Chegaram à área da piscina e Christopher avistou logo o pai de Dulce. Tragou a saliva não querendo se aproximar dele. E Alexandra percebeu isso...

Alexandra: Aja com naturalidade ou ele vai perceber tudo. (disse ela entredentes)

Christopher somente assentiu e colocou o boné ao sentir o sol abrasador de Ibiza. Os dois chegaram à frente da mesa de Fernando e sentaram-se.

Fernando: Querem beber algo?
Alexandra: Eu sim, por favor. Uma cerveja bem gelada...
Chris: O mesmo para mim.

O pai de Dulce aproveitou que o garçom estava perto e logo fizeram os pedidos.

Fernando: Pena que aqui não tem tequila.

E deu uma risada ao observar a careta de Christopher.

Chris: Eu dou graças a Deus. (e riu juntamente com ele)
Fernando: E como está tudo com vocês?
Chris: Bem...(tirou o boné e passou a mão no cabelo) o grupo está de vento em polpa, graças a Deus. Entraremos em mais uma etapa que será agora nesse show em Madrid onde lançaremos o próximo DVD do grupo. E depois, estaremos duas semanas de férias...até o final do próximo mês, e novamente já vamos embarcar para os Estados Unidos...para outra turnê.
Fernando: Não param em casa! (ele bufou, fazendo Christopher sorrir) sinto falta da minha filha!
Alexandra: Nisso eu concordo... (se manifestou ela, enquanto estirava a canga em cima da cadeira) Passam tempo fora demais...nesse mundo louco demais...sozinhos...tudo de ruim pode acontecer.

Christopher revirou os olhos por trás das lentes espelhadas.

Fernando: Também concordo. Antes sabia tudo da vida de Dulce. Hoje em dia é quase uma estranha para mim. Ninguém me diz nada... Dulce quando me vê, parece que está vendo um bicho. Nem sei o que dizer a ela, às vezes.

Christopher sentiu pena daquele homem. Entendia como Fernando estava se sentindo excluído em relação à Dulce. Realmente, eles escondiam muitas coisas do pai dela. E talvez aquilo não fosse muito bom. Fernando merecia saber o que estava se passando, e também o que se passou durante todo esse tempo. Mas, obviamente, ele não seria a pessoa que lhe contaria tudo. Lógico que não! Tinha amor a sua vida.

A cerveja chegou. Christopher se serviu e entregou o copo de sua mãe, quem estava deitada de costas para o céu. Deu uma conferida ao redor e viu uns velhos olhando para a bunda de sua mãe. Tragou a saliva, erguendo a sobrancelha...e suspirou para extravasar um pouco os ciúmes.

Chris: É comum as filhas mulheres se abrirem com as mães.
Fernando: E quem vai se abrir comigo já que tive só mulheres?

Christopher deu uma risada e, por displicência, soltou:

Chris: Os genros!

Viu o pai de Dulce rir, assentindo e apertou os olhos, vendo que tinha dado uma mancada. E uma das grandes!

“Merda! Ofereci a faca...”, se reprovou ele em silêncio, tragando a saliva nervoso, baixando a mirada para o objeto de desejo dessa “faca”.

Fernando: Os genros são outros que não posso confiar... (disse ele rindo, após colocar o chope em cima da mesa) Fazem as coisas com as minhas filhas e cabe a eu ter o dever de sair em defesa da honra de minhas meninas. Eu como pai, não posso aceitar que esses “sacos de testosterona” fiquem se acariciando pensando nas minhas filhas.

Christopher ficou somente o olhando com os olhos arregalados. Dando uma expressão séria para o pai de Dulce, sabendo que por trás daqueles óculos ele estava sumamente nervoso.

E então Fernando explodiu em uma gargalhada estrondosa, o jogando a cabeça para trás. Christopher ficou inda mais nervoso, sentia suas mãos suarem pelo nervosismo. Via Fernando rindo sem se controlar e até ouviu sua mãe rindo também. Olhou para ela de uma vez, como se dissesse “Rindo da minha desgraça, não é?”. Alexandra riu ainda mais ao ver a cara dele.

Fernando: Não é certo... (disse ainda rindo muito) Por Deus! Está Verde! (rindo sem conseguir se controlar)
Chris: Senhor... (ruborizado)
Fernando: Senhor está no céu! (e riu sem evitar) Me chame de Fernando!
Chris: O Sen...humm... isso...(tragou a saliva) não se diz...assim sem estar...preparado. Me assustou.
Fernando (rindo): Eu sei. Pai de Blanca dizia a mesma coisa. Bom, ele não só dizia como fazia, que Deus o tenha. Ele já me deu uns bons murros. (e tomou outro gole)
Chris: Mas...
Fernando: Os tempos mudaram... Eu me acho um pai muito moderno.

