Dulce: E como estão todos por aí?
Blanca: Preocupadíssimos com você! Seu pai também não dormiu... Eu chorei tanto
quando vi o vídeo.
Dulce: Vocês já viram?
Blanca: Claro, La Oreja
já o passou na TV. Todos vimos como Christopher passou mal também. Alexandra já
me ligou desesperada.
Dulce: Humm...ela está bem?
Blanca: Sim. Também preocupada com o filho, mas Christopher já falou com ela e
lhe explicou que estava tudo bem.
Dulce: Ele está bem, sim. Agora me vigia enquanto estou comendo. Me fez comer
horrores hoje.
Blanca: Eu que mandei! (disse rindo) Dei-lhe ordens expressas para que não
saísse do seu lado enquanto comia.
Dulce: Ahh...agora vejo que estão de complô contra mim.
Blanca: Claro que não, filha. Estamos de complô a seu favor. Queremos vê-la bem
outra vez... E para isso temos que ajudá-la nesse processo. Como eu não estou
por perto, ele fará meu papel.

As duas fizeram silêncio por um momento. Dulce sentiu seu coração disparar
outra vez, apertou os olhos com força no intento de criar coragem para dizer.

Blanca: Há algo que queira me dizer, Dulce?

A voz de sua mãe a fez abrir os olhos e assentir para o nada. Respirou fundo,
tão alto...que com certeza sua mãe ouvira do outro lado da linha.

Blanca: Algo te inquieta?

Moveu os lábios, mas nada saía. Era como se sua voz estivesse travada, não
conseguia dizer absolutamente nada.

Blanca: Está me assustando! Passou algo, filha? Por favor...me diga.
Dulce: S-sim...

Pronunciou a palavra em um fio de voz, com muito
trabalho. Queria poder gritar o que estava lhe passando, mas a força do medo
não a deixava expressar tudo o que estava sentindo.

Blanca: O que foi? Algo grave? Você está se sentindo bem?
Dulce: Mamãe...

Vacilou por dois segundos, sentindo como soluços se criavam em sua garganta.
Sua vista embaçou novamente pelas lágrimas...

Apenas pare e ouça suas lágrimas
Elas são tudo que você tem

Dulce disparou em um choro sentindo, desesperado... Fazendo com que Blanca se
revolvesse em seu lugar. Seus próprios olhos também se encheram de lágrimas ao
sentir como a impotência de não saber o que afligia sua filha lhe embargava o
peito. Trancou-se em seu quarto. Sua intuição de mãe sabia que o que viria ali
não seria algo superficial. Ela sentia que algo importante sairia da boca de
Dulce, enquanto ela pudesse parar de soluçar.

Blanca: Dulce... (a voz soara chorosa) Por favor...
Dulce: E-eu...
Blanca: O que, minha filha? Diga-me, por favor. Eu quero lhe ajudar!

A voz de sua mãe saía chorosa, tinha certeza de que ela estava andando em
círculos em algum lugar. Blanca estava muito preocupada... E ela não parava de
chorar.

Blanca: Por favor, confie em
mim... Me conte o que está passando, por favor!
Dulce: Eu v-vou...
Blanca: Vai para onde, meu amor? Me diga!

A voz ansiosa de sua mãe, fez com que ela respirasse fundo, reunindo força para
dizer o que já não poderia mais se calado.

Dulce: E-eu vou ter um f-filho...

Silêncio. Total silêncio. Dulce passou a mão livre
por seu rosto, tirando um pouco o excesso de umidade que havia nele. Abriu os
olhos devagar, sentindo-se um pouco tonta. Sempre era assim quando chorava, e
nesse dia, fora a coisa que mais fizera... Chorar, chorar...e chorar. E lhe
dava ainda mais vontade de chorar, a expectativa que criava em torno das
palavras de sua mãe. Sabia como ela estava chocada. Muito chocada...assim como
ela ficara também.

Blanca: Filho? É isso? Você está grávida?
Dulce: Sim...

Mais silêncio. E Dulce não agüentou, respirou fundo mais uma vez.
Blanca: Isso é muito sério, minha filha. Não é algo para fazer suposições. Se
está com dúvida, compre um teste de farmácia e o faça.

Dulce se desesperou por sua mãe não se dar conta de que já sabia que estava
grávida. E isso a desesperou novamente, e explodiu sem levantar a voz.

Dulce: Eu já fiz, mãe! Eu estou grávida! Grávida de um filho que vai acabar com
a minha vida!

Outra vez o silêncio por parte de sua mãe, pois Dulce não conseguia se calar.
Tinha medo de calar por um segundo e perder a coragem. Agora que abrira a boca
iria até o final.

Dulce: Recebi hoje a pior notícia da minha vida, como acha que estou me
sentindo? Doente e grávida! Grávida! Sabe o que essa palavra significa para
mim?! Tem idéia?
Blanca: Dulce... Por favor...
Dulce: Não parei de chorar o dia inteiro! Porque eu sei que a culpa todinha é
minha! (gradativamente foi levantando a voz) E eu sei que...
Blanca: FICA QUIETA, DULCE!

Dulce se calou na mesma hora, e franziu a testa
sabendo que um novo embate de lágrimas se formava em seus olhos.

Blanca: Como você me diz assim que está grávida?!

Agora quem levantava a voz era sua mãe.

