Às vezes não conseguia entender a cabeça de
Christopher. Dizia uma coisa e depois fazia outra. Abriu mais um sorriso, ainda
sentada ao sanitário. Que horas ele havia entrado? Por que não havia ficado de
vez se já sabia que passaria a noite com ela? Aquilo estava estranho.

Já na frente do espelho, observou seu aspecto. Tragou a saliva ao ver as
olheiras profundas e os olhos avermelhados. Sentia seu rosto arder, e estava
ruborizado mais que o normal. Pestanejou duas vezes, sentindo os olhos pesados,
como se suas pálpebras não tivessem força para se manterem erguidas. E ela
sabia de memória que quando estava daquele jeito era porque estava com febre.
Dulce era fraca para mudanças de climas. Seu organismo era vulnerável, e ela se
sentia vulnerável naquele momento. Tocou-se a testa e logo desceu para o
pescoço, constatando que realmente era febre. Fez uma careta pensando nos dias
difíceis pela frente. Sempre que vinha uma gripe, era uma trabalheira dos
infernos. Nariz entupido, tosses barulhentas, rios de catarros e a maldita
febre e dor no corpo, que debilitava até deixá-la incapaz de levantar a mão.

Após lavar o rosto, voltou para o quarto gelado e
correu para debaixo das cobertas, trincando os dentes pelo frio. Após se cobrir
virou-se para Christopher, quem tinha o rosto voltado para ela. Esboçou um
sorriso se apertando mais nas cobertas, sentindo agora como seu corpo tremia
involuntariamente. Precisava de um remédio... Mas não tinha coragem de sair
dali debaixo daquele cobertor quentinho.

Chegou mais perto de Christopher e passou uma mão pelo seu peitoral, baixou um
pouco a cabeça encostando seus lábios no ombro dele, distribuindo-lhes
beijinhos suaves por toda a região. Ouvia sua respiração tranqüila... fazia
tanto tempo que não o tinha pertinho assim. Fechou os olhos abraçando-o. Talvez
o sono viesse outra vez se ficava quietinha...

E mais uma vez Dulce não se deu conta de como Christopher se movia contra ela.
E foi nesse movimento que ela despertou pela segunda vez em vinte minutos. A
cabeça latejava. Com os olhos entreabertos, conseguiu ver os feixes de luz mais
brilhantes do que antes. Mas não conseguia se manter desperta. Seus olhos
queriam fechar... E logo os arregalou ao sentir como a mão de Christopher se
fechava sobre um de seus seios. Estavam agora frente a frente, um ao outro. Ela
não fez questão de tirar a mão dele dali, já que a mesma nem ao menos se mexia.


Fechou os olhos outra vez e suspirou, querendo voltar a dormir. Por inércia
colocou a mão sobre o quadril dele, movendo sua palma estendida lentamente. E
esboçou um sorrisinho ao sentir como ele havia dormido como veio ao mundo,
totalmente despido. Pendeu a cabeça para frente e sua boca se topou com o
rastro de pele de seu pescoço. Estavam tão quentes... Tão quentes... Tragou a
saliva, escorregando a mão por sua pele lisa, até encontrar as nádegas. Separou
um pouco os lábios, adiantando a ponta de seu língua para sentir o gosto
daquela pele sedosa. O gosto de Christopher... O cheiro dele entranhava em suas
narinas. Aquilo era tão familiar. Era tão seu...

Um mês havia passado sem sentir-lhe a pele. Como
podiam ter agüentado tanto? Dulce era viciada naquele homem, como nunca foi por
nenhum outro. Era um vício que doía em suas entranhas quando não o tinha. Era
como se a cada vez que seu corpo estava longe do dele, fosse um dia a menos de
vida em seu coração. Já não suportava mais tanto assédio, essa distância
manipulada, nada... Precisava se libertar, precisava libertar todo esse amor
que tinham um pelo o outro. Precisavam viver esse romance como duas pessoas
normais. Mas sempre voltava atrás, ao saber no que isso consistiria. Tinha medo
de colocar sua vida com Christopher e sua vida profissional na balança. Tinha
medo de que sua carreira fosse mais importante. Não era mais que seu amor por
ele, mas sabia que não viveria totalmente feliz se já não mais estivesse nesse
meio onde estava agora. Sua carreira era algo que não abria mão. Ou as pessoas
que amava conviviam com ela em sua totalidade, ou não simplesmente não
conviveriam. E por mais que amasse a Christopher com todo seu coração, se um
dia ele a encostasse na parede quanto a abandonar sua carreira...infelizmente,
ele seria o abandonado.

