Fanfic: Aconteceu no Verão (Terminada)

Naturalmente o espírito
de salva-vidas falou mais alto, assim como sua vocação
para tirar os outros de situações difíceis.
Fosse como fosse, se Anahí tivesse deliberadamente saído
para ir embora, teria deixado a tábua de surfe para que a
porta ficasse aberta?

 E por que desejaria a porta aberta se não
fosse para voltar?

A outra possibilidade,
porém, era que ela tivesse esbarrado na tábua
ao sair, e nem se tivesse dado conta disso, ou nem vira. Naquele caso, teria
ido direto para o carro, que ele não sabia em que parte do
estacionamento estava. Seria Anahí capaz de encontrar o carro sozinha? Seria
capaz de se manter na estrada, com aquele aguaceiro?

A decisão
que tomasse naquele instante poderia definir o resto de sua vida, pensou ele.
Olhou ao redor, procurando a lanterna que costumava ficar ali, na prateleira.
Aproximou-se, tateando, até co­locar a mão
sobre o plástico cilíndrico. Pressionou o botão
e nada aconteceu. Pelo peso, estava sem pilhas. Xingou, enquanto dava dois
passos para a gaveta ao lado da entrada, onde deveriam estar as pilhas, se
tivesse sorte.

Agradeceu em voz alta e
pediu desculpas pelo linguajar, quando encontrou as pilhas na gaveta. Respirou
fundo enquanto abria a tampa traseira e colocava as quatro pilhas no interior à
prova

d`água.
Pressionou o controle e um jato de luz se acendeu, claro e visível
ali no interior.

Passou o facho pelo
aposento, procurando qualquer indício de coisas dela, ou
alguma pista. Não se esquecera de que a tempestade estava
piorando, e as chances dela se perder aumentavam. Em um minuto já
concluíra, que à exceção
da tábua caída na entrada, tudo
continuava no lugar.

Alfonso suspirou,
resolvendo dar a volta à cabana com a lanterna, pelo lado de fora.
Serviria mais para ser visto do que para ver. A distância
até o estacionamento era maior do que quinhentos me­tros,
e com aquela chuva de vento, era difícil manter a direção
certa. Uma pessoa perdida poderia ir para qualquer lado, inclusive para o lado
do mar. Esse era o maior perigo.

Ele saiu e dirigiu o
facho para a praia, porém não varou nem dez metros
de céu líquido. Agitou em arco a
lanterna, como um sinal no céu, para que fosse vista
mais longe.

Alfonso começava
a ficar desesperado. O que acontecera, de re­pente, com sua despedida? A situação,
de prazer indescritível, se transformava, num piscar de olhos, em
filme barato de suspense. Para que lado teria ido Anahí?

Decidiu que o único
lado para o qual fazia sentido caminhar, era na direção
do estacionamento, a fim de tentar chegar ao carro de Anahí antes dela. Começou
a caminhar para lá.

Anahí sentiu que algo
lhe molhava os pés com uma temperatura mais elevada, e... Ondas!
Parou onde estava. Uma onda lhe atingiu as coxas, sem sombra de dúvida.
Estava entrando no mar!

Respirou fundo, tentando
controlar os nervos. Maldita covar­dia! Só porque não
quisera encarar a despedida com Alfonso, resol­vera fazer tudo sozinha. O
problema é que se perdera. Agora per­cebia que estava
entrando no mar. Precisava caminhar em sentido oposto.

Parada, determinou a
direção das ondas, e recuou em sentido contrário.
Uma vaga maior, a derrubou, porém, de forma que perdeu a
orientação e quase deixou cair a sacola. Ergueu a cabeça,
tossindo.

Naquele instante, viu o
sinal no céu. Em arco. Só podia ser Alfonso.
Ergueu-se e caminhou para lá, cada vez mais
depressa. Não demorou muito a sair do mar, pisando a areia
da praia, agora fria e macia ao toque. Maldisse outra vez o instante em que
dera seu cartão para ele. Sentiu que o salva-vidas mudara de
atitude em relação a ela desde que soubera que era médica.
Ou desde que colocara os óculos, não se lembrava qual;
talvez fosse a mesma coisa. Continuou a caminhar na direção
em que avistara o facho, prendendo a sacola sob o braço.
Os óculos estavam na capa, pois não
conseguia enxergar nada com os pingos batendo nas lentes. Só
podia confiar em seu instinto de direção para determinar o
local onde vira a luz.

Mais uma vez, divisou
bem à frente, e à direita, um facho de
luz entre as árvores que sombreavam o estacionamento. Gritou.

-
Alfonso! Estou aqui!

O mais certo é
que não fosse ouvida, por estar contra o vento.
Continuou a caminhar, sorrindo porque percebera que assumira o controle outra
vez. Mas não era Anahí Séria. Estava sem óculos.

Continuou caminhando
decidida, na direção da luz distante, entre as árvores.

Alfonso continuava mais
perdido do que nunca. Não tinha a menor idéia de onde estava Anahí,
nem encontrara o carro dela. Estava parado no estacionamento, pensando no que
fazer. Não pensou por muito tempo. O correto seria fazer
um reconhecimento com­pleto do estacionamento, para ver se encontrava o carro
dela. Des­de que saíra, não vira luzes de faróis,
e ao voltar para a cabana, estava próximo o suficiente para
perceber se um farol fosse aceso. Antes disso, a estrada não
estava liberada, portanto ela devia estar procurando o carro, e não
o teria achado ainda. A questão seria: Anahí era
esperta?