Voltou o olhar para a porta e piscou os lhos
incrédulos. Essa era uma característica de Dulce que aprendeu a conhecer...
Atacar o oponente no seu ponto fraco. Passar na sua cara os erros do passado.
Para ela valia tudo...quando isso lhe desse a vitória, nada mais que a vitória.
Mas dessa vez não seria assim, não iria se irritar, por mais que tivesse
vontade de lhe dizer umas quantas coisas... Iria sair desse quarto, iria
aproveitar sua noite, e Dulce não iria aborrecê-lo. Bateu levemente a cabeça na
porta duas vezes e voltou-se para ela.

Chris: Espero que tenha uma boa noite... (e fingiu um sorriso travesso,
observando como ela estava incrédula com reação)

E mais que incredulidade, estava furiosa! Estava furiosa porque em sua
mente...ele havia traído sua confiança. Pensava que ele iria se voltar para ela
furioso para lhe reafirmar que não faria nada que os machucasse, de que nunca
seria capaz de traí-la. E ele não havia lhe dito nada! Nada! Simplesmente
sorriu! Sorriu! Não conseguia decifrar aquele sorriso e nessa hora era o último
que queria. Nem que tivesse que amarrar Christopher junto à cama ele não sairia
daquele quarto.

Dulce: Não brinque comigo, Uckermann... estou lhe avisando. (deixou a garrafa
de água em cima de uma mesa e foi se aproximando dele a passos lentos)

Chris: Eu não vou me irritar com você, Dulce. Pode
falar o que quiser, mas eu vou de qualquer jeito.
Dulce: E por que tanta vontade de sair? Por acaso tem alguém te esperando?!

Não pôde evitar levantar um pouco a voz com autoritarismo.

Chris: Não, não há ninguém me esperando, mesmo porque não conheço ninguém nesse
país.
Dulce: E por que quer sair em vez de ficar aqui comigo?

Ele respirou fundo, não entendo bufulhas onde aquilo ia chegar.

Chris: Você disse que queria dormir! (impaciente) E eu não quero dormir!
Dulce: E já tinha combinado de sair, não é? (encarando-o nos olhos) E se eu não
estivesse com vontade de dormir, você sairia?

Christopher ficou calado, pensando na resposta. E Dulce riu vitoriosa, mas logo
desfez o sorriso ao sentir sua cabeça fervilhar de pensamentos ruins e todos
eles relacionados a Christopher com outras mulheres. Conseguia imaginar como
todos sentariam numa mesa de bar, ou de um bordel...vendo as dançarinas nuas
subindo a baixando nos canos prateados. A imagem de Christopher colocando uma
cédula na calcinha de uma delas também não passou despercebida por sua mente. E
tudo isso só contribuiu mais para sua irritação. Porque era nisso o que
Christopher e sua turminha falavam, somente de mulheres e de sexo. Bom, talvez
fosse o tema principal, já que era o tema principal de quase todos os homens. E
sabia muito bem como Christopher podia chegar a ser influenciável no meio
deles, e isso era o que lhe dava mais medo.

Dulce: Eu não quero que você vá. (tentou lhe dizer isso
com calma, sem que ele notasse sua irritação)

Estava buscando serenar-se, ou talvez, seduzi-lo com sua manha e seu charme do
jeito que as mulheres faziam para obter tudo dos homens. Se aproximou dele e o
abraçou pelo torso, colando sua cabeça no peito dele.

Dulce: Quero que fique comigo.
Chris: Hoje não, Dulce. (a empurrou delicadamente) Depois de tudo o que me
falou, já não há mais clima para nós dois, em algum momento vamos acabar
brigando.

Ela se afastou dele e começou a andar de um lado para o outro.

Dulce: Você está conseguindo me irritar de sobremaneira, e não estou gostando
disso... (e levou uma mão à boca, roendo um canto de uma com nervosismo) Não
estou gostando do jeito que estou me sentindo...

Então ele se preocupou ao vê-la tão aflita. Fechou seus dedos no antebraço dela
e a virou para si.

Chris: Está doente? Está se sentindo mal?
Dulce: Sim, Christopher! VOCÊ ESTÁ FAZENDO COM QUE EU ME SINTA MAL!

