utilizar a disciplina para
progredir regularmente, sem distrações pelo caminho. Era
mais fácil acordar cedo quando não
se dormia embaixo de vários cobertores.

Alfonso encostou os
joelhos no peito, deixando as pernas levemen­te abertas, para se acomodar
melhor, depois passou os dedos pelos cabelos. Qualquer pergunta podia iniciar a
conversa inocente que ele procurava.

-
Anahí tem um sobrenome?

-
Portilla - respondeu ela, sorrindo de forma encantadora. E
o seu?

-
Herrera. A proximidade dos corpos dava a impressão de produzir mais

calor, o que ele pôde
perceber por sentir que a temperatura aumen­tava em seu lado esquerdo, onde o
corpo dela quase tocava o seu. Não tinha a menor dúvida
sobre a compatibilidade dos dois, pois jamais sentira uma atração
tão
intensa por uma mulher, na praia ou fora dela. Até então,
o termo "amor à primeira vista" não
pas­sava de um conceito interessante, ou algo que os outros podiam
experimentar. Agora começava a admitir a possibilidade, como explicação
para a necessidade de ficar fisicamente perto de Anahí, uma pessoa que
conhecera há pouco mais de uma hora. Sentia que a conhecia há
muito tempo, talvez até de outras vidas, como diziam os esotéricos
para explicar essa sensação de familiaridade.

Ou co­mo queriam outros,
uma alma gêmea.

Mudou de posição,
desejando poder acomodar sua ereção, que começava
a não caber no interior do calção.
A posição, porém, não
permitia que tal movimento passasse em branco.

-
Há
quanto tempo é salva-vidas?

-
Há
seis anos - respondeu Alfonso.

-
Uau, isso é que é dedicação
-
comentou Anahí, arregalando os olhos azuis. - Sempre imaginei que ser
salva-vidas deve ser cansativo. É preciso estar alerta o
tempo inteiro. As pessoas con­tam com você para protegê-las.

Era como se fossem
palavras dele, e como se uma coisa esti­vesse ligada à
outra, sentiu um calor enorme na virilha, como uma nova onda de desejo. Se Anahí
tivesse mesmo sido enviada pelo destino para tentá-lo, estava realizando
um ótimo trabalho. Em todos os níveis.

Durante todo o tempo em
que trabalhara como salva-vidas muito poucas pessoas tinham idéia
do que significava realizar aquele tipo de trabalho, e quão
séria
e pesada podia ser a responsabilidade de um emprego como aquele. Tentara
externar aquela idéia algu­mas vezes, mas sentia que as pessoas se
prendiam ao fato de tra­balhar na praia como um divertimento, não
uma responsabilidade. Ali, no escritório dos salva-vidas, ao
lado de uma mulher, nua embaixo de sua camisa, e dona das pernas mais longas e
perfeitas que já vira, encontrara finalmente o reconhecimento.

E não
pretendia dormir com ela? Onde estaria sua cabeça? Por que ignorava
daquela forma um contato perturbador e delicioso?

-  Você teve uma impressão
correta. Também penso assim. Adoro meu trabalho, mas não
deixa de ser estressante a responsa­bilidade de cuidar de vidas humanas.

Anahí concordou com um
gesto de cabeça, como se ela também
sentisse o mesmo problema.

-
Já
salvou alguém de morrer? Ele sorriu antes de responder.

-
Além de você?

-  Claro, além de mim. Aliás,
você salvou minha vida, mas não
foi capaz de salvar meu sutiã.

Esse era um salvamento
que ele não fazia questão de realizar. Sentia-se
cada vez mais excitado pela forma como os mamilos pressionavam o tecido
molhado, aumentando sua atração física.

-
Confesso que, a não ser quando eu tinha dez anos de idade, na
piscina do clube, eu salvei o sutiã de Mary Lee McFinn,
minha colega ruiva, quando ela pulou do trampolim. Mas devolvi na hora, não
fiquei fazendo terrorismo.

-
Isso quer dizer que você é bonzinho mesmo -
admitiu ela.

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