Chris: Na Espanha contamos tudo.
Dulce: Sim. (suspirou fechando os olhos, aliviada por estar ao seu lado)
Chris: E você tem que estar preparada para tudo, Dulce.
Dulce: Eu sei.
Chris: E dessa vez...acho que a melhor solução seja fugir. Você está doente, está “já sabe” e precisa de muitos cuidados. Temos que ir a um médico. Talvez não possa nem fazer mais shows...
Dulce: O médico daqui me disse que poderia, por enquanto. Mas que não me excedesse muito. E ele também me disse que quando chegasse a Espanha, tratasse logo de fazer um pré-natal.
Chris: O que é isso? Pré-natal?
Dulce: São uns exames que todas as mulheres “já sabe” tem que fazer logo no começo da “já sabe”. (os dois riram com os códigos)
Chris: Exames de que?
Dulce: De sangue, urina...papanicolau...
Chris: Papanicolau já ouvi falar. Acho que é aquele que o médico...hum... (se calou) Você já fez alguma vez?
Dulce: Não, nunca tive coragem. Mas é importante...e agora vou ter que fazer.
Chris: Se você pensar por um lado, acho que é um constrangimento que pode te salvar a vida.
Dulce: Sim, mas não deixa de ser um constrangimento.
Chris: Mas é melhor passar por isso do que morrer por um câncer.
Dulce: Sim, ok. Você está certo, sem mais discussões.
Chris: Ok, vamos voltar ao assunto anterior. Então você vai fazer esses exames?
Dulce: Vou.
Chris: E eu vou poder ir junto?

Dulce: Se quiser... Só vai ser meio estranho. Além disso...minha mãe vai comigo.
Chris: Sua mãe?
Dulce: Sim, ela também já sabe de tudo. Deve estar viajando para a Espanha nesse momento.
Chris: Eu nem sei como vou dizer a minha mãe.
Dulce: É melhor você falar, eu não tenho coragem de dizer a ela.
Chris: Quando chegarmos à Espanha, vou ligar para ela.
Dulce: Estou com medo da sua mãe. Já me odiava antes...
Chris: Ela não te odeia!
Dulce: ...e agora com essa notícia. Deus! Ela vai querer me esganar.
Chris: A mim, sim. (ele riu) Porque para haver um bebê precisa-se de duas pessoas...eu não usei nada, você também não...e acabou como acabou. Atire a primeira pedra um casal que nunca passou por isso.
Dulce: Sério agora...nós vamos ter um bebê. Você já tem noção disso?

Ele coçou a barbicha e suspirou pensativo.

Dulce: Você já se deu conta de daqui a oito meses vai ter um bebê entre a gente?
Chris: Em mim ainda não caiu à ficha.
Dulce: Nem em mim! Vou ficar gorda...uma baleia...não posso mais pintar o cabelo...não posso tomar café...não posso fumar... (choramingando) não posso beber!
Chris: Mas pode fazer sexo...o mais importante. (disse ele rindo, se preparando para o tapa que seguramente viria)

E Dulce o surpreendera, não houvera tapa...mas sim um beliscão na barriga que o fez se contorcer e gritar de dor. Ela riu vitoriosa e o largou. Ele a apertou para aplacar a dor e ela somente ria. Ela logo se livrou dos braços dele e ele levantou a camisa para ver onde Dulce o havia beliscado, Dulce sentiu pena ao ver a marca vermelha na barriga dele. Se jogou nos braços dele outra vez, enchendo-o de beijos por todo seu rosto.

Dulce: Desculpa... Cielo... (e o beijou na boca) Está doendo muito?
Chris: Sim... (se fez de manhoso e ela o abraçou, beijando-o) Só não aperto a sua porque não posso.

Ela riu diante a boca dele e o beijou mais uma vez. Ouviram as palmas de Pedro chamando a equipe. Eles ficaram em alerta, mas felizmente não era com eles. Christopher viu Dulce bocejar, e logo voltou a abraçá-la outra vez. E diante o silêncio dos dois, Dulce acabou adormecendo nos braços dele, enquanto ele estava perdido no meio de seus pensamentos, que obviamente estavam todos voltados ao que Dulce levava em seu ventre.

Os dois teriam um bebê. Um filho quando se era jovem demais para amadurecer. Um filho quando a relação não era madura o suficiente para arcar com a responsabilidade de um filho. O que se fazer diante de um problema desses? O que se fazer para encontrar em oito meses a estabilidade? O que se fazer para que esse relacionamento conturbado se transforme em um lindo aconchego familiar? O que fazer para saber ser um pai? O que é um pai, na verdade? Qual a função dos pais? Será que Dulce seria uma boa mãe? E os dois? Como se comportariam com uma criança? Como seria o relacionamento depois que a bomba estourasse? Pelo o amor de Deus... A ficha estava caindo...e o medo estava entrando.

Tchau farras... Tchau noitadas perfeitas... Tchau sexo selvagem... Tchau juventude... Tchau vida passada...

O caos se alastrava por seu interior, fazendo com que ele sufocasse a respiração por dois segundos. Seu coração batia acelerado ao se dar conta do tanto que perderia. E bateu ainda mais acelerado ao se dar conta da etapa que começaria.

Olá Dulce barriguda... Olá desejos noturnos... Olá crises de choro... Olá brigas intempestivas... Olá noites de insônia... Olá desespero... Olá preocupação... Olá maturidade... Olá vida de adulto... Olá fraldas... Olá choros... Olá mais noites de insônia... Olá esposo... Olá “papai”!

Christopher sufocou um pouco a respiração e logo bufou, sentindo mil e um questionamentos retumbarem em sua cabeça. Ele fechou os olhos, suspirando, enquanto colocava na cabeça que aquilo não seria ao fim do mundo. Seria apenas outra etapa de sua vida que começaria. Quantos homens já passaram pela mesma situação? Quantos casais jovens sofreram pelo mesmo problema? Muitos. Estava certo em estar chateado consigo mesmo por esse descuido. Mas, enfim, Dulce e ele eram dois seres humanos. Seres humanos erravam a cada segundo. Não eram perfeitos. Nunca seriam. Nem como um casal. Tragou a saliva, pensando que durante esses meses...teriam que chegar pelo menos perto da palavra “normal”. Por eles mesmos, pela saúde de Dulce...e pelo bebê que ela esperava.

Pelo bebê que ela esperava. Por seu filho! A ficha havia caído. Pelo menos a dele sim. Dulce ainda não parecia acreditar que essa realidade a cada dia que se passava ficava mais perto. Doente e grávida. Meu Deus, deveriam tomar o triplo de cuidado.

“Era só o começo, Christopher... É só o começo.”, pensou ele encostando a cabeça no respaldo do sofá enquanto a apertava mais entre seus braços.

Depois de algumas horas, teve que acordar Dulce para que ela tivesse tempo de se arrumar para que voltassem a gravar a última parte do clipe. E enquanto ela foi arrumar os cabelos, ele foi atrás de comer algo. Não havia querido deixar Dulce sozinha, e mesmo assim, os pensamentos lhe dominaram por todo o tempo em que permaneceu sentado com ela em seus braços. Os planos de Christopher estava há dois passos de serem concretizados, e se sentiu aliviado por ter percorrido mais da metade do caminho há dois dias atrás, quando chegaram à Romênia. Havia deixado Dulce sozinha...pois ela não poderia saber do que se tratava, nem ao menos ninguém poderia saber... Isso seria importante para ele, consequentemente, para sua família também...na qual havia aumentado de membros...Dulce se integrou, assim como aquele pingo de gente que guardava em seu ventre também.