Podia jurar que ouvira vozes, que não era a dele e nem muito menos de Dulce, suas bocas estavam muito ocupadas para falar alguma coisa.

Dulce: Não ouvi nada...

E o puxou para si outra vez. Christopher se estremeceu ao ouvir como algo caíra e se separou de Dulce de uma vez. Levantou-se e passou as mãos pelo cabelo, sentindo uma angústia nunca sentida antes. Sentindo que algo estava errado, e o pior, fosse o que fosse que estivesse acontecendo, não era nada bom.

Chris: Fique aqui!

Sussurrou para Dulce, quem ainda estava deitada na cama somente de calcinha, sem ainda entender nada, mas mesmo assim o obedeceu. Christopher voltou a vestir o short, e olhou ao redor em busca de algo que pudesse acertar a um possível ladrão. Pegou um bastão de beisebol, pendurado na parede e virou-se para a porta. Colocou a mão na maçaneta e a girou tentando fazer o mínimo barulho possível. Abriu a porta e saiu vendo pela escuridão que não havia ninguém ali. Suspirou, talvez tivesse sido somente uma impressão. Por inércia achou melhor se certificar de que Elena estava bem. Caminhou até o quarto da pequena e se assustou ao ver como a porta estava aberta. Mas como? Se fora ele mesmo quem a fechara. Entrou desconfiado e tragou a saliva ao ver a caminha de sua filha bagunçada e como não havia ninguém ali. Apertou o bastão entre seus dedos, sentindo que um turbilhão de sentimentos tomava conta dele. Correu para o banheiro, mas não havia ninguém. Ligou todas as luzes do quarto, mas não conseguiu encontrar a menina.

Chris: Elena, onde está, meu amor?

Ele correu pelo corredor supondo que a menina tinha descido as escadas sozinha e que estivesse no andar debaixo. A procurou na cozinha, na sala, nos outros cômodos...

Dulce: CHRISTOPHER!

Ele ao ouvir o grito desesperado de Dulce, correu ao seu encontro, subindo as escadas de três em três degraus. Chegou à porta do quarto de Elena, ofegando pelo esforço, quando viu Dulce com uma caixa de chocolate nas mãos em forma de ursinho.

Dulce: AQUELA BRUXA LEVOU A MINHA FILHA! (gritava ela desesperada)

Christopher caminhou até ela sem entender nada, enquanto Dulce se desmanchava em lágrimas. Pegou a caixa de chocolate das mãos de Dulce e a abriu, não havia nenhum chocolate ali, mas sim um bilhete...

“Sua filha será, tudo o que você não quis ser...”

Dulce: Christopher! Se acalma! (passando as mãos nos braços dele)
Chris: Como quer que eu me acalme?! Ela roubou nossa filha, Dulce! (gritando) Eu morro se acontecer alguma coisa com ela... (fazendo cara de choro) Eu morro!

Dulce se afastou ao ouvir isso. Filha? Morre? Onde? Quando? Olhou para sua barriga, levantou a blusa. Não, filha ali não tinha. Voltou o olhar para Christopher. Que merda, ele estava sonhando outra vez com filhos outra vez?! Suspirou, balançando a cabeça negativamente.

Dulce: Acorda bebê! (empurrando-o devagarzinho)
Chris: Minha princesa...

Dulce arregalou os olhos ao ver como ele deixava uma lágrima escorrer por seu rosto. Christopher estava chorando. Estava chocada com aquilo. Começou a empurrá-lo com mais força.

Dulce: CHRISTOPHER!

Então ele abriu os olhos de uma vez, com a respiração ofegante e os olhos arregalados. Viu Dulce a sua frente com a testa franzida, meio atontada ainda com tudo.

Dulce: Pesadelo?
Chris: Sim...(passando a mão no rosto)

Ele sentou-se na rede, olhando para os lados tentando lembrar-se do que houvera na noite anterior. E recebeu a lembrança do que sua mãe fez com um gosto amargo na boca. Coçou os olhos enquanto colocava as pernas para fora da rede. E se assustou ao sentir a umidade dos mesmos nas pontas de seus dedos. Aquela umidade não era a umidade normal que tinha ao acordar... Retirou as mãos do rosto e olhou para Dulce, quem o olhava com a expressão totalmente preocupada.

Dulce: Não gosto dos seus pesadelos...
Chris: Nem eu...(colocando as pernas para fora da rede)
Dulce: Você estava chorando... (estendendo uma mão para pousá-la no cabelo dele, que estava armado e rebelde após uma noite de sono)

Ela carinhosamente foi acariciando os cabelos dele, mais bem, penteando-os, fazendo com que ele suspirasse.

