Não sabia o que pensar. Nem mesmo sabia como agir. Tentou lembrar-se das palavras da ginecologista a qual lhe atendeu nos Estados Unidos. Ela lhe deu todo tipo de informação, mas agora não conseguia absorver nenhuma delas. Era como se elas nunca tivessem entrado em sua cabeça. Forçou sua mente e não saia nada mais que sussurros. Não havia nada mais que palavras embaralhadas, sem nexo algum... Quando estava na frente da doutora, ela estava pensando muito alto... Estava viajando para um mundo paralelo. E nem ao menos sabia onde era esse mundo.

Tragou a saliva um pouco perturbada.

Ainda com a cartela nas mãos revisou os comprimidos e pela segunda vez em sua vida não sabia o que fazer. Assim como no Rio de Janeiro...

Fechou os olhos, apertando-os. Não poderia deixar que isso a afetasse. Precisava ficar calma. Não iria se desesperar. Estava na casa de sua mãe. Não queria assustar ninguém e nem estragar o final de semana dos outros. Estava cerca de seu período mensal, que além do contraceptivo, lhe dava mais segurança. Respirou fundo e tentou relaxar.

“Estou tomando isso há meses, não será por uma vez que terei conseqüências. Não...”, sorriu com o pensado, zombando dela mesmo por acreditar que aquilo falharia. “Não vai haver nenhuma conseqüência.”

E já mais tranqüila, ingeriu o comprimido correspondente ao dia de sábado. O de sexta ela jogou no sanitário e deu descarga. Olhou-se no espelho. Precisava tomar um pouco de água. O comprimido era pequeno, mas já havia se engasgado com ele uma vez. Dulce o guardou em sua bolsa, e tirou o barulho de seu bip, no qual o havia comprado exatamente para lhe lembrar o horário do remédio.

Rapidamente separou um biquíni, preto com detalhes em amarelo, vestiu um short preto de lycra por cima, combinando com o biquíni. Pôs um boné também preto e seus óculos escuros. Perfumou-se, se arrumou e sorriu diante o espelho, baixando o olhar até sua barriga reta.

“Não havia nada ali...”, pensou ela com convicção. Olhou mais uma vez para seu quarto, e viu sua cama bagunçada. A arrumou direitinho, e tragou a saliva ao ver uma mancha amarelada no meio dos lençóis. Embolou o lençol nas mãos, e o levou para o banheiro. Esfregou a mancha amarelada com sabonete, e fez cara de nojo. E mesmo sozinha, não evitou ficar com vergonha, estava ruborizada. Passar pela primeira vez sobre essas coisas dava nisso. Não tinha jeito...

Após lavar a mancha, baixou com o lençol embolado nas mãos e o deu a Marinete depois de cumprimentá-la. E para que a mulher não perguntasse o que era, ela logo inventou que havia deixado cair um copo com água em cima. E não deu mais tempo para que ela perguntasse mais coisas, após tomar um copo com água, saiu pela porta da cozinha em direção a piscina. Ouviu um som mais a frente. Mais precisamente, uma música bem animada da banda Maná.

http://www.youtube.com/watch?v=XFZxXFAjALI

Dulce riu ao ver como sua irmã e Christopher riam divertidos com alguma coisa que seu cunhado havia comentado. Estavam os três ao redor de uma das mesas da piscina. Os três pegando sol. Henrique deitado em uma cadeira, Christopher sentado em uma também e Claudia sentado ao lado de seu marido numa cadeira normal. Tirou o boné e arrumou seus cabelos, colocou a franja de lado e chegou ao lado dos três, quem se viraram para vê-la.

Claudia: Bom dia irmãzinha... Até que enfim deu o ar de sua graça.

Dulce riu olhando para Christopher, quem estava mirando-a com um copo na mão. Abriu mais o sorriso ao vê-lo tão relaxado. Estava sem camisa, somente com um calção que lhe vinha até um pouco abaixo do joelho, de cor cinza e um boné azul marinho na cabeça.

Dulce: Eu que digo, até que enfim vocês acordaram. (se encaminhando até onde Christopher estava sentado) Estou acordada desde as sete.

