Ela parou de soluçar por um momento, encarando o
teto, enquanto as lágrimas, todavia corriam por suas bochechas.

Doutor: Só quem pode decidir seu futuro...é você. Você tem o poder para decidir
o que será melhor para você, e ninguém, jamais, poderá lhe julgar.
Dulce: Por favor, Doutor! Não me olhe como se estivesse vendo uma assassina!
(levantou a voz pelo desespero)

O médico sorriu com seu grito desesperado, mas estava aliviado pelo escutado, e
entendeu o que ela quis dizer.

Doutor: E quero lhe dizer outra coisa...

Ela enxugou os olhos com o lenço e o olhou.

Doutor: Há um rapaz lhe esperando afora do quarto desde um pouco cedo. Achei
melhor não deixá-lo entrar, porque se ele for o pai da criança...vocês precisam
conversar com calma, e nesse momento você não está calma. Mas e agora... Você
quer recebê-lo?
Dulce: Ele é sim o meu namorado...

E ao lembrar de Christopher começou a chorar outra vez. O que diria a
Christopher? Qual seria a reação dele a sua notícia. Meu Deus! Por que aquilo
estava acontecendo? E novamente o choro compulsivo tomou conta dela.

Dulce: Não quero vê-lo... (olhou suplicante ao doutor) Agora não, por favor...

O médico pousou a mão em cima da dela e a apertou levemente.

Doutor: Vou dizer para ele que está dormindo... Mas lembre-se, uma hora ele vai
ter que saber.

O médico levantou-se, pegou suas coisas e caminhou para a porta.

Doutor: E lembre-se também... Nada na vida é ruim se foi feita com amor. E por
amor...vale a pena seguir em
frente.

O doutor saiu e as palavras dele continuaram ecoando em sua
mente.

“E por amor...vale a pena seguir em frente.”

Amava Christopher. Muito. Mas não conseguia se
conformar com as conseqüências desse imenso amor. Não estava preparada... Eles
não estavam preparados... O relacionamento dos dois não estava preparado para
isso... Meu Deus! Ninguém estava preparado...

Dulce: Te amo tanto… (disse ela em um fio
de voz)

Sentindo como Christopher a inundava outra vez com seu amor. Ele se desfazia em
espasmos, e enfiou o rosto no travesseiro, ao lado da cabeça de Dulce,
respirando fortemente. Ele moveu seus quadris para frente pela última vez,
desejando que nenhuma gota de seu “amor” ficasse fora dela. Apesar do cansaço,
subiu o rosto para vê-la e sorriu com o escutado. Dulce entranhou os dedos nos
cabelos dele e os penteou para trás. Estavam encharcados de suor. Enxugou a
testa dele com suas palmas, e perguntou sem encará-lo nos olhos fechados.

Dulce: Você me ama também?

Ele abriu lentamente os olhos e topou-se com seu olhar expectante.

Chris: Quero me casar contigo...

Deus! Dulce levou as mãos ao rosto. Foi nesse dia! Foi essa vez! Tragou a
saliva. Estava grávida! Grávida de Christopher! O que diriam? O que seus pais
diriam? O que a imprensa diria? O que seus colegas de banda diriam? O que
CHRISTOPHER diria?

O mundo estava vindo abaixo. Parecia que estava pressentindo que algo de ruim
aconteceria... Estava muito feliz, feliz até demais. E ninguém pode ser feliz
até demais, sem uma tristeza muito grande por trás.

Suspirou forte para agüentar as lágrimas que nasciam
em seus olhos. Lágrimas de desgosto, de incredulidade...de impotência. Mil e
uma coisas lhe estalavam o cérebro naquele momento. Palavras zumbiam em seus
ouvidos... Não queria ver ninguém! Não queria ouvir ninguém! Não queria ouvir
como a chamaria de mil e uma coisas! Não queria ver a expressão de desgosto no
rosto de Christopher! Não! Não conseguiria suportar sem ele! Não suportaria ver
como ele lhe dava as costas para um problema que era SÓ dela! Ela quem
carregaria aquela criança na barriga! Ela quem precisaria de cuidados! Ela que
abandonaria sua carreira!

