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Os dois sorriram e se abraçaram mais uma vez.

TOC TOC TOC

Os dois viraram a cabeça de uma vez para a porta, e logo se olharam outra vez.

Chris: Quem será?
Dulce: Não tenho idéia...
Chris: Pelo menos não chegaram em um momento inoportuno. Só me lembro daquela
vez no Brasil...
Dulce: Realmente.

A pessoa voltou a bater.

Chris: Eu vou no banheiro e você abre, ok? E, óbvio, coloca um roupão antes.

Ela assentiu e ele saiu de cima dela, rolando na cama até ficar em pé. Ela também ficou de
pé, sentindo como seus músculos pesados. Andou até o roupeiro e pegou um roupão
branco, o vestiu e foi até a porta, enquanto o amarrava na cintura. Mas a
pessoa continuava insistindo e ela gritou impaciente:

Dulce: Já vai!

Destrancou a porta e girou a maçaneta. Abriu a porta e tragou a saliva.

Dulce: Oi? (franzindo a testa)
Poncho: Bom dia! (sorridente)

Dulce arqueou uma sobrancelha ao ver Poncho tão
simpático e sorridente àquela hora da manhã.

Dulce: O que aconteceu no... (colocou a cabeça para fora se certificando) quarto
ao lado para que você despertasse a essa hora?
Poncho: Bom, não aconteceu nada demais... Mas acho que a você sim, já que não
tem a mais absurda idéia de que horas temos aqui.

Ela franziu a testa, enfiando as mãos nos bolsos frontais do roupão.

Dulce: E que horas são?
Poncho: Não importa que horas são...o que importa é que Pedro quer reunir todos
para sairmos daqui a vinte minutos.
Dulce: Puta que pariu... (resmungou baixinho fazendo Poncho rir) não posso me
arrumar em vinte minutos! (arregalou os olhos ao perceber que levaria uma
bronca por não estar pronta) E agora?
Poncho: Bom, hoje não vamos fazer nada demais. Não precisa se arrumar tanto...
(deu um passo a frente, estirando a mão para apartar o cabelo de Dulce da
testa) Vamos somente ensaiar até a tarde... O programa de televisão é só à
noite.. (deu mais uma passo a frente, dessa vez colocando uma mecha do cabelo
dela atrás da orelha) e terá tempo suficiente para ficar mais linda do que já
é.

Dulce tragou a saliva, franzindo a testa, preocupada
por ter perdido a hora. Nem ao menos prestava atenção que Poncho já a abraçava
pelos ombros trazendo-a para si, enquanto beijava sua cabeça. Poncho sorriu de
lado, sentindo como era bom abraçar Dulce, sentir a sintonia de seus
corpos...sentir como o corpo dela se moldava ao seu. Adorava abraçá-la,
beijá-la... Estar perto dela lhe fazia bem... sentia saudades, muitas saudades.
Mas a ele, ela já não mais pertencia.

Ele fechou os olhos tragando a saliva, e se deu conta de que era muito difícil
esquecer Dulce. Por mais mulheres que passaram por suas mãos, era sempre a
lembrança dela que ficava... Bastava vê-la para se recordar dos momentos bons
que viveram juntos. E o que era pior, a via todo dia e, conseqüentemente, todos
os dias as lembranças voltavam ainda mais a sua cabeça. Mais bonita, mais
sexy...era inevitável não sentir como seu sangue fervia ao vê-la... E ele sabia
que não queria mais se amarrar a Dulce como antes, era novo, tinha muita coisa
a viver. Dulce era para namorar, casar...ter filhos... E por enquanto ele não
queria alimentar essa idéia. Mas maldito fosse seu corpo, que sempre reagia
quando estava perto do dela. Queria uma noite com Dulce. Queria sentir prazer
no corpo dela... Queria o que ela havia lhe negado por dois anos.

Chris: Dulce...me empresta teu xamp...

A frase ficou pela metade quando Christopher virou a
cabeça e se deparou com o sobressalto de Dulce e Poncho, quem ao ouvir sua voz
deu um pulo para trás. Tragou a saliva e ficou olhando para os dois que o
olhavam espantados, por razões distintas, ou não tanto assim. Enxugou as mãos
molhadas pela toalha que lhe cobria a cintura e tragou a saliva, um pouco
constrangido pela situação. Dulce parecia uma estátua de madeira,
observando-lhe com perplexidade, para logo depois voltar à cara para Poncho
quem o observava da cabeça aos pés com um olhar bem significativo, para não
falar desapontado. Talvez fosse hora de que Poncho, por fim, apagasse o
fantasma da Dulce que foi sua namorada da cabeça. A situação era
constrangedora? Claro que sim. Afinal, Christopher estava careca de saber que a
relação de Dulce com Poncho nunca foi assim como a dele com ela. Não poderiam
mais ficar se enganando. Se os dois tinham que se assumir para todo mundo,
também tinham que se assumir para Poncho. Todos tinham que tirar essas
paranóias da cabeça. O único que existia agora era Dulce e Christopher, e o
passado devia ser colocado atrás. Por tanto, Christopher se obrigou a dar um
sorrisinho maroto e um aceno com a cabeça, cumprimentando a Poncho, como se
aquela cena em nada tivesse lhe afetado. Como se já fosse uma coisa
corriqueira. Abaixou-se de frente a bolsa de Dulce, ficando de cócoras, e a
abriu, enquanto procurava o xampu...

