Não deu mais para pensar quando ele sujeitou sua nuca e a pressionou contra ele, obrigando-a a se entregar ao beijo. Dulce relaxou e entreabriu os lábios, dando passo livre para que ele entrasse. Cruzou os braços no pescoço dele e se colou mais, fazendo grunhir, enlaçando-a pela cintura. Ela ladeou um pouco a cabeça absorvendo mais do beijo, sentindo como o corpo dele se pegava mais ao seu, sentindo como suas mãos deslizavam tão suavemente por debaixo de sua camisa que não conseguia evitar se arrepiar. E sabia que ele tinha o poder para deixá-la querer... em qualquer hora, em qualquer lugar.

Christopher deslizou a língua por seus lábios e pôs fim ao beijo, capturando rapidamente seu lábio inferior, para depois puxá-lo de uma vez. Ele sorria ao se afastar da boca dela. Dulce, que estava com os olhos semi-abertos, lhe devolveu o sorriso insinuante. O beijou mais uma vez na boca, tão rapidamente que ele não conseguiu contestar. Tirou seus sapatos, enquanto ele a fazia de um lado para se levantar. Também retirou seus sapatos e o cinto, pendurando-os ao lado de sua camisa, no respaldo da cadeira. Voltou-se para Dulce, que agora estava em pé mirando-o, e reprimiu um bocejo com a mão.

Dulce: Está cansado?

Ele assentiu, deixando-o o bocejo escapar.

Chris: Se o dia foi pesado, a noite foi o dobro. Estou esgotado, tanto fisicamente quanto psicologicamente. (caminhando de volta para a rede) Não tenho cabeça pra mais nada que não seja dormir e tentar esquecer algumas coisas...

Christopher sentou-se outra vez na rede, embolou a coberta que Dulce havia trazido e se projetou para trás, caindo deitado sobre a rede, sem antes grunhir ao estirar suas pernas, rígidas pelo cansados.

Dulce ficou mirando-o com um pouco de frustração. Depois do beijo intenso que se deram, ela achou que ele estaria com vontade... Pelo que parecia, não era verdade. Estava estirado na rede, com a coberta do lado do rosto, quase adormecido. Não era justo ele incitá-la com beijos e caricias, para logo depois deitar-se como se não tivesse ocorrido nada.

Suspirou...

Ultimamente vinha se sentindo muito estranha. Não sabia o que era, mas a cada vez que ouvia a voz de Christopher, ou simplesmente o via... sentia como seu coração disparava de uma maneira não muito racional. O via de roupa, e nada mais, já queria arrancar tudo de cima dele. Quando estavam uns minutos a sós, lembrava de como ele a possuiu um quando chegaram daquele “mini-sequestro”. Esse mês que havia passado longe dele, obviamente era o culpado para esse insaciável desejo ressurgir com força total dentro dela. E aquilo a assustava. A assustava desmedidamente. Sempre havia desejado a Christopher, senão fora assim, não teria se insinuado para ele em Vegas. Mas por que ao invés de diminuir com o tempo, esse desejo insano só fazia aumentar mais ainda? Não podia entender um sentimento assim. Suspirou resignada e decidida a dormir. Seria como ele queria... como na maioria das vezes.

Caminhou até a rede e deitou-se devagar, ele se afastou para dar-lhe espaço, sem nem ao menos abrir os olhos e aconchegou a cabeça dela no espaço entre seu queixo e o ombro. Dulce passou a mão pela barriga dele, e respirou fundo, tentando serenar-se. Fechou os olhos... Queria dormir. Suspirou, relaxando-se... em vão. Suas costas estavam quase fora da rede, se mexeu mais um pouquinho, se pegando mais a ele. Parou por um momento e suspirou querendo apagar... tentou subir a outra mão, para aninhá-la no perfil dele... mas nada. Estava impossível movê-la. Puxou-a outra vez e sentiu que estava presa em algo. Abriu os olhos e suspirou com irritação, uma de suas pulseiras havia se prendido a rede. Puxou a mão outra vez e nada. Puxou mais duas vezes e nada, e quando estava perdendo a paciência, meteu sua outra mão por debaixo...

