A viagem para a Transilvania foi muito tranqüila e,
aterradoramente, silenciosa. Foram em um carro pequeno somente Christopher,
Dulce, Pedro e o motorista. Falavam uma, duas, três frases e logo o silêncio
reinava entre todos. Christopher ainda conseguiu fazer Dulce comer algumas
frutas, e uns biscoitos, o que ela fez mais por obrigação do que por vontade
própria. Comeu sem reclamar. Comeu sem falar nada. Desde que saíram de
Bucareste ela não havia dito nenhuma palavra. E Christopher também não lhe
perguntou nada. Precisava da discrição do quarto para as perguntas...
Necessitava saber o que acontecia com ela. Até mesmo Pedro estava diferente...
Mas era normal em Pedro, estar às vezes, calado, pensativo... Mas Dulce não.
Seu sexto sentido lhe gritava que algo estava mal e esperava de coração aberto
que ela lhe dissesse.

Olhou para baixo, vendo como ela dormia com a cabeça apoiada em suas coxas. Ele
esboçou um sorriso lembrando-se dela do mesmo jeito há mais de um ano atrás na
Colômbia. Tantas coisas passaram... Antes daquele dia eram quase como dois
estranhos, agora eram companheiros inseparáveis. Colocou uma mecha de cabelo
dela atrás da orelha, perdido em pensamentos. Sentira
tanta agonia por vê-la naquele estado. Nunca na vida sentira tanto medo quanto
ontem. Dulce era vital para sua vida. Se acontecesse algo a ela... Suspirou,
não querendo nem pensar nisso. Ainda queria morar com ela...e partilhar tudo
com ela. Os dois juntos seriam uma equipe vitoriosa, sempre. E ele queria muito
que Dulce estivesse ao seu lado no dia em que um de seus maiores sonhos se
tornasse realidade.

Via a paisagem pela janela e tentava afastar os
pensamentos ruins de sua cabeça. E a cada quinze minutos, aplicava a bolsa de
gelo na cabeça de Dulce, para que o galo baixasse. E quando chegaram ao pequeno
Hotel-fazenda que ficariam na Transilvania. Ele suspirou. Acordou Dulce, quem
se espreguiçou dentro do carro. E ao lembrar do que estava vivendo na
realidade, obrigou-se a fingir um sorriso a Christopher, quem a ajudou a sair
do carro. Assim que entraram, logo algumas pessoas da produção como seus amigos
da banda se acercaram a ela para certificar-se de que ela estava realmente bem.
Dulce deu um sorrisinho fraco enquanto buscava falar somente o essencial para
que todos soubessem, sendo guiada por Christopher e logo após por Christian,
quem a levou até seu quarto.

Christian: Está bem, mesmo?

Ele abriu a porta do quarto de Dulce, vendo como ela se sentava na cama.

Dulce: Sim... O médico disse que eu tenho que descansar bem.
Christian: Pois sim. Por isso trate de deitar logo nessa cama, porque amanhã
faça chuva ou faça sol, você tem que gravar o clipe.
Dulce: Isso é verdade! (ela esboçou um sorriso, tirando as chinelas para se
deitar na cama)

Christian se deitou aos pés de Dulce, apoiou um cotovelo na cama, enquanto
sustentava a cabeça com a mão. E com a outras levou até um pé dela para lhe
fazer uma massagem.

Christian: Já sabe que você vai beijar outro cara?

Dulce tirou o dedo na boca e franziu a testa.

Dulce: Como assim?
Christian: No clipe. Você vai beijar um cara, Chris uma garota...e Poncho
também.
Dulce: Que legal! (sorriu irônica) Ninguém me disse nada!
Christian: Parece que é um negócio de brincadeira da garrafa. (Christian riu
debochado)
Dulce: Creio que Pedro está só colocando lenha na fogueira.

Ele assentiu rindo, enquanto apertava seu pé.

