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Fernando encarou-a em silêncio, absorvendo
suas palavras.

- Me diga... o que seria de Dulce María hoje
se o pai dela não tivesse lhe dado o dinheiro para o táxi, o dinheiro para me
manter alimentada e saudável...por ter arrumado dinheiro e disposição até onde
não para ficar comigo naquele casting para a Plaza Sésamo. Será que não se
lembra daquele dia em que passamos de oito da manhã até as dez da noite, numa
fila repleta de crianças? – e ela riu recordando.

Ele deu um sorrisinho ao se lembrar daqueles
anos atrás, quando ele a levou pela primeira vez para um casting.

- Fiquei orgulhoso…quando te vi na Televisão.

A Dulce não passou despercebido sua voz
rouca. E ela sabia, que aquele momento era a hora da verdade. Doa a quem doer,
somente caberia a verdade. Respirou fundo, esperando seu pai tocar no assunto.

- Quando te vi naquela novela, Clase 406...me
senti com um pouco de raiva ao ver como você ensinava a outra garota a fumar.

- Comecei a fumar com dezesseis... –
confessou ela com timidez.

- Eu já imaginava. Mesmo que eu não goste
disso, eu não posso lhe obrigar a fazer o que eu digo. Você já é maior de
idade, já não te dou mais de comer... Mas para isso, eu não posso lhe obrigar,
ok! – deu ênfase. - Mas eu ainda sou o seu pai e você me deve obediência, que
fique bem claro.

Dulce assentiu com precisão e ele esboçou um
sorriso.

- Você nem ao menos sabe que eu nunca perdi
um capítulo de Rebelde, não é?

Dulce arregalou os olhos por trás dos óculos,
e logo deu uma risada incrédula.

- Não acredito!

- É sério! Nunca perdi um capítulo! Blanca
nem sabia... – ele riu. – Uma vez me pegou no flagra...vendo na sala de
vídeo... Ela ficou em surpresa!

Dulce gargalhou. Nunca na sua vida imaginaria
que seu pai assistisse uma de suas novelas. Ela sabia que ele nunca havia
assistido. Bom, só algumas cenas importantes. Mas daí a ser um fã da novela...
Deus! As pessoas realmente a surpreendiam...e uma que nunca esperou isso...era
daquele homem, o seu pai.

Ela não conseguiu imaginar seu pai sentando vendo
uma cena de Roberta e Diego. E gargalhou sozinha, fazendo-o gargalhar também.

- Eu via sim suas cenas com Christopher.

- E gostava? – perguntou ela divertida com a
situação.

- Gostava sim...às vezes eram um pouco
dramáticas, outras mais fortes, porém...era engraçado. Vocês realmente fazem um
casal muito bonito.

Ela assentiu orgulhosa.

- O Senhor acha Christopher bonito?

- Bom, ele é sim um rapaz bonito. E provou
ser mais do que isso, sabia? Provou ser mais do que eu queria de um homem para
minha filha...

Dulce se sentiu bem ao ouvir essas palavras.
Era bom saber que seu pai aprovava seu namoro, quando nunca conversaram sobre
nenhum dos outros. Então sua postura mais que nunca refletia a certeza de que
Fernando aprovava Christopher.

- Eu o amo muito, papai. Sei que ele é o amor
da minha vida! – disse ela radiante. – Nunca pensei que um dia eu encontraria
alguém assim como ele...nem sei explicar o quanto o amo, só sei que é demais! –
e finalizou com um sorriso.

- Você não acha que está muito nova pára se
amarrar a um homem assim? – Dulce desfez o sorriso e franziu a testa. E antes
que ela pudesse dizer algo, ele se adiantou: - Às vezes quando se é jovem...se
vive tudo tão intensamente que, não sei, as mulheres... – tragou a saliva,
pensando no que dizer. – Bom, as mulheres às vezes confundem as relações...

- Que relações? – indagou ela confusa.

- Relação física...de sentimental.

- Eu não confundo nada. – disse ela com
convicção. - Pelo contrário...acho que um está relacionado ao outro. – respirou
fundo, levantando a cabeça para encará-lo. – Pai...sei que está pensando que eu
e Christopher...

- E não é verdade, Dulce?

