Christopher tragou a saliva com dificuldade e
suspirou passando a mão no cabelo, tomando o caminho para fora da casa. Blanca
estava atônita como todas ali, não sabia nem o que falar, ou como agir, fora
pega de surpresa. Lançou um olhar arrependido a Alexandra. De todas ali, era
ela quem tinha mais a perder, porque fora ela quem provocara aquilo há tempos
atrás. Mas mesmo assim não podia deixar de sentir raiva de Dulce, porque fora
quem provocara isso hoje. Se Dulce tivesse se comportado bem, nada disso teria
acontecido. E por mais que lhe doesse ver como Christopher sair de sua casa
naquele estado, estava achando muito bom. Estava na hora das duas aprenderem
que Christopher é um homem, e não um menino, no qual precisa de todos os
cuidados, no qual não pode tomar uma decisão por ele mesmo.

Será que se sorrisse agora, ela pareceria muito má? Bom, era melhor não sorrir.
Afinal, sabia muito bem que isso não duraria muito tempo. Pelo menos Dulce
estava fazendo a parte dela, que obviamente, era a de correr atrás dele para se
explicar. Soltou um sorrisinho enquanto a filha passava correndo na sua frente,
virou o olhar para Alexandra, quem estava arrasada e lhe asseou o braço
direito, em compreensão.

Blanca: Agora é ter paciência...nada mais que isso. Você fez o que estava ao
seu alcance, se arrependeu, pediu perdão... Não há mais nada para se
envergonhar ou se culpar.

Alexandra passou as mãos nos olhos, enxugando-os e fungou.

Alexandra: Nunca tinha me sentido tão mal na minha vida. Ele nunca mais vai me
perdoar.

Blanca sorriu-lhe sinceramente, como se estivesse zombando de si mesma por sua
experiência nessa mesma situação.

Blanca (sorrindo): Vai durar no máximo duas semanas.
Deixa ele em paz um pouco, não ligue, não o chame... Depois você inventa que
está doente, faz um charminho e promete que nunca mais vai fazer aquilo.
Pronto! Tudo volta a ser como antes e ainda até melhor. Depois desse meu
acidente, tudo aqui está uma beleza.

Alexandra ficou olhando para ela, surpresa pela tenacidade daquela mulher.
Blanca era vivida, e por isso acreditava em tudo o que ela dizia. Esboçou um
sorrisinho tímido e assentiu com a cabeça.

Blanca: Afinal, é seu único filho... e não vai deixar de ser nunca. Não é por
causa de uma briguinha que esse elo vai ser destruído. (se virou para o
corredor) Vamos lá para baixo, que estamos perdendo tempo aqui. (Alexandra
começou a caminhar do lado dela) Mais uma tacinha de vinho não faz mal a
ninguém...

Alexandra sorriu junto a ela.

Blanca: Já que não querem curtir o passeio, nós fazemos isso por eles, não é?
Alexandra: Bom... (tímida) Eu estou muito intrigada com esse lugar, é
encantador, de verdade.

Blanca sorriu enquanto desciam as escadas.

Blanca: Eu ainda não posso montar a cavalo, mas podemos fazer uma caminhada
relaxante por aqui.
Alexandra: Ainda está mal?
Blanca: O joelho ainda está fraco.

As duas chegaram ao pé da escada, ouvindo como Dulce
levantava a voz para se explicar com Christopher, quem estava totalmente
calado, não se ouvia nada mais que a vez de Dulce atropelando as palavras para
mais uma vez, mentir. Alexandra se perguntou porque Dulce não dizia logo a
verdade de uma vez por todas e acabava com as dúvidas de Christopher. Por que
Dulce teimava em não falar a verdade? Para protegê-la? Não! Óbvio que não! Mas
por que? Ah claro, sim, por ele. Por ele! Por ele amar demais sua mãe, para não
desestabilizar ainda mais a vida, para vê-lo feliz...

Blanca: Nem ouse ficar assim... (disse Blanca vendo que Alexandra começava a se
entristecer-se outra vez) Dulce está fazendo o que ela tem que fazer. Ela quem
provocou tudo isso...
Alexandra: Não, Blanca. Eu quem o provoquei.
Blanca: Não importa. Fique fria... mais uma briga ou não na vida desses dois
não faz diferença nenhuma. (falando como se não desse importância)
Alexandra: Mas...
Blanca (rindo): Deixe quieto, mulher. Acho que já aprendi um pouco desses dois.
Vai ser sempre assim, brigando, brigando e se reconciliando.
Alexandra: Mas fui eu...
Blanca (interrompendo-a): Dulce vai cuidar disso! Vamos para fora... (tomando a
mão dela)
Alexandra: Ele vai embora! (andando contra sua vontade)
Blanca: E daí? Deixe-o ir...
Alexandra: E se ele fizer alguma besteira?

