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Alexandra: Vamos até Christopher...

Dulce franziu a testa ao vê-la ir a sua direção. Não deu nem tempo de reagir,
de um momento a outro já se via sendo arrastada por Alexandra. Ela lhe segurava
a mão com força, guiando-a entre as mesas do restaurante a céu aberto. Ainda
podia ver o sorriso confuso de sua mãe, quem não havia entendido nada daquilo
também. A seguiu sem dizer nada. Sua sogra estava um pouco “pra lá de Bagdá”,
dava para perceber. Por tudo o que ela lhe dissera, por tudo o que o olhar dela
dizia... Dulce tragou a saliva. Realmente estava caindo de bêbada, por mais que
não se comportasse como tal. Bom, não precisa estar bêbada para falar as
coisas. Ela poderia estar simplesmente... AH! De todas as formas havia álcool
em suas veias, não importava a quantidade.

Sentiu a areia fina da praia, entrar em suas sandálias, penetrando entre seus
dedos. E então subiu a cabeça para se ver de frente ao mar. E ali estava ele.
Com uma mão no bolso da calça, que estavam erguidas até seus joelhos. A outra
mão estava ao lado de sua perna, equilibrando um cigarro entre seus dedos. E
então o viu erguer a mão para levar o cigarro até os lábios, enquanto o vento
esvoaçava os cachos de seu cabelo, fazendo com que o seu perfume voasse também
com ele.

Alexandra se virou para ela e demorou um pouco a tirar os olhos da silhueta
dele. Mas quando o fez, descobriu um sorriso misterioso nos lábios da mãe de
Christopher.

Alexandra: Eu dei o primeiro passo... Te trouxe até aqui. Agora é com você...

Dulce suspirou com apreensão. Não tinha a menor idéia do que dizer, mas tinha
certeza de que queria estar ali, perto dele, com ele...em qualquer lugar com
ele.

Alexandra: Vocês já perderam tempo demais com briguinhas inúteis. E nesse
momento tudo o que menos precisam é ficar separados. Precisam estar juntos,
porque a avalanche está prestes a desabar. Agora se jogue, menina... Traga seu
homem de volta!

Dito isso ela saiu, deixando Dulce ainda de
queixo caído.

Christopher, que estava de cabeça baixa, viu como uma sombra se aproximava
dele. Não precisou levantar a cabeça para perceber que era Dulce. Seu perfume a
delatava. Deu a última tragada no cigarro e o tirou da boca para logo jogá-lo
no buraco que tinha feito com seu pé. Ergueu a cabeça expulsou a fumaça para
que nenhum resquício de nicotina penetrasse na respiração dela.

Nenhum dos dois calculou por quantos minutos ficaram em silêncio, somente
curtindo aquela muda aproximação.

Ele franziu a testa não entendendo o que ela estava fazendo ali, e muito menos
se já estava ali, porque ainda não havia falado com ele.

Olhou para ela de soslaio, vendo-a com os braços cruzados sob os seios, olhando
fixamente as ondas, enquanto mordia um dedo em postura pensativa.

Chris: Oi?

Dulce se incorporou ao ouvir a voz dele. Estava absorta em pensamentos, nem ao
menos havia percebido que passaram tanto tempo calados.

Chris: Aconteceu alguma coisa?

Ela olhou para ele, quem também a olhava.

Dulce: Não...
Chris: Então...? (perguntou enfiando as duas mãos nos bolsos)
Dulce: Não gosto de te ver sozinho...

Ele virou a cabeça para ela, encarando-a sob
a luz da lua.

Dulce: Nem gosto de estar sem você.

Ela encerrou a frase com um sorriso, fazendo com que ele franzisse mais ainda a
testa. E antes que ele pudesse dizer alguma coisa, ela perguntou:

Dulce: Você ainda gosta de estar comigo? Ou já não é mais assim?

Christopher virou-se para ela e ficou olhando-a, enquanto elevava as comissuras
dos lábios, em um meio sorriso.

Chris: O que você acha?
Dulce: Que não... (disse um pouco manhosa) Faz alguns dias que você está
diferente... Não me abraça mais... Nem me beija... Não me faz carinho... (olhou
para ele) O que está havendo, mi cielo? Por que está tão distante de mim? (ela
franziu a testa, ansiosa pela resposta, mas ao mesmo tempo com medo) É que
pensou melhor e acha que não está pronto para ser p... (aclarou a garganta
rapidamente) para o que vai acontecer daqui a alguns meses?

Christopher continuou olhando-a sem dizer absolutamente nada. Gostava quando
Dulce ficava assim melosa. Dava-lhe vontade de abraçá-la tão forte até que ela
não pudesse respirar. E depois de quatro dias de “distância”, admitiu para si
mesmo que estava com saudades.

Continuou calado vendo como ela tentava extrair a resposta através de seus
olhos. E viu como ela se desesperava pela espera e por não conseguir enxergar
nada no olhar dele. Christopher estava impávido, não demonstrava nenhum
sentimento. Mas bem, fingia não demonstrar. Tinha muitos sentimentos
encontrados naquele momento. E a conversa que teve com sua mãe lhe voltou à
mente.

Chris: Conversei com a minha mãe...
Dulce: Eu soube.

Chris: Bom, pelo menos ainda está viva aqui
na minha frente.

Dulce esboçou um sorrisinho.

Dulce: Espero que você tenha a mesma sorte com o meu pai.
Chris: Ôh...acho que um destino melhor não vou ter, não.
Dulce: Quer ir saber agora?

