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Continuou rindo descontroladamente, enquanto pensava
em algo mirabolante para dizer. Tinha certeza de que Dulce ficaria com raiva.
Rompeu o sorriso e, novamente, disse a primeira coisa que veio a sua mente.

Chris: Você o conhece? (disse olhando para Dulce)

Dulce e Nacho pararam de forçar e olharam para ele.

Nacho: Christopher, não? (Christopher assentiu com um sorriso falso) Me dê uma
razão plausível sobre o porquê me empurrou, e eu te deixo passar sem brigar...

Christopher ergueu uma sobrancelha, arrogante. No dia que apanhasse para um
cara desses estaria ferrado. Mas não seria certo brigar ali, por mais que não
tivesse muita gente olhando. Ele era uma pessoa pública. Dulce era uma pessoa
pública. E paparazzi não faltava naquela ilha. Pior que isso, estava com álcool
demais na cabeça para se expor dessa forma. E sabia que por debaixo da nuvem
alcoolizada, existia um Christopher sensato. Um Christopher sensato que sabia
pedir desculpas, por mais que aquilo fosse quase um pouco mais difícil do que
uma vaca voar.

Chris: Acho que exagerei, não é? (ele coçou a cabeça, vendo como Dulce o olhava
furiosa) Vocês se conhecem?

Nacho não disse nada. Assim como Dulce, quem somente observava tudo.

Nacho: Você é um merdinha... Metido a machinho brigão de merda! Babaca
ignorante! (cuspiu as palavras na cara de Christopher, quem nem se importou com
os insultos) Mary te salvou dessa... Só por ela.

Ele virou o olhar para Dulce. Se aproximou dela.

Nacho: Tenho pena de você, Mary... (ele abriu um sorriso) Pensei que gostasse
de homem.

Dulce estava vermelha de vergonha, somente assentiu
sem graça alguma.

Nacho: Vê se aparece de novo lá em Acapulco, a galera sente tua falta.
Dulce: Eu também sinto muito.
Nacho: Adorei o show.... Esteve ótima.

Christopher então via como o Nacho “Macho” dava lugar ao afeminado “amigo” de
Dulce. Realmente eles se conheciam. Tragou a saliva, não gostando de ser
desprezado. Maldito CIÚME! Sempre entrava em roubada por causa dele. Suspirou
ouvindo a conversa dos dois. Viu como Dulce lhe dava dois beijinhos no rosto,
desculpando-se fervorosamente pelo incidente.

Nacho: Não, não doeu nada...só acho que você precisar vigiar um pouco o quanto
seu...seu... (olhou para ela, confuso) o que ele é seu mesmo?

Dulce suspirou irritada.

Dulce: Namorado... (disse com um muxoxo)
Nacho: Pois sim...eu soube que vocês estavam namorando. Quem não sabe, né? (e
sorriu um pouco) Também vi aquele vídeo, mas depois vi que tinham terminado.
Mas como está a família?
Dulce: Meus pais estão aqui...e se souberem que o sobrinho desnaturado não foi
cumprimentar-lhes sequer, tenho certeza de que ficarão chateados.
Chris: Sobrinho?!

Christopher disse alarmado. As duas cabeças se
voltaram para ele e logo lhe ignoraram outra vez, como se ele não fosse ninguém
importante. Cruzou os braços abaixo do peito, sentindo como seu reflexo lhe
fugia cada vez que fechava os olhos.

Nacho: Onde estão? (abriu um sorriso enorme) Mamãe sente tanta falta de Tio
Nando.
Chris: Tio Nando?!
Dulce: Ele também sente, com certeza. Nem sei porque papai está aqui, você sabe
muito bem como ele odeia viajar.
Nacho: Sei...sei sim...velho brabo, não sabe aproveitar as melhores coisas da vida.

Dulce riu assentindo.

Christopher nesse momento sabia o significado de ser uma merda. Uma total
merda. Um zumbi... Um nada.

