Levantou-se com cuidado para não acordá-lo. Ficou de pé e espreguiçou-se languidamente, esticando os músculos, ouvindo como algumas de suas juntas estalavam, fazendo-a arrepiar-se pela boa sensação. Olhou mais a frente, onde havia uma fresta de luz e supôs que ainda era muito cedo, talvez nem sete horas da manhã fosse ainda. Coçou os olhos, limpando-os um pouco e virou-se para Christopher em meio a um bocejo. Sentia como sua perna formigava e ficou um pouco parada observando-o dormir, com uma dúvida na cabeça. Tinha que ir em casa, obviamente, precisava ir ao banheiro e não atreveria a usar o que tinha ao seu lado. Mas e se Christopher acordasse e fosse embora? Estava com medo. Era o mais provável dele fazer, já que não queria topar-se com sua “mamãezinha” na primeira oportunidade que tivesse. Até ela achava que era muito cedo um reencontro entre os dois. Mas mesmo assim não queria que ele fosse embora.

Não queria ir embora, e nem muito menos que ele fosse, pois se ele quisesse ir realmente, não pensaria duas vezes, iria com ele. Repetiu o pensamento da noite anterior: Sem ele ali, não tinha graça nenhuma.

A bexiga estava apertando cada vez mais, e ela se desesperando cada vez mais por não saber o que fazer. Se Christopher fugisse enquanto ela estava em casa? Não, ele não poderia deixá-la sozinha.... De jeito nenhum ela não ficaria sozinha com Alexandra. E decidiu que ela e Christopher aproveitariam o final de semana, desviando-se do caminho de Alexandra o quanto pudessem. Não sabia o que fazer quanto a isso, o único que sabia agora era se não saísse dali imediatamente, corria sério risco de molhar as calças. E em um impulso desesperado, enfiou as chaves do carro no bolso e pegou a carteira de Christopher, calçou imediatamente os sapatos e desceu a escada de dois em dois degraus.

Estacionou o carro de Christopher do lado da piscina e desceu quase correndo dele. E quando subiu um degrau da pequena escadinha que dava acesso à varanda, avistou Alexandra sentada mais a frente com as pernas cruzadas, enquanto tomava seu cafezinho matinal. Dulce continuou caminhando para a porta da cozinha, e isso implicava em passar na frente dela. A olhou de soslaio, notando as tranças perfeitamente bem-feitas, caindo-lhe por um de seus ombros e os óculos escuro enorme lhe cobrindo os olhos claros. Mas o que mais lhe chamou a atenção foram suas roupas. Nunca havia visto a mãe de Christopher vestida daquela forma, tão informal. Um short frouxo de malha de cor cinza claro com uma camisetinha justa a jogo. As pernas brancas nuas a luz do sol, e nos pés uma chinelinha japonesa de cor branca.

Desviou o olhar e seguiu em frente, a poucos passos de onde estava. Tragou a saliva ao perceber que ela notou sua presença e apertou mais o passo.

Alexandra sentiu como seu coração deu um salto quando avistou Dulce. Christopher não havia ido embora! Estava tão angustiada que havia apenas cochilado a noite inteira preocupada com ele. Mas agora estava tranqüila, se Dulce estava chegando era porque não haviam saído. Era um bom sinal Dulce ter passado a noite com ele. Talvez ela pudesse tê-lo acalmado e o dissuadido de perdoá-la... Quase riu de seus sonhos. Sabia que isso não aconteceria tão cedo. Bom, que pelo menos ela pudesse tê-lo dissuadido em somente aceitar conversar com ela de uma vez por todas. Suspirou... Doce ilusão, Dulce já vinha com a cara amarrada pra cima dela, aquilo era um sinal ruim, na verdade, péssimo. Talvez os dois tivessem passado a noite esculachando-a mais ainda. Ou até planejando como iriam matá-la de suas vidas. Mas, era seu coração de mãe que estava sofrendo, e tinha que lhe falar, tinha que perguntar, tinha que saber como ele estava, nem que para isso tivesse que se humilhar, deixando seu orgulho de lado.

Houve uma vibração entre as duas, quando Dulce passou por Alexandra, e ao mesmo tempo as duas franziram a testa se perguntando o porquê daquilo. Alexandra subiu o rosto para Dulce, que nem ao menos a olhou, nem muito menos a cumprimentou, e sabia que mesmo assim não poderia deixar essa oportunidade passar.

Alexandra: Ele está bem?

Dulce parou imediatamente, não dando muito crédito à irritação que surgia em seu interior ao ouvir a voz dela, e mesmo de costas, não conseguiu evitar lhe responder com sarcasmo.

Dulce: O que a senhora considera bem?
Alexandra: Você poderia pelo menos olhar para mim quando falar...? (perguntou ela desgostosa de sua postura)
Dulce: Não pretendo ficar aqui lhe escutando, então para não me mexer de graça, prefiro ficar assim.
Alexandra: Ok, como quiser... (bufando contrariada) só acho que dar as costas a uma pessoa quando esta lhe fala, além de ser uma falta de educação, é uma tremenda falta de respeito...

