Dulce: Não me fale nesse tom, não gosto! (falou no
mesmo tom que ele)
Chris: Certo... (respirou fundo baixando a voz) mas agora estou preocupado! É
algo com você? A anemia é mais grave do que pensávamos? O que houve, me diga!
Confie em mim!
Dulce: Agora não, Christopher. Hoje teremos uma maratona pela frente, não quero
que nada atrapalhe isso.

Ele se irritou com isso, levantou-se de uma vez, fazendo com que a cadeira
caísse para trás, fazendo um ruído imenso no quarto. Mais uma vez Dulce
colocava o trabalho na frente dos dois.

Dulce virou para o lado assustada, vendo como ele estava prestes a explodir.

Chris: Sempre é assim! Sempre as coisas têm que ser do seu jeito! (saiu andando
pelo quarto) E sempre eu tenho que aceitar!

Era impossível não levantar a voz quando se estava
irritado, constatou Christopher em pensamentos. Estava
inquieto, sentindo como a curiosidade lhe carcomia por dentro. Havia acertado
com seu pressentimento. Havia algo ali e Dulce estava lhe escondendo, suspirou
fundo tentando se acalmar, mas foi em vão. Tinha que saber! Precisava acabar com essa
angústia!

Dulce: Só acho que deveria esperar um pouco. Não seja tão radical.
Chris: E como você acha que vou passar o dia sabendo que algo sério está acontecendo...e
que eu não sei? Como vou me concentrar no meu trabalho sabendo disso? Pensando
isso todo o tempo! Não posso evitar estar preocupado! Estou angustiado, Dulce!
Entenda isso!

Ele lhe suplicou com a mirada, fazendo com que ela suspirasse fundo. A colher
tremia batendo no melão. Sentiu como seus olhos se inundaram, sabendo que a
hora havia chegado. E que não dava mais para ser adiado.

“Deus, me ajuda...”, pensou Dulce se levantando para olhá-lo.

Christopher passou a mão no cabelo, exasperado pela angústia. Viu como ela
pegava uma cadeira da mesa e a virava para a cama, indicando com a cabeça que
ele se sentasse. Prontamente ele fez isso, sentou-se na beirada da cama, vendo
como ela se sentava de frente a ele.

Chris: Você está com uma doença grave, é isso? Me diga, pelo o amor de Deus!
(disse ele agarrando suas mãos) Por tudo o que mais sagrado, quero lhe ajudar!

Dulce apertou suas mãos entre as dele, arranjando
forças onde ainda não tinha para encará-lo e dizer logo de uma vez o que estava
acontecendo. Somente temia que as lágrimas que embaçavam sua visão, não caíssem
naquele momento. Ainda com o olhar sobre suas mãos, disse, em um fio de voz:

Dulce: Não, fique tranqüilo... (tragou a saliva) não é nada grave.
Chris: Mas é sério?

Dulce então ergueu a cabeça e o encarou nos olhos.

Dulce: É sério.
Chris: Não é doença?
Dulce: Não.
Chris: Então o que é? (franziu a testa, falando-lhe com voz doce) Eu só posso
lhe ajudar se souber o que está passando, Dulce. Por favor, me diga.

E essa doçura na voz dele, deixou seus olhos rasos em lágrimas. Baixou
novamente o olhar para suas mãos, apertando suas mãos nas dele para disfarçar a
tremor das mesmas. E com a voz embargada, disse:

Dulce: Eu vou sair... (e tragou a saliva sentindo como sua garganta fechava)
Chris: Para onde? (franziu a testa, confuso)

Ela ergueu o rosto para vê-lo e ele sentiu como seu coração descompassou ao ver
os olhos dela cheios de lágrimas que não se derramariam ali. E ficou mais
angustiado ainda por vê-la daquele jeito, e ainda mais desesperado por não
entender o que passava.

Dulce: Do R-RBD...
Chris: QUE?! (perguntou estupefato) Como, Dulce?! Você não pode fazer isso...!

Então caiu em algo e a encarou seriamente.

Chris: A menos que...(se calou sem saber se realmente era aquilo que pensava)
Dulce: Estou grávida...

Ele
tragou a saliva, enquanto a olhava com a testa franzida do mesmo jeito,
sentindo como uma corrente elétrica serpenteava por suas costas, até lhe
arrepiar a nuca. Começou a pestanejar sem parar, sentindo como seu coração
dilacerava... E ao ver como as lágrimas já deslizavam pelo rosto dela, ele
tomou valor e lhe perguntou com a voz baixa:

Chris: Você vai ter um filho meu...?