“Sim, claro. E ainda pensa que filha é virgem...”, pensou Christopher erguendo uma sobrancelha.

Fernando: Enfim... se eu não matei aquele filho da puta do Guillermo, pode ficar despreocupado.
Chris: Isso me alivia imensamente. (e deu um sorriso)
Fernando: Mas não tanto, ok. ( e gargalhou outra vez)

Tomou outro gole de cerveja e levantou-se da mesa, chamando Christopher para nadarem na piscina. Christopher aceitou na hora. Hoje era dia de “babar” o sogro. Hoje, só não. Daqui a oito meses corriam perigo de vida. Os dois pularam na piscina... E não saíram de lá por muito tempo, entre conversando e tomando umas e outras...

Dulce: Graças a Deus, chegamos daquela humilhação!

Dulce bufou ao subir as escadas que davam acesso ao hotel. Ajeitou a bolsa nos ombros, enquanto Blanca ria.

Blanca: Humilhação por quê?
Dulce: A Senhora acha que eu gostei de ficar aberta, sentindo como um cotonete fazer cócegas na minha...hum...ali?
Blanca: Pois é um exame desse que pode salvar sua vida!
Dulce: Meu ipod me salvou, pelo menos pude esquecer essa cena asquerosa! (debochou ela)
Blanca: Quem já viu uma pessoa ouvindo música enquanto faz um papanicolau?
Dulce: Melhor ouvir música do que chorar!
Blanca: Chorar por quê? Sei que é um pouco constrangedor, mas se você tiver a consciência de que isso é para o seu bem, você passa por isso de bom grado.
Dulce: Ok! Vai ser bom pra mim! Estou toda furada! Tomei três vacinas e fiz um exame de sangue! Estou com fome! Me sinto tonta! Meu namorado quer fugir de mim! Resultado desse dia horrível: Não me sinto de bom humor!

Blanca apenas sorriu e continuou caminhando. Passaram toda a tarde fazendo umas baterias de exames na cidade mais próxima a Ibiza, fora da ilha. Mas agora estava mais aliviada, em uma semana teriam o resultado de todos nas mãos. O dia foi proveitoso, afinal tiraram quase todas as dúvidas para o Doutor Serrano, homem de meia idade, cujo tinha muita experiência e graças a Deus não tinha conhecimento nenhum sobre a carreira de Dulce, e pela expressão dele, tampouco parecia fazer questão disso.

Dulce: Eu quero Christopher! (choramingou ela) Eu quero que tudo seja como antes!

Blanca tirou a mão da boca e a olhou de lado.

Blanca: Já que o quer tanto, vai atrás dele.
Dulce: Eu não...tenho meu orgulho. Quem ficou estranho foi ele.
Blanca: Ok. Fiquei com seu orgulho e sem Christopher.

Dulce a olhou com uma sobrancelha erguida.

Dulce: Pensei que estivesse do meu lado!
Blanca: Bom, se eu não tivesse não tinha dito nada. (e sorriu com deboche) Você não aceitou, o que eu posso fazer então?
Dulce: E o que a Senhora quer que eu faça?
Blanca: Já falei...

Ouviram uma música em um bar. No bar ao lado da piscina. Uma música leve ao som de um piano e um violão, enquanto uma voz masculina soava cantando melodias apaixonadas. Aproximaram-se mais e conseguiram ver Christopher sentando junto com Fernando.

Blanca: Estão ali!
Dulce: Estou vendo...

Era incrível como o coração de Dulce dilacerava só de ainda vê-lo. Já não agüentava mais essa “distância” que ele impôs. Já havia durado dias demais, tempo demais. Tragou a saliva...e voltou a perguntar a sua mãe.

Dulce: O que eu tenho que fazer?
Blanca: O que você faz de melhor...

Dulce estacou pensando nas palavras de sua mãe. O que fazia de melhor... O que fazia de melhor? Ergueu uma sobrancelha pensativa. Não sabia o que fazia de melhor. Não tinha idéia do que fazia de melhor. Suspirou, vendo sua mãe caminhar para a mesa de Christopher e Fernando. Ele estava com uma camisa de mandas longas preta, não conseguia ver com que calça... Mas podia perceber que os cabelos dele estavam um pouco úmidos, secando ao natural, com o vento e a brisa fria da noite de Ibiza. Deu um sorrisinho fechado ao vê-lo com a sua família... Vê-lo com a família que queria que também fosse dele. Na verdade, sempre quis. Tragou a saliva magoada, ao se lembrar da sua real situação.

Estava com medo do que Christopher estava pensando, do que ele estava sentindo...