Blanca: Você acha que eu não sei como se sente nesse momento? Você acha que eu
não sei o que um filho te trará?! Por favor! EU SOU SUA MÃE! Eu sinto tudo o
que você sente, eu sei de tudo o que você sente! (falava rápido pelo nervosismo)
E pára de se culpar, pelo o amor de Deus! Não foi só sua culpa! Ninguém faz
filho sozinho!
Dulce: A senhora não entende!
Blanca: Claro que eu entendo, Dulce! Você está grávida! E o quê? Daqui a nove
meses eu vou ter um neto!
Dulce: Eu não...
Blanca: Você não vai o quê? Ter esse filho? (ouviu um soluço de Dulce pelo
outro lado da linha) Ah vai! Você vai! Nem que eu tenha que te trazer pelos
cabelos e ficar vinte e quatro horas te vigiando.
Dulce: A Senhora não pode me obrigar! (levantou a voz ao mesmo tom de sua mãe)

Silêncio outra vez. E pouco tempo depois, ouviu novamente a voz de sua mãe,
mais controlada, porém com um tom de voz que beirava a tristeza.

Blanca: Sim, eu não posso te obrigar a nada.

Dulce disparou em choro.

Dulce: Me ajuda, por favor! Fica do meu lado! Não me deixa sozinha!

O apelo desesperado de Dulce fez com que Blanca
levasse a mão livre aos olhos, começando a chorar junto com a filha.

Dulce: Me ajuda, por favor...
Blanca: Filha...

E quanto mais uma chorava, a outra chorava do mesmo jeito.

Dulce: Eu não sei...o que fazer... (dizia entre soluços) Vai acabar tudo...
Blanca: N-não pense... Isso, por favor... Pense que algo acabará... (suspirou)
mas que outra coisa muito melhor começará.
Dulce: Por quê está p-passando isso comigo?
Blanca: Não é hora de se perguntar o porquê... Agora é hora de medidas a tomar.
(fungou reprimindo as lágrimas e continuou) Você tem que erguer a cabeça e
tomar uma decisão, Dulce. Christopher já sabe?
Dulce: Eu não disse nada...
Blanca: Ele tem que saber...

As duas estavam se acalmando pouco a pouco.

Dulce: Eu não tenho coragem...
Blanca: Mas ele tem que saber o quanto antes! Ele é o pai, e vocês dois terão
muito o que conversar.

Dulce ignorou o que sua mãe disse e respirou fundo, tentando se controlar.

Dulce: E eu? E eu?!
Blanca: Vai ter que se conformar, infelizmente.

As duas ficaram em silêncio, enquanto ambas
enxugavam os olhos.

Blanca: Está há quanto tempo?
Dulce: Há 5 semanas... Tive relações com ele, e só depois fui lembrar que tinha
esquecido de tomar o remédio do dia anterior.
Blanca: Não sei o que dizer... (balbuciou antes de continuar) Você sabe o que
eu penso sobre isso e eu não posso lhe obrigar a nada...
Dulce: Não vou abortar! Meu Deus! Eu não seria capaz disso! (disse ela em
desespero)
Blanca: Eu ficaria muito decepcionada se pelo menos cogitasse a hipótese
disso... (suspirou) Sei o quanto vai ser difícil, Dulce, mas é para isso que
nós estamos aqui. Para lhe apoiar sempre. Nunca vamos virar as costas para
você, meu amor. Somos sua família...
Dulce: E Christopher, mamãe? O que eu vou dizer a ele? O que eu vou dizer a
todo mundo?!
Blanca: A verdade! O mal maior já aconteceu, Dulce. Agora é erguer a cabeça e
enfrentar as conseqüências de frente.
Dulce: Como se fosse tão fácil...
Blanca: Eu sei que não será! Mas não pode se esconder para sempre!
Dulce: Eu não sei o que fazer... Estou perdida...
Blanca: Calma! Primeiro se acalme! Eu vou para a Espanha lhe esperar, e juntas
a gente vai decidir como iremos fazer com essa história. Mas se acalme! Não é
bom ficar chorando muito, ainda mais pela pancada na sua cabeça! (falava rápido
ainda mais nervosa que Dulce) Não tome nenhum tipo de remédio como o médico
disse! Seja forte, milha filha! Seja forte mais uma vez!

Dulce não conseguiu responder com precisão aos
apelos de sua mãe. Conversaram mais um pouco. Dulce explicou que Pedro já
soubera de tudo e que amanhã conversariam seriamente sobre a situação. Mas por
incrível que parecesse, Dulce não estava com medo de ir ao encontro de Pedro.
Estava envergonhada, sim... Era comum de se esperar essa reação. Mas nunca com
medo. Pedro, com certeza, estaria muito insatisfeito com a situação, mas nunca
lhe agrediria com palavras.

Dulce andou pelo quarto, pensativa. Sua mãe tinha falado que Christopher tinha
que saber com urgência. Os dois poderiam se ajudar nesse momento. Tragou a
saliva. Sim, Christopher poderia lhe ajudar, mas e ele? Quem o iria ajudar? Ela
não tinha condições nem de se ajudar, nem muito menos de ajudá-lo. Meu Deus,
que dilema! Como a vida era surpreendente, chegava a ser irônico isso. Seu
mundo virou de pernas para o ar em questão de horas.

Dulce: Christopher tem que saber...(repetiu para si mesma) Christopher tem que
saber...ainda hoje...

Tragou a saliva buscando forças onde ela não tinha. Ele tinha que saber...
Juntos poderiam achar um meio para escapar dessa, ilesos. Levou a mão à boca,
mordendo os cantos das unhas, enquanto olhava para o nada.

Seria hoje.

O contaria. E que Deus a ajudasse!