Alexandra riu quando o pequenino apertou as
bochechas de Blanca. Quem te viu e quem te vê. Antes não queria nem ver Dulce
pintada de ouro na sua frente, muito menos perto de seu filho, e agora estava
imaginando como seria ser avó de um filho dela? Nem ela estava acreditando
naquilo. Era difícil de acreditar. Mas não havia de outra... Não conseguia
refrear seus pensamentos. E todos eles agora estavam voltados pela curiosidade
de ser avó.

Agora já não há mais nada entre nós.

Subiu o olhar para Dulce que agora de pé, olhando para a comida que tinha na
mesa, escolhendo o que comer. As palavras dela ainda não saiam de sua mente.
Aquela cena ainda não saía de sua mente. Nunca na vida poderia imaginar que
duas pessoas poderiam albergar tanto amor uma para a outra... e aquilo a
desarmou. E Blanca estava certa, de duas pessoas que se amam com tanta
intensidade assim, deveria esperar de tudo. Pois casamento e filhos andam lado
a lado ao amor. Tinha que deixar Christopher seguir seu caminho. Se ele optar
por viver sua vida com Dulce a essa idade, o que ela tinha que fazer era estar
ao seu lado, pensar positivo e fazer de tudo para deixá-lo bem. O próprio
Christopher tinha consciência de sua idade, assim como Dulce, e se alguma coisa
tivesse que acontecer, com certeza acontecerá.

Bom... Que venha então, pensou Alexandra mais animada com a familiaridade de
todos.

Passou a mão na cabecinha de Enrico, quem ficou
olhando-a com os olhos arregalados, um pouco receoso. Alexandra passou os dedos
no rostinho dele, quem ficou vislumbrado com os anéis dela. Ela tirou um de
seus anéis e deu para ele brincar. Era estranho lidar com crianças. Tragou a
saliva. E se seu/sua neto(a) nascesse... Será que seria uma vovó coruja?
Franziu a testa, gargalhando sozinha...

Dulce: Sua mãe já está entrando no clima.

Christopher riu, mas não falou nada, estava com a boca cheia de bolo de
chocolate. Dulce passou a mão na cabeça dele, um pouco receosa, queria muito
que Alexandra se sentisse bem entre sua família, sabia que somente assim sua
mente se aliviaria das tensões, das desconfianças... Sentou-se ao lado de
Christopher, quem não parava de comer, e passou o braço pelos ombros dele, lhe
acariciando a nuca, ainda de olho na mãe de Christopher que brincava com
Enrico.

Dulce: Ela está gostando, não?

Ele assentiu, sem conseguir falar.

Dulce: Dá para mastigar mais rápido? Quero conversar contigo!
Chris: Agora não... (com a boca cheia)
Dulce: Christopher! (se desencostou dele de uma vez, olhando com irritação)

Christopher nem ao menos virou para ela, ao invés
disso, deu mais uma mordida no bolo. Dulce cruzou os braços com birra e
virou-se de lado, dando as costas para ele. E se encontrou com o rosto risonho
de sua irmã.

Claudia: E como foi o aniversário?
Dulce: Fiquei muito chateada porque você não foi... Ivalu me disse que lhe
chamou.
Claudia: Eu cheguei ontem de Tampico, você sabe, fui a um congresso...
Dulce: Não justifica! Esse povo não gosta mais de festa! Christian, Anahí e nem
Maite foram... os únicos que foram foi Poncho e, obviamente, Christopher, os
dois que não dispensam nem churrasquinho na esquina!

Christopher se assomou sobre o ombro dela e negou com a cabeça ainda com a boca
cheia de bolo, fazendo Claudia rir.

Dulce: É não, é? Já estou aqui pensando nas vezes em que eu terei que ir
buscá-lo na casa de alguém, bêbado.
Claudia: Eu com Rick é todo final de semana. E digo logo, o pior são as mulheres
em volta. Porque
não é toda vez que eu posso ir com ele...e também não posso proibi-lo de
sair.... aí cada vez que eu chego e vejo aquela cena... amigos rodeados de
piscina, mulheres e bebida...eu fico uma fera. Mas também só volto a falar com
ele quando está bom, e quando me prova que não teve nada com ninguém.
Dulce: Você não confia nele?

Claudia olhou para Christopher, quem por sinal estava virando-se para responder
algo a sua mãe. Chegou mais perto de Dulce e lhe disse baixinho.

Claudia: Eu confio desconfiando. Nenhuma mulher pode dar muita asinha a
homem... Quando ele voa pela primeira vez, para a segunda é muito mais fácil, e
assim por diante...
Dulce: Tem razão.

Claudia: Dul, no mundo em que a gente vive hoje em
dia não dá mais pra dar mole. Tem que estar todo tempo vigiando. E logo com
esses homens lindos do lado... Não! (negando com o dedo enquanto levava a taça
à boca) As mulheres hoje em dia não se respeitam mais. Se você quer seu
namorado, cuide bem dele... cuide mesmo, porque hoje o mato não está pra
cachorro.
Dulce: Eu já estou com medo... Imagina aí, Rick é lindo e gostoso,e tem
milhares de fãs, e a maioria delas dispostas a tudo com ele. O que você faria?

