Fernando: Quando quiser...será bem-vindo na
família...
Chris: Obrigado. (disse com um sorriso no rosto)
Fernando: Estou contente pela escolha de Dulce... (lhe sorrindo) Você é um bom
rapaz...

Os dois se soltaram e Fernando entrou em casa
novamente. Christopher se deixou cair no sofá, totalmente estupefato pela
conversa que acabara de ter com o pai de Dulce. Tragou a saliva constantemente,
enquanto seus olhos piscavam sem controle.

Quando quiser...será bem-vindo na família...

Passou as mãos no rosto, e um sorriso aflorou em seus lábios. Havia passado no
teste. Ainda estava incrédulo com tudo, mas absurdamente feliz. Levantou-se de
um salto quando sua mãe disse que o café estava pronto. Voltou à cozinha e
encontrou quase todos ali, com exceção de seu pai, e a família de Claudia. Até
mesmo Dulce estava sentada à mesa, se servindo. Estava com uns óculos escuros
enormes na cara, um gorro na cabeça, e uma cara que dava até medo de se
aproximar. Encontrou com o olhar dela e lhe sorriu, ainda contente com o que
Fernando havia lhe dito.

Chris: Bom dia...(puxando a cadeira, que estava à frente dela)
Dulce: Não há nada de bom...(respondeu ela com a voz enrouquecida, enquanto
passava geléia na torrada)
Alexandra: Antes de comer tome o remédio, por favor...

Ele assentiu e apanhou o comprimido da mão de sua mãe, que estava ao seu lado.
O tomou, e logo bebeu água. O café da manhã foi bem animado, pelo menos para
ele, que ouvia como os mais adultos narravam os fatos da noite anterior. Porém
nada abalava o mau humor de Dulce, que estava com uma tromba que chegaria antes
do que ela na gravadora.

E não demorou muito para estarem na estrada. Despediram-se de seus pais e Dulce
lhe deu as chaves do carro para que conduzisse. Não haviam dito absolutamente
nada nos primeiros dez quilômetros de estrada. Dulce havia adormecido, ou
fingia que estava adormecida.

Dulce: O que achou de tudo isso?

Christopher se sobressaltou ao ouvir a voz dela,
depois de vinte quilômetros de estrada percorrida. Olhou, rapidamente, para o
lado e a viu com a cabeça encostada na janela. Voltou o olhar para a estrada
deserta e mudou de marcha.

Chris: Achei de que?
Dulce: De voltarmos tão cedo...
Chris: Achei que essa história está muito mal contada.
Dulce: Eu também achei...
Chris: Primeiro essa viagem fantasma que Pedro arranjou, segundo...nos dar dois
dias inteiros livres...humm, não sei...
Dulce: Tem razão, também estava achando muito bom para ser verdade.
Chris: E você...
Dulce: Eu o que?
Chris: Como está?
Dulce: Agora estou melhor, mas passei mal à noite...
Chris: Minha mãe me disse... Mas e agora?
Dulce: Estou bem.
Chris: Até para ensaiar?
Dulce: Sim, dá para agüentar.
Chris: Se sentir qualquer coisa me avise, por favor.
Dulce: Sim, não se preocupe. Precisava só de um pouco mais de sono... Quando
entrei já passava de meia-noite...
Chris: E a que horas eu entrei?
Dulce: Oito...
Chris: Dormi muito...(esboçou um sorriso) mas ontem foi muito especial.
Dulce: Eu também achei...(com trabalhos, elevou as comissuras dos lábios, no
intento de um sorriso)

Christopher não comentaria a conversa que teve com Fernando. Era uma
particularidade dos dois homens. E nem tinha motivo para dizer nada. Afinal, a
conversa fora entre os dois. De sogro para genro, riu com o pensamento. Mas
Dulce nem ao menos havia prestado atenção, estava com os olhos fechados,
tentando descansar.

