Fanfic: Aconteceu no Verão (Terminada)

 A qualquer momento cairia uma chuva violenta,
prenuncio da tem­pestade tropical que recebera o nome de Bonnie e já
deixara pes­soas desabrigadas em sua esteira. Mesmo caminhando depressa, sentia
os pés se enterrarem na areia, que já
esfriara. Esse era outro fator que deveria agradecer ao tempo, pois se
estivessem progre­dindo daquela forma num dia ensolarado, a praia estaria
repleta e a areia insuportavelmente quente, mesmo para quem saía
da água fria. Tudo parecia colaborar para que ele
agisse diferente daquela vez, em seu último dia. Ou seria um último
teste, ou uma última chance para aproveitar o que negara a si
mesmo até então.

A cabine do escritório
estava bem à frente deles. Alfonso abriu a porta e ambos
entraram. Ele se voltou para fechar a porta assim que se viram no interior.
Começou, então, a prova verdadeira,
quando tentou, com toda a sua força de vontade, não
olhar para ela.

Isso revelou-se impossível.

Parada à
frente dele, as mãos sobre os seios, Anahí tinha o corpo mais bem
feito que ele jamais contemplara. Pernas longas e bem-proporcionadas, quadris
firmes e estreitos, pele macia e uni­forme. Inclinava-se levemente para a
frente, com o cabelo com­prido colado ao ombro e ao colo, como um cobertor
molhado. As mãos cobriam os mamilos, mas não
conseguiam ocultar o arre­dondado dos seios, pressionado de uma forma lasciva
contra o corpo. Pela curva suave do ventre, escorriam gotas de água
salgada até a parte inferior do biquíni
vermelho.

O corte da pequena peça
era baixo, na medida exata para evitar que ele começasse
a uivar ali mesmo. Um exame mais acurado, entretanto, provou que a
possibilidade de perder o controle ainda existia, pois a peça
de tecido fino, enquanto molhada, aderia a todas as formas e reentrâncias
do corpo escultural, revelando pe­quenos detalhes da anatomia que aceleraram
bastante os batimen­tos cardíacos do salva-vidas.

Anahí parecia pouco à
vontade e com frio, conforme a pele ar­repiada em todo o corpo deixava
transparecer. Apesar disso, o rosto estava corado e a respiração
alterada; olhos bem abertos, as pupilas dilatadas e um brilho que indicava,
segundo Alfonso esperava, pelo menos parte da atração
que ele mesmo sentia.

Se não
fosse isso, com certeza seria o prenuncio de um estado de choque.

O que significava que
talvez fossem necessárias as técnicas de ressuscitação,
talvez respiração boca a boca. Nunca apreciara, des­de a época
em que aprendera, as piadas sobre a respiração boca a boca, que
tiravam a seriedade do risco de vida que a vítima estaria correndo.
As vezes em que tivera de aplicar na vida real foram de uma tensão
extrema. Tivera mais sucessos do que fracassos, porém
não
era muito fácil lidar com essa responsabilidade. Jamais ima­ginara
que estaria ansioso para aplicá-la alguma vez.

Anahí parecia querer
falar, porém os lábios não
se moviam. Alfonso só conseguia olhar para ela, observando o trajeto
dos pingos que caíam dos fios loiros e encharcados, escorrendo
pelo belo corpo, de acordo com as curvas encontradas. Ela apertava mais ainda
os seios, como se corressem o perigo de saltar diretamente para a boca
de Alfonso se os soltasse.     

Só
então ele se deu conta de que não
estava cumprindo seu papel, parado ali como um dois-de-paus, enquanto Anahí
morria de frio e vergonha.

Olhou ao redor.

-
Não
tenho camiseta aqui - anunciou ele. - Deixei a minha na
cadeira, lá fora...

Ela o observou como se
esperasse algo mais. Os olhos verdes capturaram a atenção
dele, como se o hipnotizassem. Com um suspiro profundo, Alfonso recuperou a
fala. 

-
Não
deve estar muito enxuta, a essa altura, mas eu vou buscá-la
para você - anunciou, girando nos
calcanhares e ganhando o exterior.

-  Obrigada - disse ela, ao mesmo
tempo que a porta se fechava.

O salva-vidas ficou
aliviado por sair para a tempestade que se iniciava. A força
dos pingos de chuva batendo em seu rosto teve a propriedade de trazer-lhe a
capacidade de raciocinar outra vez. Caminhou para sua cadeira elevada, sentindo
a força do vento ao subir os degraus. No alto, o hábito
de olhar para as águas da praia falou mais alto. Colocando a mão
como proteção sobre os olhos, verificou a zona de rebentação,
constatando que já não se viam surfistas
esperando ondas. Todos haviam ido para a praia, ou es­tavam a caminho. Ninguém
ficaria na água com uma tempestade daquelas. Sua parte
profissional relaxou. Não seria culpado de ne­gligência,
nem precisaria dar um ultimato aos nadadores. Apanhou a camiseta, já
molhada pelos pingos grossos, e retornou para o interior seco da cabine.

Anahí encontrava-se no
mesmo lugar, e Alfonso entregou-lhe a ca­miseta.

-  Obrigada - disse ela, tentando
enxergar melhor o rosto dele.

-
Acabei de me lembrar que deixei na praia minha bolsa, uma sacola de plástico,
amarela com bolinhas pretas.

Deixei uma toalha e um
sarongue dentro, além dos meus óculos.

O sarongue ao qual se
referia era uma peça transparente, que no caso seria inútil.
Porém, com a bolsa poderia colocar a toalha em volta
do corpo, os óculos no rosto, depois caminhar até
o carro e voltar para casa. Jamais colocaria outra vez os pés
naquela praia, naturalmente.

Talvez não
fosse necessário vestir a camiseta dele, que, embora não
estivesse encharcada, molhara ao início da chuva.