Blanca: Faz não! Mas não mesmo, mulher de Deus...
(rindo) Com Claudia foi à mesma coisa, eu não gostava de Henrique para nada
antes, cismei com ele e ela um dia brigou comigo. Passou duas semanas sem falar
comigo... Tive um resfriado qualquer e disse que havia chegado minha hora...
(rindo e fazendo Alexandra rir também) passou um dia todinho chorando e me
pedindo desculpas. Tivemos uma conversa bem séria, e foi aí que vi como
Henrique era importante pra ela... (suspirou) No final, eu realmente estava
errada, e agora todos estamos bem. O que você e Dulce precisam agora é de um
tempo juntas. Vão ter que aprender a conversar... tem que tirar essa imagem que
ficou uma da outra. Foi isso que fiz com Henrique.
Alexandra: Ayy já não agüento mais remoer essa história! Só Deus sabe como
estou sofrendo por causa dela!
Blanca: Agora a batata quente está com Dulce... (rindo) e eu sei que ela vai
tirar de letra. Arranjou homem, não foi? Pois então que saiba lidar com ele!

Alexandra riu. E as duas se perderam na cozinha... enquanto a voz de Dulce
ainda soava pela sala.

Dulce puxou Christopher pela manga da camisa antes de ele entrar no carro.
Christopher virou-se para ela, medindo-a com o olhar, e pela primeira vez...
abriu a boca para falar.

Chris: Por tudo o que você mais quer na vida... Não
minta mais para mim. Já está muito claro o que minha mãe fez. E eu não sei o
que ela disse, nem sei ao menos o porque você me escondeu isso, mas não quero
saber disso agora. Não adianta você me pedir, implorar e até chorar. Eu não vou
mais permanecer aqui nem mais um minuto. (suspirou abrindo a porta do carro) Eu
não quero te ver agora... (bufou) nem mesmo escutar o que tem a me dizer...
Estou magoado por não ter me dito nada! E ainda mais por ter decidido assim tão
fácil se desfazer de mim, sem nem ao menos me questionar nada! (se contendo
para não levantar a voz) Você tomou sozinha uma decisão que também cabia a mim
decidir! (suspirando) Afinal, vai ser sempre assim não é! Só darei a última
palavra quando for um “Sim, Senhora!”.

Entrou no carro, fechou a porta, deixando Dulce do lado de fora, não sabendo se
ria ou se chorava.

Dulce: Não quero que saia assim... Vamos conversar primeiro!
Chris: Sim, vamos conversar... Mas hoje não. Não tem clima! Entende!

Christopher deu um pequeno tapa no volante fazendo com que Dulce se encostasse
na janela do carro, do lado do motorista com os braços cruzados na janela.

Dulce: Ok, eu entendo. (suspirando) Pra onde você vai?
Chris: Não sei. Mas pra casa que não é.

Dulce tragou a saliva, receosa.

Dulce: E vai para onde?
Chris: Qualquer lugar que esteja longe daqui.

Ela assentiu fingindo entender.

Dulce: Você... (olhou para baixo angustiada) Não vai me perdoar, não é?
Chris: Me deixa doente essa mania que você tem de tentar consertar as coisas
com mentiras. Se você ainda não se tocou, eu não sou um idiota Dulce. Eu sei o
que é melhor para mim, não preciso de babá cuidando de mim, nem me dizendo o
que eu tenho o que fazer. E isso o que a minha mãe fez... (tragou a saliva) foi
como uma traição!

Dulce subiu o olhar para ele, encarando-o, querendo sugar toda a decepção que
via em seus olhos.

Chris: Foi golpe baixo. Vocês armaram tudo nas minhas costas... e no final quem
sempre sofre? Óbvio que eu! Tudo isso porque ninguém me pergunta o que eu
quero! Ninguém se importa com a minha opinião.
Dulce: Não foi assim também, Christopher... Não seja radical.
Chris: Como não, Dulce? (virando-se para ela, especulativo) Por acaso quando
vocês duas decidiram acabar com nosso relacionamento... Você pelo menos pensou
eu como eu reagiria? Você pensou em mim? Você me poupou? Claro que não! Ninguém
pensou em mim... Agora
diga se é verdade?

Dulce franziu a testa olhando para ele, contrariada.

Dulce: Hey hey hey... Por que se refere “as duas decidiram”?
Chris: Você aceitou tudo o que ela disse sem pestanejar, não?

Dulce se calou. E Christopher sorriu, passou mãos no cabelo bagunçando-o e
virou novamente para ela.

Chris: A vida é engraçada... Em um minuto todos estamos felizes, em um segundo
toda essa felicidade escorre pelo ralo como se nunca tivesse existido...

Dulce
sentiu como se peito se comprimiu ao ouvir como ele suspirava fundo, olhando
para frente com os olhos entreabertos.

Dulce: Já faz muito tempo, cielo... (agarrando o braço dele dentro do carro)
Nós já sofremos o suficiente com essa história. E pode ter certeza, que a
última coisa que eu e sua mãe quisemos foi que você se machucasse. Apesar de
estar chateado conosco, você é o que mais amamos no mundo...

Christopher umedeceu os lábios com a língua, sem virar para Dulce, sentindo
como ela acariciava sua mão, elevando-a até colocá-la em cima da janela.
Christopher não evitou sorrir ironicamente...

Chris: Isso tudo é muita ironia...
Dulce: Já passou muito tempo. Nós dois mudamos, sua mãe também.
Chris: Se ela mudou Dulce, por que você também não deu uma chance a ela? Por
que na primeira oportunidade, você a criticou e descarregou toda essa raiva
contra ela? (virando-se para ela) Acho que falar é fácil, não...?

Dulce ficou calada, enquanto apertava a mão dele entre as suas.