Alexandra se encontrava sentada em uma das cadeiras de costas para a casa, e tanto ela como Christopher se deram conta de que ela estava chorando.

Christopher sentiu como seu coração se comprimia involuntariamente. Afinal de contas, era sua mãe e se sentia muito mal por toda essa situação. Sentia-se traído, se sentia defraudado, se sentia um fracasso... mas tudo isso não apagava a angústia de ver como a mulher que mais amava no mundo estava sofrendo.

Dulce, quem vinha caminhando a seu lado, passou a mão no braço dele e o parou a poucos centímetros onde sua mãe estava sentada. Ele a olhou, com a testa franzida, se perguntando em miradas por que diabos ela havia feito aquilo.

Dulce: Acho que essa situação chegou a um nível...em que...ou fazemos alguma coisa para melhorá-la, ou mandamos tudo isso a merda e a estragamos mais ainda. (disse olhando a Alexandra, quem subia o rosto em expectativa para vê-la) E, sinceramente, por mais que o que o a Senhora fez no passado tenha trazido tanta infelicidade para nós dois...nesse momento o que eu menos desejo é que Christopher esteja brigado com sua própria mãe...

Chris: (interrompendo-a): Dulce... eu não...
Dulce: Eu quero que você seja feliz, Cielo. (encarando-o diretamente nos olhos) E eu te pergunto agora... Brigado com ela, você será?

Christopher baixou a cabeça e se calou.

Dulce: Pensa nisso, ok... (ficando de ponta de pé para beijá-lo na boca rapidamente) Eu não poderei nunca preencher o vazio que ela deixará...

Dulce olhou rapidamente para Alexandra, quem estava com um sorriso de encantamento nos lábios. Voltou os olhos para Christopher e apertou as bochechas dele.

Dulce: Já volto...

Dulce lhe sorriu e foi saindo. Ele a puxou de volta, fincando-a a seu lado.

Chris: Você também foi enganada... Merece estar aqui tanto quanto eu.
Dulce: Tudo o que eu queria dizer e ouvir dela, eu já fiz... Agora é a sua vez.

Apertou os ombros dele em sinal de apoio e saiu sem dizer nada.

Dulce saiu e o silêncio ficou. Christopher nem ao menos conseguia virar-se para vê-la. Aquela situação era difícil... E ele não gostava de situações desse tipo. Sempre procurava ser o mais dinâmico possível, justamente para escapar de situações constrangedoras como essa. Buscava serenar-se, inspirando e expirando ritmicamente, mas estava difícil de ignorar essa angustia que crescia a momento. Conhecia muito bem sua mãe, e sabia que por trás daquele silêncio, ela estava articulando algo. Alexandra era, sem dúvida, uma mulher muito comedida e meticulosa em suas palavras. Nada saía da boca dela impulsivamente. Ela não era disso, preferia pensar mil vezes antes de falar...para não correr o risco de cair em contradição depois disso.

E ele sabia, ela tinha um poder de manipulação muito eficaz. Porém, infelizmente, ele havia vestido um escudo contra suas palavras...e estava disposto a não ceder na primeira lágrima que ela derramasse.

Alexandra: Eu não sei o que dizer... (tragou a saliva) pela primeira vez na minha vida...eu não tenho idéia do que lhe dizer...

Christopher suspirou, não se deixando abater pelo nervosismo na voz de sua progenitora.

Alexandra: Há coisas na vida que são inexplicáveis...e acho que essa nossa situação é uma.
Chris: Pois eu não acho que seja... (rebateu ele, sentando-se numa cadeira ao lado dela) Eu nem sei o que estou fazendo aqui. Mas agora que já estou, espero que possa me dizer algo... (se projetando para frente, encostando os cotovelos nos joelhos) E espero do fundo do meu coração, que tenha uma explicação plausível por tudo o que me fez... (ela lhe encarou com a testa franzida) E não digo só pelo que fez comigo e com Dulce.. Quero saber por que raios a Senhora têm tentado me ferrar desde que eu nasci!

Alexandra tragou a saliva, chocada com o que ele disse. E ainda mais com sua rispidez.

Alexandra: Não fale assim comigo!
Chris: Infelizmente a Senhora não tem o moral para me pedir isso!

Ela virou-se para ele, ficando de frente.

Alexandra: Eu sou sua mãe, Christopher! Fui eu que te gerei, fui eu que te amamentei...eu que te ensinei tudo! Tudo o que você é...é por minha causa!
Chris: E isso lhe dá o direito de viver minha vida?! (irritado) Só porque me deu a vida se acha no direito de comandá-la? (franzindo a testa pela apreensão) Porque foi nisso que vivi desde sempre...sob o seu comando!
Alexandra: Não é bem assim...
Chris: Não é bem assim?! (levantando a voz) Como pode me dizer isso, mamãe? Você sempre tentou me manipular! Sempre tentou fazer com que eu fosse o seu marionete mais prestigiado! Às vezes eu chego a pensar que a Senhora é doente! Doente! (apontando pra cabeça) Por Deus! Como ousou dizer a Dulce que eu sofria retardo mental?

Ele abriu muito os olhos com consternação, enquanto seu rosto de ruborizava a cada vez mais pela irritação. As palavras já não podiam ser mais reprimidas. Tinha que soltar, ou morreria com essa angústia. Ele passou a mão na cabeça, vendo como ela franzia as sobrancelhas e fungava repetidamente. Ela iria chorar, e ao escutar como os soluços tomavam conta dela... Ele sentiu como seu sangue fervia em suas veias, e desgraçadamente, sentiu também vontade de bater nela pela fúria cega que lhe revolvia o estômago. Apertou os punhos para tentar relaxar um pouco, mas não havia como segurar isso que sentia no peito. Seu coração bombeava a mil e a adrenalina tomou conta dele. Estava fora de controle, totalmente fora de controle...

Chris: O que eu te fiz para me retribuir assim? Por que não me abortou se já pretendia transformar minha vida em um inferno? Por que não me poupou?! (disse ele, quase gritando)

E essa era a primeira vez que Alexandra ficou com medo de Christopher. Seus olhos injetados em sangue, o modo como apertava o joelho como se tivesse se segurando para não levantar a mão para ela.

Alexandra: Por favor, se acalme!
Chris: COMO EU VOU ME ACALMAR?