E pensar em seu trabalho, fez com que uma lágrima escorresse por sua bochecha,
deixando um rastro de fogo por onde passava. Seu trabalho afundaria na merda
como ela... Ficaria gorda, quase obesa... a barriga pesaria, ela ficaria de mau
humor...seus pés inchariam. Nem queria pensar no quão feia ficaria grávida.
Tragou a saliva, enxugando as lágrimas. Tudo estava contra ela naquele momento.
Talvez seus fãs a odiassem também... Meu Deus! TERIA QUE DEIXAR A BANDA! Só de
pensar nisso, sentia como seu coração murchava. Pedro a despediria...talvez até
abalasse o sucesso que eles faziam. Todo mundo se prejudicaria por causa dela.
Por causa de suas fraquezas...e de sua burrice! Sim, foi burrice! Estupidez
pensar que não teria conseqüências...depois de esquecer de tomar a pílula.
Céus! O que faria agora? Estava sozinha! Talvez Pedro a mandasse embora logo
hoje! Talvez a escorraçasse dali como um cachorro velho! Pedro não queria uma
pessoa grávida em seu grupo... Naquele grupo não cabia uma criança. Talvez logo
ele arranjasse outra para preencher sua vaga... Uma mais bonita, uma que não
estivesse GRÁVIDA!

Pedro: Temos que ir, Dulce.

A voz de Pedro a sobressaltou. Abriu os olhos de uma
vez e viu como ele se encostava em sua cama.

Pedro: A Van que nos levará para a Transilvania já nos espera.

Ela enxugou os olhos, vendo-o melhor. Não conseguia decifrar a expressão no
rosto de Pedro, não sabia o que ele estava sentindo...e se desesperava por
isso.

Pedro: Hoje...vamos gravar algumas cenas sem você. O médico me pediu que a
mantivesse bem descansada, e que não fizesse nenhum esforço. Já falei com
alguém para lhe arrumar uma comida bem nutritiva. (abriu um sorriso) E te
salvei de provar a comida do hospital.

Estava confusa. Esperava ouvir gritos, acusações... Mas não esperava aquele
sorriso. O que Pedro estava ocultando?

Pedro: E se te preocupa...acho que nossa conversa deve ser adiada até que se
sinta um pouco melhor. Vou te dar dois dias para erguer essa cabeça, aceitar os
fatos...e decidir o que vai fazer. Depois disso, voltaremos a conversar. Antes
disso, ninguém jamais saberá pela minha boca o que aconteceu aqui nesse hospital
hoje. Mas se decidir contar, o problema é inteiramente seu. Por isso...trate de
descansar muito essa noite, pois amanhã terá que levantar cedo para gravar o
clipe. Nada ainda mudou, Dulce, lembre-se disso.

Dulce estava muda ante a reação de Pedro. Não esperava nunca isso dele... O viu
lhe dando as costas e saindo do quarto como entrou, sorrateiramente. E logo que
ele saiu uma enfermeira entrou, para retirar o soro em sua mão, vendá-lo com um
curativo. E ajudá-la com um banho...

Christopher estava do lado de fora, comendo as unhas
por não saber nada de Dulce. Viu médico entrando, saindo... Pedro entrando,
saindo... Enfermeira entrando...e ainda não saindo. Acordou às cinco da manhã
depois de um pesadelo horrível, o que o deixou ainda mais apreensivo. E o fato
de não sentir Dulce ao seu lado, fez com que ele levantasse de um pulo,
ignorando a dor de cabeça que o exagero de vinho lhe causou na noite anterior.
Havia anotado o nome do hospital onde Dulce estava internada e só fez entregar
ao taxista que logo o achou. O pagou em dólares, o bastante para três corridas,
o homem lhe disse a quantia...o problema era ele entender o que estava sendo
falado. Mas alcançou seu objetivo...chegou ao hospital. Porém foi outra luta
para saber em qual quarto estava Dulce.