Dulce: Você só pode ter sonhado com algo muito ruim pra ter chorado.
Chris: É verdade... (sorriu ele)

Os dois fizeram silêncio por algum tempo. Christopher levantou-se e espreguiçou-se, sob o olhar dela, quem agora pensava na situação de Christopher e sua mãe, além do mais, ainda estava abalada com o pesadelo dele. Não podia mentir, estava curiosa. Um pequeno sorriso se configurou em seu rosto ao pensar que pelo menos ela, Dulce, era a mãe de sua filha. Então uma dúvida assombrou sua mente, por que todas as vezes que Christopher sonhava com a filha, sempre acabava algo mal? Franziu a testa, sumida em pensamentos enquanto se levantava e se encostava na mesa, sem nem perceber como ele calçava os sapatos e entrava naquele banheiro, contíguo ao quarto. Não gostava desses “sonhos” de Christopher, por mais que não soubesse exatamente o que aconteciam neles. Ouvir-lhe falar desse bebê, Elena... Não sabia ao certo o que sentia, mas lhe dava arrepios. Não sabia se era uma sensação boa... Nem ao menos queria pensar nisso. Filhos não estavam em seus planos. E nem estariam por mais alguns anos. Portanto, pensou decidida, não havia nada o que ficar pensando em essas coisas angustiantes. Christopher estava apenas sonhando, nada mais. Nada a ver com a realidade. Só teria filhos depois que fosse casada... e que tivesse uma relação estável com seu marido, não nessa montanha-russa cheia de altos e baixos que era a relação dela com Christopher agora.

Chris: Eu vou embora...

A voz de Christopher fez com que ela erguesse a cabeça rapidamente, esquecendo seus súbitos pensamentos.

Chris: Não quero encontrar a minha mãe...

E, mais uma vez, o que Dulce somente poderia fazer era concordar e entender seus motivos. E, obviamente, os entendia muito bem.

Dulce: Tudo bem...

Christopher franziu a testa, confuso pela reação dela.

Chris: Concordou comigo?
Dulce: Hunrun... (assentindo) Eu te entendo.
Chris: Estou chocado...

Dulce riu de leve e cruzou os braços abaixo dos seios.

Dulce: Você pode me dar pelo menos dez minutinhos para eu me trocar?
Chris: Não entendi...(colocando a camisa)
Dulce: Se você não estiver, eu não tenho mais nada o que fazer aqui... Por isso, vou com você. (disse com a maior tranqüilidade do mundo)
Chris: Mas... e sua família?
Dulce: Ficará aqui com a sua.
Chris: Dulce...(franzindo o cenho)
Dulce: Eu vou com você...e ponto. Mas antes temos que comer algo, porque eu não agüento mais de fome.

Dulce se desencostou a mesa e começou a desarmar a rede. Ele ainda estava de costas, quando Christopher a perguntou, com voz vacilante.

Chris: Você a viu?
Dulce: Sim... (respondeu Dulce, sem nem ao menos se virar)

Dobrou a rede, mesmo com o lençol dentro e Christopher a ajudou a colocar dentro da mochila.

Chris: Eu não quero topar com ela...

Dulce então respirou, pensando no que poderia fazer. Queria que ele falasse com sua mãe, pelo menos para esclarecerem as coisas. Tinha que juntá-los, até mesmo por ela, para que sua consciência estivesse um pouco tranqüila. Havia dormido se sentindo culpada, mas agora que havia descarregado todo aquele veneno que Alexandra deixou incrustado em seu coração naquele dia, já conseguia respirar melhor, com mais leveza. Queria que Christopher se sentisse assim também... Ele precisava. Dulce precisava salvar esse fim de semana. Era agora a sua meta... E estava bem determinada a ganhar.

Christopher colocou a mochila que continha a rede nas costas, e olhou para a mesa, buscando sua chave e sua carteira que estavam em cima, quer dizer, que eram para estar sobre a mesa. Dulce quem já havia descido as escadas, o esperava embaixo, enquanto olhava alguns cavalos.

Chris: Onde estão minhas coisas, Dulce?

Dulce, subitamente, olhou para cima, vendo-o olhar em direção a ela.

Dulce: Estão comigo.
Chris: E por que?
Dulce: Fiquei com medo de que enquanto eu fosse em casa, você acordasse e fosse embora sem mim.

Chris, balançou a cabeça negativamente, enquanto se virava para descer as escadas.

Dulce: A visão daqui debaixo é uma beleza...(disse ela rindo ao observar as nádegas de Christopher ao descer a escadas)

Ele apenas sorriu e continuou a baixar.

Chris: Sua mãe combinou algo com a minha? (ainda baixando)

Dulce: Tipo?
Chris: Uma caminhada, ou algo do estilo?
Dulce: Suponho que sim...
Chris: Então ela já não se encontra mais lá, não é?
Dulce: Sim...poderemos comer em paz.

Uma mentirinha não causaria dano a ninguém, pensou Dulce.

Chris: Ah espero que não esteja mesmo, porque eu também estou com fome. (se encaminhando para Dulce) Não quero topar com ela...e virar as costas no momento seguinte... por pior que ela tenho feito, ela ainda é minha mãe.

Dulce o abraçou fortemente pelo torso, agraciada de ter um homem como Christopher a seu lado. Ele era a melhor pessoa que já conhecera na vida, depois de sua mãe, obviamente. Era uma bondade espírito que a fazia a cada minuto perguntar o que fizera de tão bom a Deus para que ele tivesse lhe dado esse presente na sua vida.

Dulce riu e os dois saíram caminhando de volta a casa, pois não havia nenhum sinal de seu carro por ali. Os dois preferiram não falar nada no trajeto, permaneceram calados e pensativos. E quando subiram a colina, para entrar na área da piscina... Logo avistaram uma cabeleira loira dançando com o vento. Ou seja, a cabeleira da última pessoa que esperavam ver ali. Dulce tragou a saliva ao ver Alexandra, e ao sentir como Christopher se retesava em seu canto.