Ele riu abertamente.

Chris: Não, obrigado. (ela sorriu assentindo) O bebê ainda nem nasceu...e já
está pensando em se livrar do Pai?
Dulce: Não... (desfez o sorriso) o Pai é que está pensando em se livrar da Mãe.

Christopher tirou as mãos dos bolsos e cruzou os braços em seu peitoral.

Chris: E o que faz a Mãe pensar assim?
Dulce: Porque o Pai está evitando a Mãe, e ela não está entendendo
absolutamente nada.
Chris: Humm...será que a Mãe pensou na hipótese de que o Pai esteja um pouco
medroso?
Dulce: Passou pela cabeça da Mãe isso... Mas a Mãe achava que o relacionamento
dos dois tinha muita intimidade...para que o Pai a procurasse para conversar,
fosse qual fosse a situação.

Christopher ficou olhando-a sem saber o que dizer.

Chris: A Mãe está chateada com o Pai?
Dulce: A Mãe está com tanta saudade do Pai...que mal consegue respirar.

Ele esboçou um sorriso.

Chris: A Mãe está muito necessitada? (ela reprimiu a risada)
Dulce: Se o pai não a abraçar agora, a Mãe vai fazer um escândalo nesse hotel.
Chris: E se o Pai não quiser?
Dulce: Ok, então esqueça que um dia conheceu a Mãe.
Chris: A Mãe seria capaz disso?
Dulce: Absolutamente.
Chris: Então o Pai se rende... (ergueu as duas mãos) Se o Pai perder a Mãe, ele
morre.
Dulce: Se a Mãe deixar o Pai, ela também morre.
Chris: E se Mãe e o Pai morrerem, o que vai ser do bebê?
Dulce: Hmmm...com os avós?

Os dois riram, enquanto figuravam aquela família em pensamentos. Riram
até que os risos deram vazão ao silêncio intenso. Somente se ouvia o ruído das
ondas do mar, que molhava os pés de ambos. Dulce nem ao menos se importou de
molhar suas sandálias. Não queria quebrar aquele clima de jeito nenhum.

Christopher suspirou, olhando para a escuridão intensa, totalmente perdido em pensamentos.
Interrompeu-os para questionar Dulce.

Chris: A Mãe não tem medo?
Dulce: Medo de que?
Chris: De enfrentar uma vida nova?
Dulce: Sabe... (tragou a saliva) A Mãe está morta de medo.
Chris: E por que parece tão tranqüila?
Dulce: Porque eu fiz uma escolha...e não vou voltar atrás nessa decisão.
Chris: Por isso está tranqüila?
Dulce: Sim. Fiz minha escolha. Escolhi ter esse bebê e agüentar as
conseqüências disso.
Chris: Você vai ser mãe, Dulce.

Dulce sorriu ao ouvir o tom de voz dele, como
se não estivesse crendo que aquilo seria verdade.

Dulce: Sim...vou ser mãe.
Chris: E eu vou ser pai?
Dulce: Se você quiser, sim.

Então ele se virou para vê-la.

Chris: Se eu quiser? Que história é essa?
Dulce: Compreendi que não posso te obrigar a isso. O erro foi meu... Eu sabia
que só quem tinha a perder era eu. Eu deveria ter sido mais cuidadosa...
Chris (interrompendo-a): Nada disso, Dulce. A culpa foi nossa.

Os dois suspiraram tentando aliviar a tensão.

Chris: Não tem que me isentar da culpa. Eu tive metade da culpa também.
Dulce: Então o que está havendo, Christopher? Por que decidiu se afastar assim
de mim?
Chris: Eu precisava de um tempo para digerir tudo isso. Você tem noção do que
isso vai mudar minha vida? Você tem noção do que isso vai mudar na sua vida?
Dulce: Tenho e já decidi correr o risco. Minha mãe uma vez me disse: “Se foi
muito mulher para fazer, tem que ser muito mulher para criar”. E ela está
certa, Christopher. Imagina o que eu diria a minha mãe? “Mãe, fiquei grávida e
abortei.” Nunca mais ela olharia na minha cara. Eu quase morri quando tive que
contar daquela vez que tomei a pílula do dia seguinte. Eu sei da família que eu
tenho. Pior seria meu pai saber disso, talvez ele tirasse o nome dele da minha
certidão de nascimento de tanto nojo de mim. E eu não seria capaz de viver com
essa culpa na consciência. (suspirou) Então já que não posso fazer nada, tenho
que erguer a cabeça e aceitar isso. Estou grávida e estou doente. Preciso me
cuidar. Tenho que mudar muita coisa ainda. E vou fazer isso... (levanto os
olhos para ele) com ou sem você.

Christopher
tragou a saliva. Mexeu um pouco os pés.
Estava cansado de ficar tanto tempo em pé. Deu as costas para o mar e caminhou para
longe da água. Então sentou-se na areia, olhando para todos os lados para ver
se não tinha ninguém observando-os. Não havia ninguém. Estavam longe das
pessoas. Não queria que ninguém ouvisse o que eles estavam falando. Ouviu Dulce
bufando e logo vindo em sua direção, para sentar-se ao seu lado. A viu tirando
as sandálias molhadas e as colocando de lado.

Chris: Você vai ter coragem de criar um filho sozinha?
Dulce: Sim. Felizmente eu tenho como sustentar a mim e ao bebê, e tenho uma
família que me ajudará em tudo...
Chris: Então você não precisa de mim?