Christian: Isso é verdade.
Dulce: Foi verdade que Christopher passou mal?
Christian: Meu Deus! (desmanchou o sorriso e ficou sério) Foi verdade! Sentiu
outra daquelas falta de ar...
Dulce: Mas ele ficou mal?
Christian: Sim, ele ficou perto de desmaiar também.

Dulce ficou preocupada. Fazia tempo que ele não tinha mais essas crises. E
acreditava em Christian, e pela cara de seu amigo, realmente o que passou com
Christopher foi mais grave do que pensava. Passaram algum tempo calados, depois
Christian começou a lhe contar as últimas fofocas sobre todos, distraindo um
pouco sua mente. Fazendo-a esquecer, pelo menos por alguns minutos, o dilema
que estava vivendo.

Que pena que foram somente por alguns minutos...

Algo que Christian falou fez com que ela se lembrasse do que o médico dissera.

Havia duas escolhas...

Nenhuma das duas a deixaria com a consciência tranqüila.

Já não ouvia nada mais o que seu amigo dizia. Estava totalmente absorta em seus
pensamentos. Sentiu vontade de chorar ao se lembrar de tudo que perderia com
isso, em tudo o que deixaria de lado, em tudo o que teria que abandonar.

Fechou os olhos por um segundo, sentindo como a angústia crescia dentro de si.
Queria tanto saber o que fazer... Queria tanto que uma pessoa lhe ajudasse.
Queria tanto não estar passando por isso. Olhou para Christian, sentindo como
seus olhos começavam a marejar.

Christian não seria a pessoa que poderia lhe ajudar...
Christopher não era a pessoa que poderia lhe ajudar.
Ninguém poderia lhe ajudar!

Tentou puxar o ar de seus pulmões. E Christian se deu conta de que algo mal
estava passando. Sentou-se de uma vez na cama e olhou para Dulce.

Christian: Está passando mal? Está sentindo alguma dor?

Dulce abriu os olhos e sorriu com ternura.

Dulce: Acho que foi o remédio que eu tomei...me deixou sonolenta, só isso.
Christian: Ahhh... (ele se levantou de uma vez, compreensivo) Então vou lhe
deixar dormir, quero que descanse bem. Quero minha ruiva de volta!

Ele se abaixou até ela e lhe deu um beijo na bochecha.

Dulce: Te quiero, wero. (passou a mão no rosto dele com suavidade e apertou sua
bochecha) Te quiero mucho, não esqueça...

Ele deu um sorrisinho e logo lhe deu outro beijo.

Christopher entrou no quarto com uma bandeja na mão e viu aquela cena.

Chris: Não mato um aqui, porque sei que nosso amigo não gosta da fruta.

Christian se incorporou sorrindo e Dulce riu também, vendo-o entrar com a
bandeja. Ele a depositou numa mesa que havia ao lado e virou-se para os dois.

Christian: Mas essa fruta deve ser tão “Dulce”...que até eu queria provar!

Dulce se ergueu de uma vez e lhe deu um tapa na
bunda. Christian deu um salto para frente gargalhando, enquanto via Christopher
assumir seu posto, sentou-se ao lado de Dulce na cama. Ele se abaixou e
encostou seus lábios de leve nos seus. Dulce sentiu vontade de chorar outra
vez. Passou a mão no rosto dele e lhe deu outro beijo.

Christian: Gente...que coisa linda. Trouxe comida.

Christopher incorporou-se ao ouvir a voz de Christian, levantou-se devagar e
caminhou até a bandeja. Dulce sentou-se para ver qual era o cardápio, e ele
colocou a bandeja nas pernas dela. Destapou os pratos com um sorriso, ao ver a
cara de desgosto de Dulce.

Dulce: O que é isso? (Olhando horrorizada para os pratos)
Christopher: De acordo com sua dieta... Um prato com sopa de feijão e uma fatia
de fígado bovino ao molho, com algo de arroz e salada. E para acompanhar...um
suco de beterraba...

Dulce arregalou os olhos e continuou a falar, com um sorriso no rosto.

Chris: [...] com laranja!