Christopher ficou lívido diante de seu grito
inesperado. A soltou na mesma hora ainda incrédulo com sua falta de controle.
Dulce parecia perturbada...como naquele dia no Brasil, aquele dia que nunca
esqueceria. Tinha pensado em ir embora antes que ela inventasse mais uma briga.
Mas não poderia deixá-la sozinha nesse estado. Nem ao menos sabia qual era o
estado... Coçou a cabeça, confuso... O que deu em Dulce para estar tão irritada
assim?

A pegou pelos ombros e foi andando com ela até a cama, sentou-a na beirada da
cama e ficou de pé na sua frente.

Chris: Aconteceu alguma coisa que não me contou, Dulce?

Ela alçou o olhar para ele, confusa pela pergunta...

Chris: Está me escondendo alguma coisa?
Dulce: Claro que não! Por que me perguntou isso?!
Chris: Você não parece nada bem. Está muito tensa...

Dulce ficou nervosa. Realmente não estava bem. Mas por que não estava bem? Nem
ela sabia a razão de tanta ira... Afinal, não era a primeira vez que
Christopher saía sozinho com o grupinho da morte desde que assumiram de vez o
namoro. Isso já havia acontecido outras vezes. Mas por que dessa vez estava tão
furiosa? Não conseguia entender nada... Mas sentiu raiva...e agora sentia
vergonha. Não estava gostando disso...para nada. Baixou o olhar para o chão, e
mordeu os lábios.

Dulce: Não deveria ter gritado, mas... (juntou as mãos uma com a outra, ainda nervosa)
não sei...escapou...foi mais forte que eu.

Ele ajoelhou-se a sua frente, compreensivo. Apoiou
as mãos nos joelhos dela, procurando seu olhar e lhe falou com a voz suave:

Chris: Eu não entendi o porquê da raiva... Há duas semanas atrás você não agiu
assim. E olha que estávamos nos Estados Unidos onde conheço muita gente...e
você sabe...

Ela o encarou, envergonhada, sem saber o que responder.

Chris: Você está preocupada com alguma coisa? Você quer conversar?

A voz doce de Christopher entranhou em seus ouvidos, desarmando-a totalmente.
Havia gritado com ele, havia desconfiado dele... e ele lhe retribuía assim? Com
compreensão e carinho? Que homem era aquele, meu Deus? Dulce o olhava como se
não o conhecesse... E pensava que conhecia Christopher por inteiro... Uhhh! Que
equivocada estava! Havia muito mais ali do que poderia imaginar. E ela sempre o
decepcionava, com seu mau gênio, com seus caprichos, com suas
desconfianças...com seu ciúme. Tinha medo de perdê-lo... E esse medo fazia com
que ela reagisse da pior maneira possível. Mas nem isso justificava que ela
gritasse com ele. Havia lhe faltado o respeito uma vez...quando Christopher foi
a uma danceteria com os amigos, foi o medo de ser traída que a fez
desrespeitá-lo...foi a raiva de pensar que a pessoa que mais amava no mundo
pudesse lhe ferir tanto. Nada havia sido como ela pensara, ele não a traiu... E
lhe perdoou a falta de respeito daquela vez, contanto que ela nunca voltasse a
fazer o mesmo. Mas hoje ela gritou...gritou com ele, e ele nada fizera para
merecer isso. O sentimento de culpa comprimia seu coração... E sabia que era
iminente o embate das lágrimas. Lágrimas essas que ela não sabia de onde vinha,
mas que não podia fazer nada para evitá-las.

Christopher
franziu a testa, ao ver com ela subia as mãos ao rosto como se estivesse
esfregando-o, logo ela passou a mão nos olhos e deu o primeiro soluço. Ele
franziu a testa não entendendo mais nada. Mas levantou-se de uma vez e a puxou
pelos braços para abraçá-la, enquanto mais e mais soluços escapavam da boca
dela. Afagou seus cabelos com delicadeza, sem saber o que pensar.

Chris: Por que o choro, meu amor? (disse angustiado ao ouvir como ela chorava
com tanto sentimento) O que está acontecendo?

Ela nada respondia, pois não conseguia parar de chorar. Ele beijou sua cabeça
preocupado. Mas um pensamento lhe veio à cabeça...

Será que Dulce fazia isso para não deixá-lo sair?