Dulce se voltou para ela com uma risada cínica no rosto.

Dulce: Respeito? Quem é a senhora para falar de respeito?

Alexandra quase riu. Dulce havia mordido a isca. Sabia que atiçando-a, ela lhe daria a atenção que precisava, mesmo se essa atenção viesse em forma de irritação e de mais briga. Mas como havia prometido, seria o mais serena e passiva possível.

Alexandra: Eu posso ter sido a pior pessoa do mundo quando fiz aquilo, mas o que fiz foi pensando no bem dele...

Dulce sorriu com sarcasmo.

Dulce: O bem? Nossa, não faça o mal nunca, por favor... (riu ironicamente, enquanto Alexandra se acuava ofendida) Por Deus! A Senhora não tem a mais mínima idéia do que nos fez sofrer ao praticar sua habilidade como missionária tentando fazer o bem para a humanidade.

Alexandra quase riu daquilo, mas se conteve ao imaginar tudo o que os dois passaram.

Dulce: O pior de tudo... Era tudo mentira! Me fez acreditar em uma mentira!

Alexandra arregalou os olhos, havia sido descoberta, o que agravava mais ainda sua situação.

Dulce: Agora eu lhe pergunto... Por que inventou que eu quase tinha arruinado a vida de Christopher? Por que me fez acreditar que por causa de mim ele sofreu horrores? E por todos os santos, por que me fez acreditar que nos mantendo afastados seríamos felizes? Tem noção do que sua “mentira” nos causou? (Alexandra negou com a cabeça, absorvida mais uma vez no mar da culpabilidade) Afirmou que seu próprio filho tinha problemas psicológicos para única e exclusivamente agradar a seu ego! E a Senhora teve respeito por ele? Teve respeito por mim quando quase me chamou de vagabunda para todo mundo ver na televisão? (bufando de ódio) E ainda me pede respeito? Faça-me o favor!
Alexandra: Ok, não foi a palavra certa a se dizer, mas eu queria que me escutasse... Eu estou sofrendo... (olhando-a com súplica)

Dulce gargalhou com ironia, fazendo com que Alexandra se calasse.

Dulce: A Senhora pelo menos pensou em nosso sofrimento quando fez aquilo? (A mãe de Christopher tragou a saliva nervosa) Então por que iria me importar com o seu sofrimento? (suspirou) Não sabe o que me causou...não sabe nada sobre nós dois e agora é tarde demais. A Senhora nunca mais vai me fazer sofrer, porque eu não vou permitir. Já basta tudo o que já fez no passado... Depois que terminei com Christopher, eu voltei a fumar. Não agüentava ter que estar com ele e não poder tocá-lo, olhar pra ele todos os dias e ter que se deparar com o desprezo nos olhos dele, aquilo me matava aos poucos. Não tem idéia de como era ter estímulo para sair do quarto pra agüentar mais um dia que ele me humilharia com suas atitudes, e que muito pior, nem olharia para mim... nem muito menos para brigar. Era como se eu não existisse. (suspirou) E tudo isso foi por culpa daquele dia! Daquele maldito dia e das conseqüências dele!
Alexandra: Dulce tente me entender...você um dia será mãe e..

Dulce então cruzou os braços abaixo dos seios e a fuzilou com a mirada.

Dulce: Por isso mesmo quando eu tiver meus filhos irei ouvi-los, vou procurar saber se realmente é isso que eles querem para vida deles... Afinal, Deus deu uma vida a cada um justamente para nos próprios tomarmos conta dela, e não nossas mães...
Alexandra: Você tem razão...

Dulce sentiu uma pontada na bexiga e cruzou as pernas.

Alexandra: Se naquele dia eu tivesse visto esse amor que eu vejo nos teus olhos agora, jamais o teria feito..
Dulce: Pois saiba que não o amava menos. Só não sabia o tanto. (acalmando a voz) Enfim, não se pode medir o amor. Hoje eu tenho plena certeza de que o amo e de que quero uma vida com ele, mas sinceramente ainda não vejo motivo plausível para se tomar a decisão de separar seu próprio filho da mulher que ele ama. (Alexandra ia abrir a boca para falar, mas Dulce a impediu) Porque ele sim tinha certeza de que me amava naquela época... E a Senhora não lhe deu a chance de escolher o seu próprio caminho.

Alexandra, quem acabava de pôr a xícara de café em cima da mesinha, afetou-se com as palavras de Dulce. E a dor era tão grande que seus olhos rapidamente se inundaram, enquanto sua respiração se descompassava ao ritmo de sua angústia e arrependimento.

Alexandra: Você tem razão... Eu...eu não mereço o seu perdão...

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Galera + sexta depois das 5h!!

Provavelmente irei postar a entrevista quarta q vem!!

Então não percam!!

Bjão!