Claudia riu, e logo se colocou pensativa.

Claudia: Bom... (suspirou) eu colocava uma cerca elétrica em volta, de alta
tensão!

Dulce caiu na gargalhada.

Dulce: Eu tinha pensado em colocar arame farpado.
Claudia: não é mais eficiente do que a cerca elétrica.
Dulce: Realmente. (rindo) Clau, até minhas próprias amigas quando ainda não
sabiam sobre nós dois, me diziam que estavam dispostas a tudo com ele.
Claudia: Maninha, eu só dou um conselho... Se já aprendeu a como deixar um
homem de quatro por você, continue com essa receita... porque quando um homem
se encanta por outra, não tem macumba que dê jeito.

Dulce fez uma careta, coçando a nuca.

Dulce: Eu tenho medo, sabe? Christopher está levando nosso namoro muito, muito,
muito a sério. E se depois ele enjoar de mim?
Claudia: Toda pessoa hoje em dia está sujeita a isso. (suspirou olhando para
Christopher) Particularmente, eu acho isso muito difícil, esse homem é louco
por ti, mas... se isso um dia acontecer, se você ou ele enjoar a relação, há
várias maneiras de se tentar de novo. Nada é preto e branco, existem os meios
termos.

As duas suspiraram.

Claudia: O teu problema Dulce, é que você perde muito tempo pensando em
detalhes sem importância. (Dulce ergueu uma sobrancelha) Dul, você tem que
viver o presente! O futuro ainda não chegou, então deixa de paranóia besta e
vive hoje, faça o que você tem que fazer... se quer dar carinho, dê...se quer
dar amor, dê também... Pelo menos, um dia você vai poder encher a boca e dizer
que você fez tudo pela relação, e se ela der certo... ótimo, serão muito
felizes, mas se não... não foi por medo de tentar. O básico de cada relação é
isso. Compartilhar, respeitar e confiar. Se você acha que sua relação há esses
três fatores... pronto, você terá sucesso, e se há amor em jogo... sua relação
vai ser a melhor possível!
Dulce: Pensando assim... (colocou a franja de lado e cruzou uma perna sobre a
outra) Minha relação com Christopher ainda não está do todo estabilizada, e se
um de nós falharmos, creio que não haverá mais outra chance. Literalmente,
estamos entre a cruz e a espada.
Claudia: Entendo...
Blanca: Dulce!

Dulce olhou para sua mãe, quem a chamava aos gritos. Olhou de esguelha para
Alexandra que estava ao lado dela e franziu a testa dizendo mil e um
impropérios em
pensamentos. Por Deus, quando se acostumaria com a presença
da mãe de Christopher sem desconfiar dela? Aquilo estava lhe irritando. Não
queria sentir isso. Não queria estar distante, mas era inevitável. Infelizmente
o que Alexandra fez no passado ainda vivia na mente dela... e aquela mágoa
ainda persistia. E, sinceramente, não sabia se algum dia essa ferida se
cicatrizaria. Se não fosse por Christopher, talvez essa noite não estivesse
acontecendo Talvez não acontecesse nunca.

Chegou à frente das duas e puxou uma cadeira para
sentar-se no meio das duas. Evitava olhar para Alexandra, quem agora estava com
seu sobrinho no colo, muito sorridente. Poderia se dizer, bem alegre como nunca
havia visto! Será que já estava bêbada? Desviou o olhar para a taça vazia que
jazia em cima da mesa e assentiu de leve. Era bem provável. Mesmo assim, não
tinha dado tempo para isso, não fazia nem duas horas que haviam chegado. Sua
mãe também não parecia muito bem do todo. Agia com Alexandra como se já a
conhecesse desde muito tempo. Aquilo estava estranho. Olhou para uma e para
outra desconfiada. O que essas duas estavam tramando? O que estava acontecendo
ali? Por que a encaravam com essas caras sérias? Sobre o que estavam falando
antes? Estava ficando com medo. Virou o rosto para sua mãe, implorou com a
mirada para que lhe dissesse algo, mas Blanca não entendeu nada, ou não quis
dizer nada.

Dulce: Eu fiz algo de errado?

Olhou primeiro para Alexandra e logo depois para Blanca, e as duas continuavam
sérias, como se querendo que lhe dessem uma explicação de algo. Mas de que?

Dulce: Estão me deixando nervosa! (exclamou ela, se assustando ao não receber
nenhuma palavra)

Blanca suspirou e não conseguiu conter a risada, ao ver a filha tão nervosa.

Blanca: Do que você acha que estávamos conversando?

Dulce
apertou os olhos olhando para ela, tentando decifrar aquela atitude.

Dulce: Mãe... (tragou a saliva) o que a senhora andou dizendo?

Blanca sorriu para ela, e logo depois ficou séria. Dulce olhou para Alexandra
que estava com cara de poucos amigos.

Blanca: Eu contei tudo...
Dulce (surpresa): TUDO?
Blanca: Tudinho.

Dulce tragou a saliva, sem conseguir olhar para a mãe de Christopher. Levou uma
das mãos à boca e começou a roer a unha. Não sabia por que, mas estava com
tanto medo que sentia seu estômago se contrair a cada vez que respirava.