Dulce subiu o olhar para Poncho, quem havia cravado
o olhar no seu naquele instante. Ela sufocou a respiração, nervosa pela
situação. Estava se sentindo como se lhe tivessem pilhado no flagra. Sim, era
aquela a sensação. Não queria que Poncho soubesse o que acontecia entre ela e
Christopher entre quatro paredes. Bom, não era segredo para ninguém que os dois
já se relacionavam intimamente, obviamente, ele também sabia. Mas uma coisa é
saber, outra coisa é ver uma coisa tão óbvia como aquela. Poncho seria muito
ingênuo se achasse que Christopher veio do seu quarto de toalha para pedir
xampu, precisou ir ao banheiro, Dulce o permitiu e logo depois acontecia tudo
isso... Nenhum ser seria tão burro assim. A equação estava na cara de quem
quisesse ver... Dulce de roupão + Christopher só de toalha = Houve alguma coisa
ali. Mas mesmo assim não deixava de ser uma cena constrangedora. Nunca houve
nada disso entre Dulce e Poncho, nunca houve essa liberdade... E ela sentia que
era isso o que ele estava pensando agora que a encarava. Era lhe jogando na
cara todo o seu ressentimento... Era de uma vez por todas pondo fim a essa
história.

Dulce: Creio que agora me restam quinze minutos...

Poncho continuou do mesmo jeito.

Dulce: Agora vou me arrumar.

Então ele saiu do transe e meneou a cabeça em uma positiva e saiu rapidamente,
andando pelo corredor. Dulce piscou os olhos, vendo como ele entrava no
elevador sem olhar para trás. Franziu a testa um pouco confusa e girou sobre
seus calcanhares para voltar ao quarto. Fechou a porta e Christopher ainda
estava acocorado em frente a suas coisas. Mas ele não procurava nada, já estava
com o xampu nas mãos, mas a cabeça bem longe dali... Perdida em pensamentos.

Chris: Isso te balançou, verdade?

Dulce sentou-se na cama em cima de um pé e suspirou.

Dulce: Se dissesse que não estaria mentindo.
Chris: Você ainda gosta dele? (virou apenas o pescoço para vê-la)
Dulce: Gosto dele como um amigo. Mas é difícil... Essa ainda é uma situação
chata para mim. Eu e ele sabemos que não temos mais nada e nem que vamos ter.
Mas tivemos uma história, Christopher. Foram dois anos...
Chris: Estou de saco cheio de você esfregar na minha cara esses dois anos.
(levantou-se irritado) Já está na hora de acabar com isso. Você não está com
ele, Dulce. Você está comigo! (apontando com o frasco de xampu no peito) Poncho
é meu amigo, e vai continuar sendo meu amigo do mesmo jeito. Mas ele tem que
colocar na cabeça que vocês dois não existe mais. E não vai mais existir se
depender de mim.
Dulce: Eu sei!
Chris: Então por que volta sempre nesse assunto de poupar Poncho? Ele te
poupou, Dulce? Não! (cada vez mais irritado) Ele te perdeu!

Dulce mordeu os lábios, olhando para o chão, enquanto flashbacks preenchiam sua
mente.

Chris: E eu te ganhei! Eu te ganhei e estou com você! Não vou permitir que você
ouse falar novamente na porra desses dois anos que passou com ele!
(gesticulando) Já foi! Passado! Não volta mais. A menos que você queira! Você
quer?
Dulce: Não.
Chris: Então estamos conversados...

Deu meia volta e entrou no banheiro. Dulce suspirou
revirando os olhos, enquanto se jogava na cama de costas. Sentia algo estranho
em seu interior... Não era remorso. Mas era uma sensação de incomodo e algo de
receio. Como poderia agora voltar a olhar nos olhos de Poncho? Não gostou de
ver a decepção presente naqueles olhos verde-amarronzados... Abriu os olhos de
uma vez e sentou-se na cama.

Não tinha que ter pena de Poncho... Não era nada dele e não lhe devia
satisfação nenhuma de sua vida sexual. Christopher sim que merecia sua
atenção...ele sim que merecia sua consideração. Deu um sorrisinho, enquanto
desenlaçava o roupão, o atirou em cima da cama e entrou no banheiro...disposta
a acabar com esse clima ruim entre os dois.