Fanfic: Aconteceu no Verão (Terminada)

Anahí sabia que a
tempestade, do lado de fora, só podia estar piorando à
medida que a tarde passava. Sabia também que devia estar se
dirigindo para casa, a fim de não preocupar nenhuma das
pessoas que sabiam de sua ida à praia, mas não
se importava nem um pouco. Estava aninhada nos braços
de Alfonso, colocara a camiseta para se proteger do frio, e uma sensação
dolorida mas agradável instalara-se entre as pernas.

Ele estava deitado de
costas, ao seu lado, os olhos postos no teto. Àquela altura as respirações
já
estavam num ritmo mais nor­mal, próximas ao relaxamento e não
mais ao exercício físico. Ela não
queria mais dormir, não apenas pelo sonho que tivera antes, como pela
realidade, que naquele caso era melhor do que qualquer sonho. Sentia-se
agradecida por ter seguido seus impulsos, que embora não
tenha sido como o que imaginara a princípio, revela­ra-se muito
melhor.

Precisamos pedir para
que as coisas aconteçam, porém nem sempre sabemos o
que é bom para nós, dizia sua mãe.
Afirmava que nossa imaginação é
limitada demais e muitas vezes não en­xergamos o que é
melhor para nós. Acabamos pedindo pouco, ou algo que seria
melhor não ter. Enquanto adolescente, sempre dis­cutira
esse ponto com ela, dizendo que nós é
que sabíamos o que queríamos. A mãe,
mais sábia, argumentava que se soubéssemos
o que era bom para nós, nenhum de nós, seres humanos,
sofreria. Afinal, quem queria sofrer?

Porém,
nem sempre pensamos em todas as possibilidades, e tampouco temos o conhecimento
de tudo o que acontece ao redor. Por exemplo, Anahí viera atrás
da realização de seu desejo na praia, mas tudo ocorrera de
forma completamente diversa do que ima­ginara a princípio.
Relembrando os acontecimentos da tarde, ela ficou contente por ter vindo, por
ter dado um passo na direção de realizar o que desejava. Mas também
ficou contente por não ter acontecido da forma como imaginou, a princípio.
Era preciso fle­xibilidade e desapego, para reconhecer a oportunidade certa. Em
vez de conseguir um companheiro para fazer amor físico uma úni­ca
vez, através do seu desejo conhecera alguém
que deveria fazer parte de sua vida.

A intensidade das emoções
dizia que não se tratava apenas de sexo, mas de um
sentimento muito mais profundo, do qual o re­lacionamento maravilhoso que
tiveram era apenas parte. Jamais teria imaginado o que ocorrera entre os dois,
naquela tarde, e muito menos as circunstâncias nas quais isso
acontecera.

Porém
o im­portante é que viera atrás de seu desejo,
tornando possível que ele fosse realizado daquela forma. Era
preciso perseguir nosso obje­tivo, prontos a agarrar a oportunidade certa, no
momento certo.

Não
era o que Alfonso pensava, olhando para o teto.

-
Me desculpe - disse ele.

Distraída,
Anahí buscou mentalmente, porém não
encontrou ne­nhum motivo para desculpá-lo; não
encontrou nada errado no com­portamento dele, pelo contrário.

-
Como assim, desculpe? Do que está falando, Alfonso?

-
Eu queria pedir desculpas por tudo o que aconteceu... quer dizer, não
é
bem isso - corrigiu-se ele. - É
por ter acontecido aqui, desse jeito. Você deve estar pensando que
sou mesmo um desajeitado. Alguém que não
consegue se controlar.

-
Escute Alfonso, em primeiro lugar, quero lembrar que você não
fez nada sozinho. Também participei, e quis que fosse assim

-
lembrou ela. - E se quer saber, estou cheia das pessoas con­troladas,
do tipo que só faz o que se espera delas.

-
Mas eu...

-
Se nós dois tivéssemos agido de acordo
com nossos padrões de comportamento, nada disso teria
acontecido. É isso o que está dizendo? Preferia se
comportar como os outros achariam decente e educado?

-
Não,
claro - disse ele, confuso.

-
Isso, pelo qual você pede desculpas, é
exatamente o que eu precisava. De alguém que não
se controlasse, de tanto desejo por mim. De alguém cujas emoções
fossem intensas, inesperadas. Te­nho vivido num mundo previsível
demais, ocupada em parecer o que não sou, o que imagino que
os outros queiram enxergar em mim.