Fanfic: Aconteceu no Verão (Terminada)

Esqueceu completamente a
motivação original quando perce­beu que não
conseguia mais tocar o pé na areia. Porém o contato com terra
firme não foi a única coisa que perdeu.

A parte superior do biquíni
fora arrancada pelo impacto.

Alfonso acabara de
erguer o cartaz de "Praia Interditada" e voltou a cabeça
para o mar, observando com atenção a superfície
das águas. Cerca de uma dúzia
de surfistas continuavam em plena atividade, exatamente para aproveitar o
tamanho das ondas pro­duzidas pela tempestade. Todos haviam sido avisados sobre
o pe­rigo que corriam, porém recusavam-se a sair.
Depois dessa esco­lha, não eram mais responsabilidade de Alfonso.
Obviamente não passava de uma teoria, pois se algum tivesse
risco de afogamento, o salva-vidas sabia muito bem que entraria na água
para tentar resgatá-lo. No momento, porém,
sua preocupação era de que hou­vesse um banhista incauto na água,
uma pessoa que não soubesse do aviso de interdição.

Parecia uma forma
espetacular de terminar seu período de seis anos como
chefe dos salva-vidas na praia de Acadia. A tempestade que se aproximava ao
longo da costa da Flórida era grande o su­ficiente para receber um
nome: Bonnie. Alfonso tinha a esperança de que não
se transformasse em furacão. Seria uma ótima oportuni­dade para
se retirar, pois não teria arrependimento algum. Sempre acreditara
na possibilidade de vacilar e voltar atrás, embora sua decisão
não
fosse emocional, mas o produto de muita reflexão sobre o que desejava
profissionalmente e em sua vida pessoal.

Sentia que era chegado o
momento de partir para outras opções, algo que lhe
permitisse progredir na medida de sua ambição.

Um relâmpago
cortou os céus, que para o sul estava escuro e plúmbeo,
em contraste com o azul límpido que ainda se encontrava sobre suas cabeças.

 O trovão não
demorou a soar, grave e profun­do, prenunciando um péssimo
tempo; até mesmo os surfistas te­riam de sair da água,
desejassem ou não, pensou Alfonso observando os que ainda
permaneciam. Contou as cabeças, para poder conferir,
mais tarde. Novo relâmpago iluminou as águas, e fez com que ele
se voltasse para oeste. Teve a impressão de distinguir um ponto
amarelado nas águas, elevado por uma grande onda que se forma­va.
Firmou a vista naquela direção e constatou que
realmente era uma cabeça loira acima da superfície.
Parecia uma mulher, a julgar pelos cabelos compridos, porém
não
havia como saber àquela dis­tância. Pela experiência,
teve a impressão de que a posição não
era normal, como se a pessoa estivesse desmaiada, ou a ponto de desmaiar.

Os reflexos falaram mais
alto, e imediatamente Alfonso se pôs em ação.
Observou as cercanias do ponto onde ainda mantinha a vista focalizada, e sem
tirar os olhos desse local correu para a água, calculando a distância
da praia, que não devia passar de trinta metros ou quarenta
metros da areia. Erguendo o máximo possível
a perna, com o pé acima da superfície, conseguiu correr na
água
rasa durante os primeiros dez metros, marcando bem a posição
a ser atingida. Agora conseguia distinguir melhor as feições,
e con­firmou tratar-se de uma mulher. Atirou-se pouco antes de uma onda,
passando por baixo dela e começando a nadar com braçadas
firmes e regulares.

O mar começava
a ficar agitado na superfície, pois o vento dobrara de intensidade nos últimos
minutos.

Ao atingir a banhista em
apuros, ele ficou aliviado ao deparar com os olhos verdes arregalados em sua
direção, pois significava que ela não
perdera os sentidos. Aproximou-se, fitando-a.

-
Está bem? Tem algum ferimento? Consegue mover-se?

Ela não
respondeu, mas tentou afastar-se dele, com a expressão
de quem estava em pânico, a boca aberta demais, o que poderia
implicar em que ela engolisse uma boa quantidade de água.
As rajadas de vento e espuma atiravam os cabelos longos sobre o rosto,
impedindo-a de enxergar direito e fazendo com que engo­lisse água
salgada da onda que passou por eles. A cabeça afundou.

Alfonso tomou fôlego
e mergulhou na direção dela, que retornava à
superfície, batendo pés e mãos
em movimentos exagerados. Pas­sou o braço direito pela cintura,
auxiliando-a a nadar para cima.

Naquela posição,
a cabeça ficava mais elevada quando atingiram a superfície.

A loira tossiu e
engasgou, indicando que, apesar de tudo, lutava para respirar.

-
Você vai indo bem. Continue assim. Estou aqui para
ajudar - apressou-se a afirmar o salva-vidas, numa
garantia de que ela não estava sozinha.

A mulher começou
a lutar contra ele, uma reação bastante co­mum para
pessoas entrando em pânico. Segundo a técnica correta, Alfonso subiu
o braço para apoiá-la mais acima, e assim
manter a cabeça dela fora da água, enquanto nadava; a
loira lutou contra ele e tentou afastar-se.

Porém
daquela vez foi ele quem se assustou, perdendo o fôlego
e quase largando-a ao sentir o contato em seu braço. Aquela mulher não
estava usando maio! Os seios macios e arredondados o per­turbaram por um
instante, depois disso os anos de treinamento e especialização
em salvamentos assumiram o controle de suas ações, ignorando o fato e
agindo antes que os dois submergissem juntos. Passou o braço
sob a axila direita da bela vítima, apoiando-a, ao
mesmo tempo que evitaria qualquer movimento que tolhesse os seus próprios.
Mesmo que a vítima entrasse em pânico, não
poderia atingi-lo, nem impedir que progredissem na direção
da praia. O outro braço cortava as águas, sincronizado com
as batidas das per­nas, em tesoura. Era possível sentir a força
da corrente, que au­mentava à medida que as rajadas
de vento da tempestade agitavam a superfície das águas.
Olhou para o lado, a fim de verificar se algum dos surfistas se encontrava próximo
o suficiente para ajudar, oferecendo a tábua como flutuador, porém
não
avistou mais nin­guém por perto.

Continuou nadando em
direção à praia, sentindo o
contato per­turbador em seu braço. Afinal, tratava-se de
pele molhada, não era nada de mais, pelo menos foi o que pensou,
concentrando-se em vencer a corrente com braçadas regulares.
Lembrou-se de um dos alunos que tivera, vítima de uma tentativa
proposital de sedução por parte de uma senhora, que arrancara a
parte superior do traje de banho e gritara por socorro, agarrando-se ao rapaz,
quando esse chegara perto, tomando-o de surpresa. Na ocasião,
havia outro salva-vidas a caminho, um fator providencial, pois na tentativa de
sedução por parte da mulher de meia-idade ela se
agarrara a ele de frente, impedindo-o de nadar, e deixando o jovem apavorado. O
colega conseguiu dominar a situação, mas tivera de gritar
com os dois para trazê-los de volta ao mundo real. Sempre contava essa
história como exemplo para seus alunos, quando
ministrava cur­sos. Invariavelmente, todos riam.

No momento, não
sentia a menor vontade de rir. Tentou con­vencer a si mesmo que o contato em
seu braço não seria diferente da
pele das costas, ou da barriga, e evitou olhar para ela.

 Evitou cuidadosamente a parte de seu cérebro
que assinalava a vontade de envolver com a mão os seios macios.

-
Calma, pode relaxar - disse ele, em voz alta, tanto para ela quanto
para si mesmo.