E agora estava ali, em pé, na frente da porta do quarto esperando para ver
Dulce. Pedro havia lhe resumido um pouco o problema. Já sabia que Dulce estava
com principio de anemia, e que também estava muito debilitada, devido ao
cansaço. E ele ficou aliviado, não saía de sua cabeça que Dulce pudesse estar
sofrendo de algo grave. Mas era anemia... Anemia tinha cura. E ele mesmo seria
o responsável por essa cura. Aproveitou esse momento que Dulce estava dormindo
para conversar com Pedro. O médico havia lhe dado mil e um conselhos para
tratar Dulce. E Pedro disse que ele seria de vital importância para cuidar da
saúde de Dulce. Respirou fundo, quando ele saiu para atender um telefonema...
Cruzou os braços esperando o momento de Dulce sair daquela sala. Já não
agüentava mais estar ali. Tinha que ver com seus próprios olhos que ela estava
bem.

Viu o trinco da porta se mexendo... E se incorporou rapidamente, vendo como a
mesma se abria...e dela saía a enfermeira, quem chamou o médico, que entrou
novamente...e que fechou a porta, novamente, na sua cara. Ele franziu a testa,
confuso com aquilo. Era impressão sua ou não queriam que ele entrasse no
quarto?

Ergueu uma sobrancelha não querendo pensar nisso.
Estalou todos os seus dedos, não agüentando mais ter que esperar. Por que não
podia entrar? Queria saber por quê... Dulce já não mais estava dormindo, já
estava acordada, Pedro havia lhe dito. Então por que diabos não o deixavam
entrar? E ele se irritou com aquilo, deu um passo a frente disposto a entrar a
força no quarto... Mas ao colocar a mão sobre a maçaneta, alguém foi mais
rápido e abriu a porta, deixando transparecer uma cabeça vermelha logo atrás da
enfermeira. Não conseguiu desgrudar o olhar dela...querendo ver algo...querendo
escutar sua voz...mas todos se calaram ao notar sua presença. A enfermeira foi
a primeira a sair, e logo atrás dela encontrou Dulce, quem caminhava devagar.
Seus olhos a varreram por completo. Os cabelos soltos caíam sem brilho sobre
seus ombros, a pele muito pálida contrastava com o escuro de seus óculos que
lhe cobriam a metade do rosto. Ela trajava a roupa folgada que lhe trouxera
numa bolsa, a pedido de Maite, que abriu um olho ao sentir como ele estava
pronto para sair. Pôs uma camisa de mangas longas, uma camisa fina e uma calça
folgada.

http://img105.imageshack.us/img105/8705/107488937at1.jpg

Tragou a saliva ao vê-la tão frágil. Chegava a lhe partir o coração. Estendeu
os braços para ela à medida que se aproximavam. E viu como sua expressão séria,
se transformou em uma expressão chorosa. Fechou os olhos, respirando aliviado
ao senti-la entre seus braços. Estava bem... Delicadamente, colocou a mão na
parte detrás de sua cabeça, sentindo uma pequena elevação. E logo entendeu que
Dulce havia ganhando um galo de presente. Ouvia como ela arquejava, e arquejava
forte como se estivesse contendo as lágrimas. Ele se afastou dela, para ver
seus olhos e subiu seus óculos. Os olhos vermelhos de Dulce fizeram com que ele
franzisse a testa, preocupado.

Chris:
Por que...?

Dulce negou com a cabeça, enterrando sua cabeça no peito dele.

Dulce: Me...tira daqui...

E ele entendeu. Dulce não queria perguntas agora. Estava preocupado. Dulce
estava muito abalada. E enquanto caminhavam para fora do hospital, ele não a
soltou em nenhum minuto. O silêncio entre os dois naquele momento era
suportável... O entendia. Mas não o entenderia para sempre...

Algo acontecera ali. E na cabeça dele, só passava o pior.