Olhava de um ao outro sem saber o que dizer, enquanto eles conversavam,
conversavam, riam... Era primo de Dulce essa desgraça. Um primo gay. Bom, quase
todo mundo tem um primo gay. Dulce também tinha o dela. Coçou um pouco a cabeça
sem saber o que dizer. Isso ia lhe dar problema. Muitos problemas. Praguejou
mentalmente. Estava se sentindo como um perfeito idiota. Dulce ia cair em cima
dele. Imagina se os pais dela souberem disso. Souberem que Christopher agrediu
ao sobrinho. Não queria nem imaginar. Se sentindo acuado, e ele falou,
interrompendo a conversa dos dois primos.

Chris: Eu fiquei com ciúmes, ok. Não queria ter empurrado, nem coloquei força
para isso... (os dois se voltaram para ele com os olhos arregalados) Você é
homem...eu não lhe conheço e estava abraçando a minha mulher... O que queria
que eu fizesse?

Nacho: Talvez devesse ter ido com um pouco de calma!
Chris: Sim, talvez. Mas não posso mudar o passado. (suspirou olhando para Dulce
de esguelha) Mas sou homem, errei e assumo... E peço desculpas por isso.

Nacho quis dizer alguma coisa, mas Christopher o interrompeu.

Chris: Não precisa dizer nada... Às vezes esse meu lado impulsivo é muito
burro. (e abriu um sorriso simpático) Acho que vocês têm muito que
conversar...não vou ficar atrapalhando não. Até mais.

Dulce viu Christopher indo embora e soltou um suspiro.

Dulce: Acho que ele bebeu um pouquinho... (subiu o olhar para Nacho, vendo como
ele sorria)
Nacho: O ama ou é caso passageiro?
Dulce: Você acha que eu entraria numa roubada dessas se não fosse por amor?

Nacho sorriu.

Nacho: Tenho certeza que não, priminha. Afinal, já teve outro bofe na jogada.
Dulce: Nem me fala. (disse revirando os olhos)
Nacho: Mas posso te dizer que é um gato. (Dulce riu assentindo) Deus! Muito
mais lindo ao vivo do que na TV!
Dulce: Sim, não? (os dois riram) E apesar dessa ceninha de ciúmes, ele é uma
boa pessoa....uma das melhores que já conheci.
Nacho: Nossa! Tá apaixonada mesmo! E eu que pensei que esse romance era só fogo
de palha. (Dulce negou sorrindo) Até cantou para ele! Estou chocado!

Dulce: É...sempre esteve do meu lado e eu nunca me
dei conta.
Nacho: Gente do céu, está pior do que eu pensava!
Dulce: Sim...e por favor, considere-o da família já.
Nacho: Ok, só por você que eu vou desculpar. Realmente ele não colocou tanta
força assim, eu que estou um pouco... legal demais. (os dois riram) E, por
favor, agora me leve para ver meus tios!

Dulce assentiu e os dois foram caminhando para a mesa onde estavam Blanca e
Fernando em companhia da mãe de Christopher. Onde estava Christopher? Dulce se
perguntou em pensamentos ao ver que ele não estava na mesa junto com os outros.
Fernando ficou contente de ver o sobrinho que há muito tempo não via.

Que confusão, meu Deus! Em um minuto estava toda melosa, cantando para
Christopher... No outro estava com uma raiva pungente dele. Se sentia confusa
nesse instante. A carinha que ele fez quando pediu desculpas a Nacho... lhe
dera vontade de abraçá-lo. Estava com tanta saudade, que sentia suas mãos
formigarem. Precisava tocá-lo, precisava senti-lo... Precisava trazer
Christopher para o seu lado outra vez.

Mas parecia que uma força sobrenatural a empurrava para longe dele. Fazia mais
de quatro anos que não tinha idéia onde Nacho estava. Soubera que estava por
Acapulco uns tempos atrás, mas logo quando ela tomara a iniciativa de
demonstrar a Christopher que ela o amava para toda essa gente ver, ele lhe
aparecera no caminho para lhe tirar de sua meta. Era como se Christopher se
afastasse ainda mais dela. O que ele fizera com Nacho fora errado, mas se
sentiu muito bem quando ele havia dito que estava com ciúmes. Ciúmes! Grande
prova que ele ainda se importava.

