Christopher sorriu ao ver como ele demorava a
abotoar o sutiã, levantou-se sem demora e a ajudou.

Dulce: O cabelo está enganchando.

Ele tirou o cabelo molhado das costas dela e o colocou de lado. Somente depois
disso ela conseguiu pôr o sutiã de uma vez por todas. Christopher voltou para
seu assento, vendo como ela colocava uma camiseta cinza por cima do sutiã
preto, e assentiu aprovando.

Chris: Gostei... (disse ele mastigando)
Dulce: Não vou gravar com essa roupa.
Chris: E por que não? (com a boca cheia)

Ela riu não respondendo, calçou uma sandália
qualquer, enxugou mais uma vez os cabelos e sentou-se para comer também.
Christopher lhe enumerou o que ela ia comer, e ela franziu a testa olhando-o de
soslaio.

Chris: Sua mãe e eu vamos lutar com você, ok! E ela me deu carta branca para
lhe cobrar.

Dulce riu e pegou a metade do mamão que ele quis que ela comesse primeiro. O
resto da lista foi um pouco melhor, frutas, pães, geléias, sucos... mas faltava
algo...

Dulce: Onde está o meu café?
Chris: Café de jeito nenhum.
Dulce: Por que não?
Chris: Pedro me disse que você não vai poder tomar... (coçou um pouco a cabeça)
Eu também não sei o porquê, mas café não pode de maneira nenhuma.

Dulce tragou a saliva. Ela sabia o porquê. Ele também teria que saber o porquê.
Mas estava cada vez mais difícil. Decidiu que era melhor adiar mais um pouco.
Sabia que ele ficaria muito surpreso e que talvez o atrapalhasse na gravação.
Conhecia Christopher, ele não era tão frio como ela, que conseguia camuflar
todos seus sentimentos se quisesse. Christopher era muito transparente.

Tinha que se segurar, suspirou enquanto comia um troço de melão. Tinha que se
segurar. Conversaria com ele quando chegassem das gravações. Tinha que colocar
na cabeça que Christopher iria ficar ao seu lado em qualquer situação,
principalmente nessa. Sabia do desejo dele por ter um bebê com ela. Elevou a
comissura dos lábios se enchendo de esperanças... Talvez ele ficasse até feliz
em saber que agora formariam uma família.

Ele a olhou de soslaio, vendo-a olhar para o nada e
sorrindo como uma boba. Ele sorriu também, sendo contagiado por aquela magia
suave que os rondava.

Chris: Do que está rindo?

Ela saiu do transe, ladeando a cabeça para vê-lo, engoliu a comida e respondeu:

Dulce: Estava pensando em umas coisas.
Chris: Que coisas, posso saber?
Dulce: De como o mundo dá voltas.

Christopher abriu um sorriso.

Chris: Já sei, estava no mundo da lua?
Dulce: Talvez...
Chris: Isso não é nenhuma novidade para mim. (sorrindo)
Dulce: Estava pensando em nós, para variar.

Ele franziu as sobracelhas, levando a mão para coçar a barbicha.

Chris: Hoje acordou romântica? (ela riu)
Dulce: Talvez sim.
Chris: Então está feliz com algo?
Dulce: Digamos que estou em processo de aceitação.
Chris: De que?

“De que vou ter um filho seu...”. Chegou à ponta da língua, mas seus lábios não
se entreabriram para deixar sair o som. Tragou a saliva pensando em algo mais
para responder. Ainda não era a hora, ainda não...

Dulce: Digamos que hoje acordei pensando diferente.
Chris: Digamos que eu não estou entendendo porcaria nenhuma do que está
dizendo. (ela sorriu) Pode explicar?
Dulce: São coisas minhas, você sabe. (e tomou outra colherada do melão)
Chris: Sei, sei sim.... Sei que você está mais louca que nunca. Será que a
pancada na cabeça te afetou o cérebro?
Dulce: Talvez não só o cérebro... (e deu um sorrisinho irônico enquanto
mastigava)
Chris: Qualquer que seja o seu problema... Você me contaria, não?

Ela ergueu a cabeça para vê-los nos olhos e parou imediatamente de mastigar ao
sentir certa desconfiança na voz dele.

Chris: Qualquer coisa, Dulce?
Dulce: S-sim, não?
Chris: Espero que sim. Espero realmente que sim. Sou seu namorado, mas antes
disso...sou seu amigo. Acho que já temos bastante intimidade para nos falarmos
sobre qualquer coisa... Acho que já temos muita intimidade para que você se
sinta no direito de reclamar minha atenção e a recorrer a mim em primeiro lugar.
Já disse que pode contar comigo sempre, mas às vezes acho que você não quer...
Dulce: Do que está falando?

Ele se ajeitou na cadeira e se projetou para frente, sabendo que não dava mais
para calar o que já havia calado ontem. Dulce estava melhor, já se sentia
melhor... E por que ela não lhe disse o que houvera naquele hospital? Não
conversaram quase nada depois que ela saiu de lá. Precisava saber de tudo o que
havia acontecido...precisava saber o motivo que a fez chorar em seus braços
quando lhe viu na porta do quarto.

Não podia parar de pensar... Queria saber, queria ajudá-la no que fosse, queria
tirar essa angústia que lhe rasgava o peito a cada vez que olhava para Dulce e
lembrava de seu choro desesperado naquele hospital.

Chris: O que realmente houve naquele hospital,
Dulce? (ela franziu a testa, demonstrando sua surpresa) Por que, quando me viu,
chorou daquele jeito? Ontem tivemos tempo suficiente para que você me contasse,
mas eu te deixei a vontade... Não queria te pressionar, queria que se sentisse
bem para me contar o que houve. Mas desde quando te vi ontem, estou
angustiado... E-eu não sei como explicar... Eu sinto que há algo mais. Algo que
você não me disse. Você ontem estava estranha, ok, está doente... Mas as coisas
que você falava... Me deixaram pensando muito...

Dulce estava nervosa por dentro. Muito nervosa. Se Christopher continuasse,
talvez ela pudesse ceder. E de jeito nenhum a hora era aquele. Por isso colocou
um sorriso na cara, disfarçando bem o que sentia por dentro.

Dulce: Acho que está na profissão errada, querido. Deveria abrir uma tenda para
ler as mãos. ( e riu a vontade) Ultimamente tem tido vários pressentimentos,
parece coisa de cigano.
Chris: Não estou para brincadeiras. Estou falando sério, e quero que fale sério
também.

Ela desfez o sorriso na mesma hora, baixando o olhar para o melão.

Chris: Eu te conheço, Dulce. Sei que faz de tudo pra esconder o que sente...
Mas, felizmente, de mim isso não cola mais. Sei que algo está acontecendo...
Dulce: Christopher...

Ele parou de falar e ladeou a cabeça, vendo como ela mexia com a colher olhando
para o melão.

Dulce: Não acho que devamos conversar agora.

Chris:
Então há algo?
Dulce: Sim, há algo. Algo que não podemos conversar rapidamente, temos que ter
todo o tempo do mundo.
Chris: É algo sério? (ele franziu a testa receoso)
Dulce: Sim.
Chris: Está me assustando... Quero saber logo o que é.

Ela tragou a saliva, sentindo como cerco se fechava a cada vez que ela abria a
boca.

Dulce: É muito sério...
Chris: Me diga logo! Eu quero saber!

Ele levantou a voz com autoridade, fazendo com que ela virasse a cabeça para
encará-lo.