Ela sentiu as bochecha à quarenta graus
Celsius. Realmente falar daquilo com seu pai era estranho, mas havia algumas
coisas que precisavam ser ditas antes que ele descobrisse a verdade dos fatos.
E, infelizmente, o seu “problema” estava estritamente relacionado a isso.

- É...

Fernando tragou a saliva, sentindo como o
embate da certeza fez com que ele estremecesse um pouco. Porém, por mais que se
esforçasse por compreender a situação, era difícil, ele como pai, aceitar que
sua garotinha havia se transformado em uma mulher, com necessidades de mulher.

- Já não sou criança, pai. E se resolvi dar
esse passo, foi porque eu realmente queria. Não foi por obrigação, ou por
pressão... Eu quis, entende? E eu não poderia ter escolhido homem melhor para
isso do que Christopher.

- Christopher?! Foi com ele?! E seus outros
namorados?

- Não houve nada com nenhum outro.

Fernando demorou um pouco a se dar conta do
que Dulce estava falando, e acabou lembrando-se do que ele lhe dissera na noite
de ontem, quando disse que estava disposto a se casar com Dulce.

- Eu não sou aquele homem das cavernas que
vai obrigar ao namorado da filha a se casar com ela porque a...a... Ahh, Nem se
preocupe com isso.

Dulce riu um pouco, mas logo desfez o
sorriso.

- Nem precisa chegar a esse extremo. Eu e
Christopher decidimos morar juntos.

Ela pronunciou essas palavras com a maior
naturalidade do mundo, olhando para o mar, não percebendo a expressão chocada
de seu pai.

- Que? Você vai o que?

- Vou morar com...

- Como me diz agora uma coisa dessas assim?!
– disse ele incrédulo. – Sua mãe já sabia disso?

- Ainda não disse a ela.

- Então eu sou o primeiro que sabe que você
vai morar com seu namorado? – ele falou com uma pontinha de ironia, coisa que
Dulce não gostou.

- Pelo menos fiz o Senhor queria, não? Pelo
menos soube em primeira mão, algo da minha vida! – espetou ela com acidez.

- Não gosto quando me responde assim! Por
mais que não tenha autoridade em algumas coisas, eu ainda tenho em outras...sou
o sei pai, e antes de tomar uma decisão como essa...tem que passar
primeiramente por minha aprovação!

“Sou dona da minha vida!”. Dulce mordeu a
língua para não dizer o que queria. Ela se calou, sabendo que era o melhor a se
fazer.

- Parece que você nunca ouviu o que eu disse
sobre isso!

- Não, não me lembro. – falou reticente,
sentindo como a tensão novamente parecia flutuar sobre os dois.

- Eu disse que filha nenhuma minha moraria
com um homem sem estar casada! E repito isso outra vez para que entenda: Filha
minha só sai de casa se for casada!

A irritação já começava a fazer presa em Dulce. Não suportava
isso! Não era mais uma criança! Tinha direito de viver como ela quisesse, com
quem ela quisesse!

- O Senhor não tem esse direito!

- Tenho, tenho sim! – disse ele rapidamente.
– Tenho tanto direito que quero logo que desfaça esses planos, porque eu não
vou voltar atrás! Não vou permitir que vá morar com ele sem ser casada!

- Então é mentira tudo o que disse sobre
Christopher?! – perguntou ela levantando a voz com irritação.

- Não! Tudo o que disse dele é sincero! A
questão aqui não é ele! É você! Você que é a minha filha e não ele! Estou
falando em decência!

- Tudo bem então! Pois agora o Senhor vai
sentir o gosto de ter um neto criado sem o pai! – disse Dulce em um arrebato de
fúria, vendo como seu pai empalidecia. Mesmo assim não se importou com o que
ele sentia, agora que havia começado, não pararia até acabar. – Era isso o que
queria ouvir? Pois sim! Era isso o que eu estava escondendo! – olhou para os
lados para ver se alguém ouvia a conversa, mas ao notar como as pessoas que
estava mais perto deles deviam estar a quase um quilômetro de distância, ela
relaxou e continuou a falar, em um tom mais baixo: – Estou grávida dele! Estou
esperando um bebê há, aproximadamente dois meses... – ela dizia rapidamente sem
se controlar. – Descobri quando desmaiei no ensaio naquele dia! Pronto, esse é
o grande segredo de Dulce María.