Teve que refazer a pergunta para se certificar de que
realmente Dulce havia lhe dito aquilo, pois ainda não podia acreditar. Ela
levou as mãos ao rosto, enxugando as lágrimas quase com brusquidão. Levantou-se
de uma vez da cadeira deixando-o do mesmo jeito, petrificado em seu canto
olhando para o nada.

Ele ladeou a cabeça ainda de boca aberta para ver como ela se sentava na
cadeira e recomeçava a comer, muito mais por obrigação do que por fome. Piscou
os olhos mais duas vezes, ainda tentando acreditar no que Dulce dissera.

Grávida? Grávida dele? Tragou a saliva. Dulce havia se cuidado...ela lhe
dissera isso. Suspirou fundo, ele não havia se cuidado... Ele não... Mordeu os
lábios levantando a cabeça para vê-la outra vez. Era um bebê a causa do choro
compulsivo de Dulce. Era porque ela soubera que teria um filho dele. Dele!
Piscou os olhos, sentindo seu corpo lânguido devido à carga de emoção e
surpresa. Dulce estava grávida! Isso significava que ele seria... Pai? Franziu
a testa sem saber como se sentir. Encarou suas unhas, trincando os dentes
enquanto o silêncio era os dois era quase agonizante. Olhou para as costas
dela, ainda confuso por muitas coisas. Nesse momento não queria pensar em nada... Somente
queria digerir essa novidade com calma e lucidez. Não havia porque se
desesperar... Pai?! Bufou contrariado, saindo de pensamentos.

Dulce era quem o preocupava agora. Ele não era quem precisava de ajuda, e sim,
ela. Seus pensamentos e seus medos, suas perguntas, seus questionamentos seriam
deixados para depois. No momento, quem precisava ser consolada era Dulce.

Levantou-se outra vez e sentou-se ao lado dela. Ela
ladeou a cabeça para o lado e sentiu como ela estava chorando, embora ainda
mastigasse vagarosamente.

Dulce: Não acredito... (respirou fundo para não vacilar) que você ousou me
perguntar se estou grávida de um filho seu!

Ele franziu a testa negando com a cabeça, enquanto a via virar os olhos
empapados para ele... Aqueles olhos tão lindos que destilavam desgosto. Ele
buscou a mão dela que estava na mesa, mas ela a retirou antes que ele chegasse
com a sua.

Chris: Não foi assim, Dulce. Não coloque as palavras na minha boca... (tragou a
saliva sem saber o que dizer) Foi um modo de falar.
Dulce: Você desconfia de mim? (disse com a voz chorosa, virando-se para ele)
Você acha que eu fui de outro homem?
Chris: Meu amor, não... (e agarrou a mão dela num bote certeiro, prendendo os
dedos dela entre os seus) Eu nunca iria desconfiar de você!
Dulce: Então por que me perguntou aquilo?!
Chris: Dulce, por favor! Não falei porque não confiasse em você... Eu, eu...
Dulce: Sai daqui, por favor.

Ele ficou olhando para ela, não entendendo nada, sem qualquer reação, somente
sentindo como seu coração batia mais acelerado.

Chris: Dulce, por favor! Não faça isso!
Dulce: Eu quero que você saia, Christopher! Agora!
Chris: Mas eu não quero!

Ela não
disse nada, somente empurrou a comida e levantou-se de uma vez. Christopher se
recostou sobre o respaldo da cadeira e suspirou, colocando as mãos no cabelo,
sem saber o que fazer...nem como agir em uma situação como essa. O que poderia
dizer a Dulce? O que poderia fazer para solucionar o não-solucionável? Deus!
Essa notícia o pegou de surpresa, ainda não conseguia reagir ante ela. Mas
sabia que tinham que conversar, e conversar bastante sério. Dulce não parecia
estar de brincadeira como daquela outra vez, e do jeito que ela estava irritada
no momento, não ousaria perguntar mais nada. Daria esse tempo a ela. Ele
próprio ainda precisava digerir essa notícia, para depois tentar apoiar
Dulce...

Sentiu como o perfume dela ecoava pelo quarto e fechou os olhos, pensando em
tudo o que teriam que encarar pela frente. Levantou-se devagar e foi caminhando
para o banheiro. Quando voltou para o quarto...já não havia mais ninguém ali...

Ele respirou fundo, olhando para o quarto vazio, pensativo.