Fanfic: Smile like you mean it

 “E ai cara?

Como vai? 
Recebeu o arquivo do Joy division que eu te mandei?

Meu PC deu pau e perdi toda minha discografia e o
filme.

Minha filha quer me matar, sabe como é, a guria é loca
por eles. Falando nela, a Anna vai começar o curso de desenho. Soube que tu ta
dando aulas lá agora. Lidar com essa gurizada não deve ser fácil e eu vou te
dificultar mais ainda o trabalho .Pedi pra inscreverem ela no teu modulo.

Espero que ela não te de muito trabalho, Manda
noticias!

Pedro Alcântara ”

E foi assim que tudo
começou, com um ato tão banal quanto ligar o computador e ler um email de um
velho amigo com quem não falava á anos. Ele era vinte anos mais velhos que eu,
havíamos nos conhecido em um curso de desenho e apesar da diferença de idade e
dos anos em que não nos falávamos considerava ele um bom amigo. Ele me mandava
emails ocasionalmente, se encaixando perfeitamente no meu ideal de amigo,
aquele que divide gostos em comum mas não te chateia com baladas e bobagens.

Pedro também gostava do
nosso modelo de amizade, me escrevia de sua casa de classe média, no auge dos
43 anos, casado, com duas filhas. Manter contato dessa forma era tão útil pra
ela quanto pra mim, ele precisava se preocupar em me receber em sua casa ou em
ter a esposa reclamando de mais alguém que rouba seu tempo de ficar com a
família.

Pensei sinceramente se
daqui a vinte anos conseguiria tal façanha, uma vida estável, um casamento
feliz...

Acabei chegando à
conclusão que não. Minha rotina era intragável demais pra que outra pessoa
pudesse suportar, sempre os mesmos hábitos, 
as mesmas roupas....

Depois dos meus momentos
de conformismo respondi o email contando minhas banalidades, o termino com a
namorada,  a mudança para o novo
apartamento, até a morte do meu gato, que já tinha ocorrido a 6 meses mas
serviu pra encher as lacunas da minha falta de novidades, depois de terminado
disse que daria as boas vindas a sua filha no curso e que se ela puxasse ao pai
com certeza não me daria trabalho algum.

Instante depois de enviar
o email , me vi imaginando como seria a filha do Pedro, nunca havia visto a
menina na única ocasião que fui na sua casa ela havia saído com a mãe. Ele
sempre se orgulhou do fato dela ser a cara dele, acabei por imaginar ele de
peruca com roupas de menina. Ri um pouco e depois resolvi  dormir teria que dar aula no outro dia e mal
esperava para ver uma versão feminina do Pedro de 16 anos.

Cheguei ao curso cedo, e
como de costume fui comer alguma coisa na cafeteria do andar de baixo. Comi o
mesmo salgado de sempre, fui atendido pela mesma garçonete gordinha , tudo
permanecia igual, rotineiro, banal. Mas a ordem dos acontecimentos foi
repentinamente abalada, esqueci minha carteira em casa.

 Procurei em cada um dos meus bolsos e me vi
constrangido perante a caixa gorda, cuja cara lembrava a de uma bruxa de filme
infantil.

“Aqui ta o dinheiro pelo
salgado dele... Ahhh e me vê um desses chicletes aí...”

Disse uma menina enquanto
se atravessava na minha frente pagando minha conta.

Acabara ali a banalidade
da minha vida.