E deu um sorriso com o canto da boca, sabendo que Dulce iria se recusar a
comer. Mas ela não disse nada, somente revirou os olhos pegando os talheres e
começou com a sopa de feijão. Christian ria da cara dela, quem não parecia
gostar muito da comida. E saiu do quarto rindo, enquanto Christopher somente a olhava,
vigiando-lhe as garfadas, colheradas e sorvos.

Não foi fácil para ela mastigar o fígado...várias
vezes sentiu como a comida lhe voltava pelo esôfago, mas somente fechou os
olhos apertando-os e respirou fundo, ainda mastigando. Christopher lhe limpava
a boca cada vez que ela tomava o suco. Dulce logo acabou com o prato de salada,
com a sopa de feijão...mas deixou dois pedaços do fígado. E ele ponderou, rindo
satisfeito.

Chris: Gostei! Comeu quase tudo. (ele pegou a bandeja das pernas dela, enquanto
ela enxugava os cantos da boca com um guardanapo) Ainda bem que está consciente
de que se não fizer esse esforço não vai ficar boa...
Dulce: Fígado! (fez cara de nojo)

Ele riu, colocando a bandeja em cima da mesa.

Chris: Quero que se recupere por nós dois, Dulce. Por você e por mim...

“E pelo nosso bebê...”

Dulce trincou os dentes ao pensar nisso.

Chris: Quero que esteja bem. E vou me empenhar muito para isso, nem que eu
tenha que te obrigar.
Dulce: É só uma anemia, cielo...

Olhou para ele consciente de que não era só isso, era algo muito maior e muito
mais complexo. Por isso, continuou:

Dulce: Eu não vou morrer.
Chris: Se não se cuidar você vai!
Dulce: Agora eu tenho uma escolha?
Chris: Não!

Os dois riram. Ele pousou uma mão na perna dela e a apertou de leve.

Chris: Não quero mais passar o que passei ontem. (ele a encarou nos olhos) Ver
você caindo... (tragou a saliva) Passou tanta coisa pela minha cabeça, nem sei
como explicar. (ele baixou a mirada para suas mãos que estavam juntas em seu
colo)
Dulce: Christopher...

Ele subiu o rosto para vê-la.

Dulce: Passe o que passe vamos estar juntos, não é?

Ele franziu a testa, não entendendo o que Dulce queria dizer com aquilo. E
voltou há um mês atrás, quando ele lhe perguntara a mesma coisa antes de sair
do carro para assumirem juntos, de uma vez por todas, essa relação.

Chris: S-sim, não? (balbuciou querendo entender)

Ela assentiu sem dizer nada. E ele não a questionou,
vendo como ela se deitava outra vez na cama.

Ainda não era hora para perguntas. Por isso tratou de cobri-la bem até os pés.

Chris: Agora eu vou tomar um banho para gravar o clipe.
Dulce: Vai beijar outra?
Chris: Fiquei sabendo disso... (coçando a barbicha) Não gostei.
Dulce: Muito menos eu.
Chris: Mas...
Dulce: Não vai ser de verdade.
Chris: Isso mesmo.
Dulce: Não amo mais ninguém.
Chris: Sim, verdade... Vai ser como beijar um poste.

Os dois riram se dando conta de que estavam tentando explicar o que estavam
carecas de saber.

Dulce: Não agarra muito ela, ok? Não quero que chegue muito perto também.
Chris: Essa cena só gravaremos com você presente.
Dulce: Humm...menos mau.

Ele somente sorriu e levantou-se da cama. Ela ficou olhando para ele que se
abaixava para pegar uma roupa em sua mala. Encarou as costas dele, sentindo
como as lágrimas subiam a seus olhos... Não tinha coragem de lhe contar! Ainda
não!

Dulce
cerrou os punhos debaixo do edredom e fechou os olhos com força, se xingando em pensamentos. Virou-se
para o lado de uma vez para que ele não notasse que estava chorando e rezou em
silêncio para que tudo saísse bem, apesar das circunstâncias.