Chris: Por que está se mexendo tanto? Não consegue dormir?

A voz sonolenta dele a sobressaltou.

Dulce: Minha mão está presa...

E imediatamente, ele levou a mão dele para a sua que estava presa e deu um puxão, livrando-a. Novamente ele suspirou e voltou a cabeça para o outro lado, esperando adormecer ligeiro.

Ela suspirou de olhos abertos, enquanto o silêncio misturado com os cantos dos grilos lhe afetavam a audição. Não conseguia dormir porque estava totalmente sem sono algum. A respiração tranqüila de Christopher já era perceptível, e ela se deu conta de que ele já estava dormindo. E se pôs a pensar em Alexandra... Em tudo o que ela fizera contra os dois. Em todo sofrimento, em todas as lágrimas derramadas ou não, em todas as brigas, em todas as palavras que feriram... e não podia se conformar com aquilo, não podia se conformar que a causadora de tudo isso estava em sua casa, rindo e bebendo com sua mãe, como ela vira quando fora buscar a rede e a coberta. Parecia que nada havia acontecido, as duas conversavam como se aquele fosse o dia mais divertido de suas vidas. E sentia raiva por isso. E sentia muito mais raiva ao saber que tudo fora fruto de uma mentira. Todo o sofrimento, todas as lágrimas foram em vão. Alexandra criara a discórdia e a desconfiança entre eles. E Dulce hoje, com toda a experiência que tinha, acreditava que foi Alexandra, por meio de alguma magia negra, quem a empurrou naquele dia, quando saíra com Aaron. Por mais que isso fosse um absurdo, não duvidava mais de nada em si tratando daquela mulher.

E se pudesse qualificar os danos causados a sua relação com Christopher depois que Alexandra saíra de sua casa naquele dia, os faria exatamente nessa ordem:

1º: Terminou com Christopher, primeiro pelo motivo que não podia chegar a corresponder a seu sentimento. E como ele relutou contra esse motivo, para tirá-lo de cima foi obrigada a apelar, lhe dissera que estava apaixonada por outro. Fazendo assim Christopher acreditar que era por Aaron, quem havia deixado claro para todos, na festa da emissora, que estava interessado por sua velha amiga. E isso somente aumentou as apostas de Christopher nele.
2º: O beijo, obviamente, não teria acontecido se ainda estivesse com Christopher naquela época. E o porquê de não estar com ele naquela época era óbvio, mais uma vez Alexandra surgia em cena.

3º: Depois do beijo, nunca mais a confiança de Christopher em Dulce fora a mesma, o que os levara a acabar o relacionamento uma segunda vez, de uma forma um tanto brusca e dolorosa para os dois. E se na primeira vez os dois sofreram muito com a “distância”, na segunda foi ainda muito pior, o sofrimento era tanto que acarretou em muitas conseqüências. Dulce havia voltado a fumar numa proporção duas vezes maior do que antes. Baixara no hospital quatro vezes por problemas na garganta e no pulmão. Perdera peso, quase ficara anêmica, e uma vez, quase desmaiara em cima do palco. O pior de tudo, era quase ter tido sexo com homens que nem sequer sabia de onde tinham saído ou vindo. E tudo isso para esquecê-lo. E tudo isso para vingar-se. E tudo isso para se convencer de que não o amava, para se convencer de que não estaria por baixo enquanto há uma hora atrás o havia visto entrar em seu quarto com uma mulher qualquer, onde seguramente passariam a noite juntos, trocando apaixonadas carícias em troca de um prazer furtivo. E em tudo o que pensava quando estava nos braços desses homens era: “Se ele está fazendo, por que eu também não posso”. Felizmente, mesmo bêbada, havia raciocinado e voltado atrás. Não podia ir até o final. O porquê disso ela sabia muito bem. Era Christopher. Era a verdade de uma frase que ele lhe disse enquanto a possuía depois da briga na noite da festa da emissora...

“Você é minha...e não será de mais ninguém...”

Era como se toda a excitação do momento evaporasse como em um passe de mágica. Era como se pudesse ainda ouvi-lo proferir essas palavras em seu ouvido, para justamente não deixá-la cometer um erro, que com certeza ela se arrependeria amargamente depois. Não sabia como explicar tal fenômeno, mas era nesse tipo de situação que acreditava mais ainda no amor que sentia por ele. Christopher era o dono do seu corpo e de seu coração...