Graças a Deus isso não acontecia. Ambos estavam felizes com o relacionamento e
com a carreira. E ela se sentia radiante. E depois da conversa que tiveram
ontem, teve certeza de que ele nunca se colocaria contra ela em relação a sua
carreira. Christopher a apoiava cem por cento, e sabia que ter tudo aquilo que
tinha hoje a fazia feliz.

Dulce estava feliz... muito feliz. Talvez fosse a mulher mais feliz do mundo.
Tinha o homem perfeito a seu lado, tinha sua carreira perfeita...tudo parecia
perfeito demais. E queria comemorar esse feito. Talvez essa noite saísse com
Christopher para algum lugar, e chamaria os outros também, queria ser feliz no
meio de todos.

Esboçou um sorriso ao sentir como ele apertou seu
seio. Dulce subiu o rosto e percebeu que ele estava dormindo ainda. E seu sono
pareça tão pesado que ele respirava de uma forma mais lenta, mais profunda...
Ele exalou um gemido baixo, quase como um sussurro. E ela apertou os olhos,
sentindo como ele massageava seu seio com mais constância, enquanto os quadris
se moviam para frente e para trás, como se ele... Dulce arregalou os olhos. Ele
estava sonhando com...

Chris: rápido...

A voz saiu tão baixa que ela quase não escutou. Rápido? Ela abriu um sorriso.
Era tão lindo sonhando. Até mesmo sonhando essas coisas. Palmeou uma de suas
nádegas e a apertou suavemente, sentindo como ele deixava cair a mão que estava
em seu seio. Tragou a saliva, sentindo sua virilidade se chocar contra sua
perna. Não evitou se lembrar do que aconteceu no dia anterior. Pobre de sua
criança... Afundou o nariz em seu pescoço, inspirando fundo seu aroma.

O intervalo de um mês no seu relacionamento íntimo com ele o fazia sofrer. Ela
sentia isso. Até mesmo ela sofria. Mas Christopher era homem, e os homens em
relação a assuntos íntimos não conseguiam disfarçar ou controlar a necessidade
que tinham de sexo. E Christopher não era diferente dos outros homens. Bom, ele
era menos diferente ainda, pois apenas saía da adolescência, a fase da
revolução hormonal. E apesar de tudo isso, ontem ele se negou a receber o que
necessitava. Qual era o porquê disso? Nunca em sua vida viu ou soube de um
homem que havia se recusado a receber prazer. Tragou a saliva, lembrando-se de
como Christopher ficou quando saiu da banheira. E então caiu a ficha de Dulce.
Ele havia se negado por sua causa, para poupar seu estado emocional. Tragou a
saliva outra vez, abrindo os olhos para encarar a pele de Christopher. Franziu
a testa a receber a claridade do dia em seus olhos. Christopher era real?
Fez-se um pouco para trás na cama e o observou dormir. Sim, era real. Esboçou
um sorriso. E era seu.

Chris: Móntame...

Ele riu de seus sussurros. A respiração dele se
volvia cada vez mais profunda, do mesmo jeito que respirava quando estava
excitado. Já o conhecia muito bem para discernir cada uma de suas respirações,
cada um de seus olhares, cada uma de suas expressões.... E o que via ali, era a
mais pura e clara excitação. E Dulce não podia negar que isso também mexia com
ela. Parecia que aqueles dois corpos eram programados para sentirem tudo o que
o outro sentia. Estavam conectados por um cabo invisível, um cabo de alta tensão.


Sem perceber, acariciava a perna de Christopher do mesmo jeito como quando
queria explorá-lo para buscar excitá-lo com o toque de suas mãos. Ele havia se
mexido para voltar a colar as costas no colchão, fazendo com que metade do
corpo dela ficasse sobre o dele. Dulce respirou fundo, colocando uma perna
entre as dele. Olhou o rosto dele, que havia se suavizado um pouco e percebeu
que estava profundamente adormecido. Dulce se apoiou em um cotovelo e subiu a
outra mão para seu peitoral. Com as costas da mão levantou um pouco o lençol e
se colocou deitada em cima dele. Ficou olhando para o rosto dele, enquanto se
acomodava em cima de seu corpo. Mas ele nem ao menos moveu um músculo sequer,
continuava a respirar tranquilamente, imerso em um sono profundo.