Mas como traria Christopher de volta...sabendo que se ele voltasse, tinha que
aceitar não somente a ela, mas também o pacote inteiro?

Se via nitidamente que Christopher estava
receoso de seu futuro. Mas por um instante, depois de que cantasse, percebeu na
sua forma de caminhar, assim como em seu leve sorriso...que ele a abraçaria,
que ele a beijaria, que ele diria que a amava mais uma vez.

Suspirou profundamente olhando para o nada... Não sabia que essa simples
palavrinha era tão agradável de escutar. Ele a dizia a todo instante e a mente
de Dulce gravara o eco daquele som, para recordá-la durante esses quatro dias,
quando não mais foram pronunciadas.

Dulce então se sentou na cadeira vaga entre Blanca e Alexandra.

Alexandra: Ele passou por aqui...

Dulce imediatamente a olhou, com a testa franzida, enquanto levava o dedo à
boca.

Alexandra: Broncas?

Ela assentiu com a cabeça. Dulce pensou que Alexandra os criticaria como
sempre, mas ela somente se calou e sorriu um pouco, como se achasse divertida
aquela situação.

As duas viram como Fernando se levantava e seguia o sobrinho que queria lhe
apresentar a uma pessoa. Os dois homens as deixaram na mesa e Dulce suspirou.

Alexandra: Gostei da canção... De quem é?

Dulce tirou o dedo da boca e a encarou.

Dulce: Sin Bandera. (disse séria)
Alexandra: É muito bonita, escolheu bem... Christopher ficou emocionado.

E Dulce então relaxou, jogando-se para trás, encostando a cabeça no espaldar da
cadeira.

Dulce: Vamos direto ao assunto... (suspirou fundo)Ele já contou a novidade?

O ar de ironia não passou despercebido por Alexandra, quem tragou a saliva para
logo abrir mais uns de seus sorrisos enigmáticos.

Dulce: E como está se sentindo? (sentou-se direito encarando-a nos olhos) Quer
me matar?

Alexandra então gargalhou, assim como Blanca, quem somente queria ficar de
espectadora mais uma vez.

Alexandra: Se pensar em tirar, eu mato sim.

Dulce arregalou os olhos e logo negou com a cabeça.

Dulce: Foi difícil...

Calou-se bruscamente, tragando a saliva. Era estranho conversar com Alexandra,
ainda era estranho. Baixou a cabeça e colocou os cotovelos na mesa, suspirando,
enquanto entranhava os dedos em seus cabelos.

Dulce: Eu quero chorar...

Ela
disse olhando para as duas mulheres que a olhavam com a testa franzida.
Subitamente os olhos de Dulce se volveram cristalinos, à medida que sua
respiração se acelerava.

Dulce: É normal sentir vontade de chorar...?

A voz enrouquecida fez com que as duas mulheres franzissem ainda mais a testa
com compreensão. As duas assentiram ao mesmo tempo também com os olhos
cristalinos pela emoção. Uma, de ver sua filha caçula grávida, passando por
todas as conseqüências daquela situação. Era difícil se dar conta de que sua
menininha já era uma mulher. A outra, era de perceber que o ventre de Dulce
guardava um pedaço de sua família, o seu neto, o seu primeiro neto.

Naquele momento sentiu vontade de chorar ao imaginar que daqui a oito meses
haveria um anjinho entre todos. Um anjinho que agora estava adiantando a
maturidade de seu filhinho. Suspirou, divida entre duas emoções. Não sabia se
ficava emocionada com essa notícia e aguardava ansiosamente sua chegada, ou se
chateava pelo futuro prematuro de seu filho, de seu único filho. Mas tinha
certeza de uma coisa... Nada mudaria o presente e nem o passado. Dulce estava
grávida de um filho de Christopher e nada mudaria esse fato.