Christopher afastou um pouco e separou as pernas na cadeira da piscina, fazendo espaço para que ela se sentasse no meio das suas. Dulce fez o que ele pensou e pousou as duas mãos em suas coxas.

Dulce: pelo visto, hoje as coisas serão boas!
Rick: Boas, não. Serão ótimas! (disse sorrindo)

Dulce riu para seu cunhado que estava deitado em outra cadeira da piscina do lado de Claudia.

Rick: Hoje Clau está animada.
Dulce: Tou vendo... (rindo ao observar o copo na mão de sua irmã) O que estão bebendo?
Rick: Estamos provando de uma iguaria que sua irmã inventou... (olhou para o copo com a cor amarelada e virou-se para Dulce) Pelo gosto, eu digo que é maracujá com algo de vodka.
Claudia: Acertou! (ela riu) Eu coloquei suco de maracujá, leite condensado e um pouco de vodka no liquidificador e ficou assim.
Chris: Eu estou adorando... Mas acho que não durarei muito se seu pai fizer a rodada da tequila.

Anônimo

Henrique sentou-se olhando para ele.

Rick: Ihhh Caramba, nem lembrei dessa rodada. (colocou o copo em cima da mesa e virou-se para sua mulher) Amor, por favor, pegue meus remédios...
Claudia: Se você não quiser beber, ele entende... Você ficou muito ruim daquela vez.
Dulce: O que ele teve? (recostando-se no peito de Christopher)
Claudia: Passou a noite vomitando.
Dulce: Christopher, graças a Deus, acordou muito bem daquela vez. (rindo)
Rick: Claro! (rindo) Ele bebe todo dia...
Chris: Também não é assim... Tampouco me insulte, eh?.

Os dois riram.

Chris: Passei um mês inteiro sem beber.
Rick: Eu entendo como deve ter se sentido. Foi muita pressão... (estendeu uma mão à mesa e agarrou um petisco para levar à boca)
Chris: Foi sim...

Christopher suspirou e tomou um gole da bebida gelada.

Claudia: Mas vocês já superaram tudo?

Dulce ficou calada e Christopher sorriu.

Chris: Graças a Deus! A partir de hoje somos outras pessoas...
Claudia: Eu fico feliz. Fiquei muito triste quando soube do que te causou aquela brasileira...

Rick apertou a coxa de Claudia, no intento de que ela pudesse parar de falar e Dulce se deu conta disso.

Dulce: Não temos mais o que esconder quanto a isso... (olhando para o cunhado) Todo mundo já sabe de nós e sobre o que fizemos.
Claudia: Então já que estamos em confiança... (olhando para os dois com seriedade) Eu quero pedir desculpas ao meu cunhadinho preferido... (Christopher riu) por ter acreditado nas fofocas do La Oreja. (com cara de culpada)

Dulce gargalhou junto com Christopher.

Chris: Dulce também acreditou... (rindo) Graças a Deus que Dona Blanca, não!
Rick: Minha sogra é uma pessoa iluminada...uma sogra que confia nos genros é uma pessoa abençoada...

Claudia lhe deu um tapa no ombro.

Claudia: Ela acredita até quando der motivo!
Chris: Mas por certo... se eu sou seu cunhadinho preferido, é por que há outros? (Dulce riu e ele inclinou a cabeça para frente na curva do pescoço dela, para vê-la nos olhos) Ein Dulce?
Dulce: Deus me livre! Se já com um sofro mais que a Maria do Bairro, imagina com mais!

Claudia caiu na gargalhada e assentiu.

Claudia: Com um já temos todos os problemas! É sogra, é ciúme, é filho, é casa, tem que se acostumar com as coisas...
Dulce: Graças a Deus que ainda não temos filhos e está bem longe ainda!
Chris: Sim, mas quanto ao se acostumar com as coisas está bem perto, não?
Claudia: o que querem dizer com isso? (radiante)
Rick: Sim, faço a mesma pergunta...

Dulce suspirou e deu uma cotovelada na barriga de Christopher.

Chris: Auch!
Dulce: Ninguém decidiu nada ainda! E pelo o amor de Deus, não fique falando isso na frente do meu pai!
Chris: Sua irmã... (negou com a cabeça com desdém, olhando para Claudia) Não quer casar comigo, como é que pode?