Ele observou a entrada da cidade, seus prédios, seus
bairros, suas paisagens construídas que em pleno domingo, exatamente, as oito e
vinte da manhã, ainda dormia. O baixo fluxo de carros fez com que poupassem
vinte minutos do trajeto, e pontualmente, as oito e meia da manhã, estava
estacionando dentro do subsolo do prédio da EMI Records. Dulce se moveu quando
o carro parou. E Christopher abriu um sorriso, ao notar como ela enxugava os
cantos da boca, por haver agarrado no sono outra vez. Retirou o cinto de
segurança...e virou para Dulce.

Chris: Se vamos gravar cenas para a série, o que fazemos na gravadora?
Dulce: Não tenho a mínima idéia... (tirando os óculos para coçar os olhos)
Chris: Não estou gostando nada disso. (pegou a mochila no banco detrás)
Dulce: Para que vai levar essa mochila? Deixa aí...
Chris: Humm...(sorrindo) ganharei uma carona?
Dulce: Claro que sim, mas se não quiser, pode chamar um táxi.
Chris: Palhaça. Talvez não pisemos mais nem em casa hoje.
Dulce: É certo o de Guadalajara?
Chris: Parece que sim... (disse abrindo a porta)
Dulce: Christopher...

Ela o chamou quando ele ia saindo, fazendo-o voltar-se para fechar a porta.

Chris: Sim?
Dulce: Você tá lembrando do momento que estamos passando...?
Chris (franzindo a testa): O que estamos passando?
Dulce: Já sabe... (mexendo no gorro) Você e eu, todos sabem...e...
Chris: Ahh...estou lembrado... Mas... (aclarou a garganta) o que quer dizer com
isso?
Dulce: Bom, antes estávamos brigados...mas...e agora?
Chris: Você tá querendo saber como vamos nos comportar?

A viu acenar com a cabeça. Umedeceu os lábios com a
língua e a encarou.

Chris: Bom...(suspirou) não havia parado para pensar nisso. Mas se já não
podemos fazer nada...temos que enfrentar. O que eu menos quero é que tornem a
dizer que estamos separados, e que fiquem inventando motivos para nosso
afastamento.
Dulce: Quer dizer que...
Chris: Quero dizer que eu pegarei na sua mão e ficaremos juntos. Mas se não
quiser segurar minha mão, podemos ficar ao lado um do outro. Se não quiser me
abraçar...pelo menos fale comigo. Mas por favor...não seja fria como antes.

Pela primeira vez no dia, Dulce esboçou um sorriso. E ele sorriu também para
encorajá-la. Imediatamente, ela o puxou pelos ombros e o abraçou, enterrando a
o rosto na curva de seu pescoço. Ele acariciou suas coxas e as apertou.

Chris: Agora sim, eles vão nos ver juntos...de verdade.

Dulce riu com incredulidade. Parecia que esse mês inteiro não tivesse se
passado. Que todas as criticas, elogios, não houvessem sido proferidos. Era
como se não se sentisse realmente atada a Christopher, como o estava agora. Era
como se nunca houvessem sido flagrados anteriormente. Pois os nervos, somente
haviam aparecido...ali, naquele carro. Estavam juntos... Todos sabiam... Por
fim.

Dulce: Não vou ter medo...(disse ela se afastando dele, depois ter lhe dado um
beijo no pescoço) Também não quero que tenha medo.

O encarou, enquanto segurava as mãos dele entre as suas.

Chris: Coloca na tua cabeça... Se não existisse amor, não estaríamos juntos...
Dulce: Sim...
Chris: Te amo...

Ele riu
com incredulidade pensando na loucura que seria escancarar, de uma vez por
todas, esse relacionamento que haviam tentado tanto guardar abaixo de sete
chaves. Mas que o destino, por fim, quis que isso mudasse. E o mesmo
pensamento, a fez rir também.

Dulce: Eu te amo também...
Chris: Passe o que passe...vamos estar juntos, não é? (apertando as mãos dela)
Dulce: Sim!
Chris: Agora vamos lá.

Ele soltou as mãos dela e abriu novamente a porta do carro. Dulce também o fez,
colocou a bolsa em um ombro e saiu do carro. Os dois olharam para todos os lados.
Christopher caminhou até ela, e ao encarar-se mutuamente, riram outra vez. Ele
lhe estendeu a mão, ela a olhou com um pouco de receio...