Ela não se agüentou e riu, se afastando dele. Voltou a vê-lo e caiu na gargalhada. Entrou no boxe e tirou a toalha, jogando-a por cima do boxe, e riu mais ainda ao ver que ela caiu na cabeça dele. Ele tirou a toalha do rosto com um sorriso e virou-se para o boxe, onde podia se ver a silhueta de Dulce através dele. Pendurou a toalha na porta do boxe, e levou as mãos a sua roupa interior. A colocou pendurada do lado da pia e abriu a porta de vidro que os separavam.

A visão da nudez de Dulce o fez sorrir. Os cabelos vermelhos serpenteavam molhados por suas costas esguias, e como a cabeça pendia para trás a fim de lavar-lhe o rosto, seus cabelos quase lhe chegavam até as nádegas. Ele ficou observando o traseiro dela, não era tão robusto, mas tinha o seu encanto. Porém lhe encantava muito a mais a parte frontal do que a traseira do corpo dela. Riu com o pensamento.

Quantas mulheres ele já vira da mesma forma? Incontáveis. E todas podiam ter sido muito mais bonitas do que Dulce, mas nenhuma era como ela, nenhuma era ela, como nenhuma sentia o que sentia por ela... e esse era o diferencial.

Se encostou na parede, cruzando novamente os braços, sem parar de observá-la.

O relacionamento deles não era como um namoro comum. Eles já tinham intimidade de um casal que já estava casado há muito tempo. Principalmente no íntimo. Embora Dulce ainda tivesse algumas restrições quanto a isso... Mas seria uma questão de tempo para ela deixá-las. Dulce foi a mulher mais puritana com qual se envolveu, sem dúvida. Será que por isso ele estava tão apaixonado? Bom, também. Nunca na vida poderia adivinhar que Dulce era virgem antes de tê-lo “conhecido”. Ela havia passado mais de dois anos namorando Poncho. Não dois dias, e sim dois anos! Era muito tempo para se ter alguma intimidade. E logo Memo, que por mais que ela não tivesse gostado realmente dele para dar um passo tão grande como esse... Memo não era o tipo de homem que em seus namoros se contentava só com beijinhos e abraços. Ainda não entendia porque com ele fora tão...franziu a testa... Fácil? Sim, fora fácil. Em uma semana, quase chegaram até o final. E isso porque só eram “amigos com direitos”. Não tinham nada sério.

Ela não havia sido de nenhum outro. Somente havia pertencido a ele. Se sentia tão bem em seu interior, que esboçou um sorriso de aprovação. Dois anos de namoro com Poncho. Oito meses com Memo... E em três semanas de “amizade”, Dulce havia se entregado a ele. E seguiu se entregando mesmo sem ter nada com ele.

Assim como ele mesmo o fizera. Será que a atração sexual entre os dois foi tão forte para impor que os dois deixassem suas convicções de lado? No caso dele sim. Fazer amor com ela, foi como se a venda de seus olhos houvesse caído. Só queria seguir estando a seu lado, como agora, não chegando a saciar-se nunca.

Será que aquilo acabaria algum dia?

Repassou o olhar por suas costas outra vez, desde seus cabelos vermelhos, que se grudavam as costas, até seus pés.

Enquanto houvesse sentimento, haveria a paixão de seus corpos. Amar Dulce era um vicio. Um vício que ele não estava disposto a abandonar. Queria desfrutá-la, dia e noite, a qualquer hora do dia, em qualquer lugar... Sentia uma necessidade de tê-la exatamente assim, todos os dias. Já começava a sofrer com a separação... A separação curta de ter que deixá-la para ir em casa. Nunca na vida pensou que estaria tão pendente de uma mulher como estava de Dulce. E por isso, precisava de mais tempo com ela. Muito mais tempo do que já tinham.

Chris: Quer alguma ajuda? (perguntou ele com um sorrisinho no rosto, enquanto a via fazer malabarismo para esfregar suas costas)

Dulce virou-se de uma vez e deu de cara com Christopher sorrindo. Ela ergueu uma sobrancelha, e sentiu que um resquício de pudor começava a chegar ao cérebro. Tragou a saliva tentando reprimir aquilo. Talvez nunca se acostumaria a estar tão nua assim na frente de um homem, tanto em corpo e em mente. Tragou a saliva outra vez e se meteu embaixo da ducha, sem deixar de ver o olhar dele passeando por seu corpo... como se o analisasse minuciosamente. Passou a mão nos cabelos e fechou os olhos para que não caísse shampoo.

Chris: Eu nunca vou cansar de te ver assim...

Ela abriu os olhos e o viu olhando para seus seios, com um meio sorriso no rosto.

Dulce: Será que não? (rindo com ironia) Nunca diga nunca.
Chris: Eu gosto muito dessa intimidade que temos... (se encostando outra vez na parede, enquanto elevava a mão para coçar a barbicha) Eu nunca tive isso com ninguém...

Dulce passou a mão no cabelo, enxaguando-o e franziu a testa, surpresa com o que ele disse.