Suspirou fundo, aninhando-se mais no peito dele, sentindo seu cheiro e lembrando das noites que passara em claro agonizando pela sua ausência. Beijou-lhe o perfil e sorriu. Estavam juntos mais uma vez. E não queria mais que nada e nem ninguém os separasse. Tinham que buscar a “fórmula do relacionamento estável” onde quer que estivesse, e persistir na busca até dar com a mesma. Precisavam caminhar juntos na mesma direção com respeito, amor e fidelidade. E até se animava com a idéia de casamento, mas obviamente, somente depois de encontrar a tão sonhada estabilidade. E para isso, Christopher teria que estar cem por cento. E, obviamente, isso implicaria em que ele perdoasse Alexandra, e que ela própria, Dulce, também fizesse o mesmo e desse mais uma chance a sogra. Dulce somente se perguntava se realmente tinha o valor para fazê-lo... Seria difícil depositar sua confiança numa pessoa que lhe causou tanto dano. Mas, sem nem pestanejar, se isso fosse fazer Christopher feliz realmente... tragaria toda essa mágoa que guardava dentro de si e daria outra chance a Alexandra. Sim, ela o faria, nunca mais queria passar na vida o que passara hoje. Teve que aprender da pior forma possível, e dessa vez faria tudo o que se propôs desde sempre. E com certeza amanhã os aguardaria muitas outras emoções...

Dulce quando fechou os olhos, finalmente adormecendo, rogou a Deus que o “amanhã” fosse melhor do que o “hoje”.

 “Mário...temos que anotar tudo o que está faltando antes do entardecer. Don Fernando vai segunda-feira mandar comprar tudo.”

O barulho que se fazia lá embaixo despertara Dulce de uma vez assustada. E com os olhos semi-abertos estranhava o lugar onde estava. Estranhava o cheiro. Estranhava as cores. Havia demorado a dormir como sempre, mas quando agarrara o sono, dormira feito uma pedra.

Coçou os olhos tentando lembrar-se de onde estava e do que havia feito no dia anterior. E deparar-se com a realidade dos fatos, não era uma coisa muito grata para se começar o dia. Bocejou tendo escutando como uns homens saíam a cavalo, ouvindo como eles fofocavam entre si que patroinha famosa se encontrava na fazenda. E isso a fez sorrir... Se eles soubessem que a “patroinha” famosa estava dormindo com seu namorado famoso bem acima deles. E agradeceu em silêncio por eles terem ido embora. Se a tivessem pilhado ali, a taxariam de louca... Por Deus! Quem em gozo pleno de suas faculdades mentais trocaria uma casa enorme e cheia de luxos, para dormir em um espaço empoeirado acima dos animais em um celeiro? Suspirou... Seria muito pior se ela tivesse feito amor com Christopher na noite anterior. Se os tivessem pilhado em panos íntimos, seria um desastre...

Sorriu um pouco ao notar a presença dele ao seu lado. Estavam ao contrário agora. Dulce fora dormir em seus braços, e acordara com ele nos braços, aninhando a cabeça em seu colo, com a testa na altura de seu nariz. O beijou suavemente no meio das sobrancelhas, enquanto baixava o olhar para vê-lo dormir. Os lábios separados, deixando entrever um pouco os dentes superiores, o ressono tranqüilo de quem dormia placidamente, as pernas entrelaçadas nas suas, assim como uma das mãos repousava tranquilamente sobre sua barriga. A Dulce lhe encantava dormir e amanhecer assim, bem juntinho. Pensava ela que eram nesses pequenos detalhes que achava a força para lutar por esse relacionamento. Era em cada ressono, em cada suspiro, a cada batida de seu coração... que encontrava a fé de que tudo aquilo valia a pena lutar para vivenciar. Era como se ali, naquele instante estivesse cem por cento protegida contra tudo e todos. Fazendo-a sentir-se mais viva e mais feliz a cada amanhecer, sentindo que a cada respiração, ele era mais seu... e que isso perduraria por muito tempo.