Chris: Não sei...muitas coisas que tive com você, não tive com ninguém... (baixou a mão e coçou o peito) É tudo tão...
Dulce: Normal?
Chris: É...eu gosto desses momentos.
Dulce: Pois eu não consigo me acostumar... (tragou a saliva) Tou morrendo de vergonha... (e deu uma risadinha tímida)

Ele sorriu enternecido.

Chris: Não vou te pressionar... (ficando sério) Eu quero que sinta bem em compartir tudo comigo...não quero que seja uma coisa forçada.
Dulce: Nunca ninguém me viu assim, Chris... (gesticulou, com as duas mãos no tórax) Eu nunca permiti... Não me sinto bem nua nem na frente da minha mãe, muito menos na de um homem!
Chris: Você quer que eu saia, então?

Ela gargalhou.

Dulce: Não, agora que já viu, pode ficar.

Os dois ficaram em silêncio por um instante.

Chris: Eu sei que é o seu jeito... (suspirou) Mas já fizemos isso outras vezes, conhecemos cada partezinha dos nossos corpos... então por que você ainda se constrange com isso?
Dulce: Não sei... (disse pegando o frasco do condicionador) Não sei de onde vem isso, mas sinto. É de mim mesma... criação, sei lá!
Chris: Então quer dizer que você nunca posaria nua?

Ela riu e subiu o olhar para ele, quem parecia ansioso pela resposta.

Dulce: Isso seria um pouco difícil...
Chris (rindo): Que bom saber disso! Eu nunca permitiria uma coisa dessas!
Dulce: Deixa de machismo... (rindo)
Chris: Não é machismo! Você é minha mulher! Só eu que posso te ver assim.
Dulce: Então por que você vê as dos outros?

Ele ficou sem saber o que dizer e ela caiu na gargalhada, mas logo desfez o sorriso ao vê-lo sério.

Chris: Eu falo sério Dulce... nunca permitirei isso.
Dulce: É só estalar os dedos que consigo um contrato milionário... (rindo da cara dele) Já me fizeram muitas propostas.
Chris: Mas eu sei que você não vai aceitar...eu te conheço.
Dulce: Você está muito seguro de si, não?
Chris: Claro. Afinal...o que você escolheria? A mim ou posar nua?
Dulce: Você, óbvio!
Chris: Já está respondida então minha pergunta...

Ele deu um sorriso cafajeste e ela riu.

Dulce nunca diria que nunca iria posar nua. Mesmo por que ela nunca saberia o dia de amanhã. Mas por hora, não posaria. Não se achava em potencial para isso, nem mesmo tinha esse sangue frio. E, obviamente, por questões femininas... Ela tinha noção de que seu corpo não era uma maravilha para ser exposto assim, em sua totalidade. Mas quanto a estar assim em frente a seu homem, ainda era muito difícil. Sempre ouvira suas amigas lhe falar “Eu não fico nua na frente do meu namorado... Não sei, ele pode ficar comparando meu corpo com o das outras mulheres e parar de me desejar. Isso seria o fim! Se um dia ele chegasse e dissesse que meu corpo não estava bom, que precisaria melhorar algumas coisas, eu seria capaz de matá-lo.” Ainda lembrava de como havia concordado com ela, e as outras também. Mas tudo com Christopher teimava em ser diferente... Suas convicções... Nem sabia se tinha ainda convicção de algo! Esse homem mudou todos os seus pensamentos. E nem ao menos se arrependia disso. Se sentia linda quando ele a olhava... Se sentia maravilhosa quanto ele a tocava... Se sentia radiante quando ele a amava...

Chris: No que pensa, senhorita Saviñon?
Dulce: Pra variar...em ti...

Ele riu.

Chris: O que há comigo?
Dulce: Estava me perguntando em pensamentos...se algum dia essa magia irá acabar.
Chris: Acabará se você quiser. (se desencostando da parede)
Dulce: Então não vai nunca... (rindo enquanto enxaguava o cabelo)

Ele ficou de frente a ela, enquanto suas mãos pousavam em sua cintura. Dulce desceu o olhar para o peito dele, vendo como as gotas de água salpicavam no mesmo, fazendo com que a pele dele se arrepiasse. Pousou as mãos no peitoral dele e deu um passo a frente para colar o corpo com o dele. Esfregou sua bochecha na clavícula dele, sentindo como as mãos dele deslizavam por suas costas molhadas.

Dulce: Estou tão feliz... (riu com os olhos fechados) me sinto leve...

Ela o abraçou pelo torso e o beijou no pescoço ainda com um sorriso no rosto. Até que percebeu que Christopher estava muito quieto.

Dulce: Bebê?

Se afastou um pouco e pendeu a cabeça para trás afim de olhá-lo nos olhos. E o encontrou olhando para a parede... Seu rosto estava sério, as mandíbulas apertadas, como se ele estivesse se contendo... A expressão dura, algo embaixo também... Dulce arregalou os olhos, deixando escapar uma risada.