Fanfics Brasil - Ultimo Três Horas de Loucura - adaptada - Vondy

Fanfic: Três Horas de Loucura - adaptada - Vondy


Capítulo: Ultimo

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Choveu torrencialmente por dois dias seguidos, como se as comportas do céu tivessem sido abertas, despejando um dilúvio que fez transbordar os açudes, arrancando árvores pelas raízes.
Não havia nada que eles pudessem fazer para consertar estragos até que aquele aguaceiro acabasse. Quando finalmente parou de chover, Dulce saiu com o pai para arrumar as cercas que haviam sido derrubadas pela enxurrada.
Fernando Saviñón, como todos os fazendeiros, começou a avaliar os danos e prejuízos, mas era um preço bem pequeno para a tão necessária e esperada chuva que haviam recebido.
Trabalharam quase sem descanso para restaurar os estragos e, numa sexta-feira à noite, ambos voltaram para casa no velho caminhão, que por duas vezes encrencou nas estradas lamacentas. A mãe guardara a comida quente no forno, como vinha fazendo durante todas aquelas noites em que Dulce e o pai sempre chegavam atrasados.
— Vou precisar fazer uma revisão completa naquele caminhão — o pai resmungou quando se sentaram à mesa da cozinha para jantar.
— Deixe que eu darei uma olhada nele amanhã — Dulce ofereceu-se.
— Não dá para esperar até segunda-feira? — a mãe protestou. — Você trabalhou a semana toda como uma condenada, e merece descansar pelo menos nos fins de semana.
— Vamos precisar do caminhão na segunda-feira para ir buscar provisões na cidade. — Dulce lembrou á mãe.
Blanca suspirou, resignada, e foi buscar o bule de café.
Dulce estava esgotada quando subiu a escada, meia hora depois. Tomou um banho quente e caiu na cama. Pela primeira vez em muitas semanas não teve insónia, e adormeceu quase no mesmo instante em que pousou a cabeça no travesseiro.


No dia seguinte, mal amanheceu e Dulce já estava de pé. Vestiu uma calça jeans e uma camisa xadrez. Torrou uma fatia de pão e preparou um café na cozinha. O sol começava a aparecer para os lados das colinas quando ela saiu de casa e foi até o galpão, onde estava estacionado o caminhão.
O orvalho brilhava sobre a grama, como geralmente acontecia nas madrugadas do Karoo. Dulce aspirou o ar fresco e sentiu aquele cheiro bom de terra molhada.
Era tão bom estar viva, mas sua existência só teria sentido se... interrompeu esse pensamento com impaciência. Precisava parar de pensar em Christopher. Precisava esquecer! Mas, bem no fundo de seu coração, sabia que nunca iria esquecê-lo. Ele continuaria a fazer parte dela, não importava onde estivesse ou o que fizesse. Mas ela precisaria aprender a conviver com a realidade.
A porta do barracão aberta deixava entrar claridade suficiente para que ela pudesse dar uma examinada no motor. Seus olhos experientes logo localizaram o defeito. Precisaria de umas duas horas, no máximo, para fazer o conserto. Tirou as peças enlameadas e colocou-as de molho numa solução de detergente. Limpou o motor e substituiu o óleo do cárter, usando uma das latas do estoque que o pai guardava numa prateleira do barracão.
Equipada com as ferramentas necessárias, escorregou para baixo da carroceria, e já tinham se passado cerca de duas horas quando ouviu o som de passos, que pararam a pouca distância.
— Chegou tarde demais para me ajudar, papai. Se me passar aquela chave de fenda, termino com isso num minuto. — Ela esticou a mão para receber a ferramenta pedida. — Obrigada. Agora é só mais um segundinho.


Ainda estava deitada sobre o chão de concreto empoeirado quando relanceou o olhar para um par de sapatos de cromo alemão, muito brilhantes, que não eram muito comuns numa fazenda. Ergueu o olhar um pouco mais para o alto e viu aquela calça de tecido caro, terminando num cinto de crocodilo. A camisa de seda creme estava aberta no pescoço, e o coração de Dulce começou a bater loucamente mesmo antes de ver aqueles incríveis olhos que a fitavam com curiosidade.
— Christopher! — ela exclamou, levantando-se rapidamente e apoiando-se à capota do caminhão para não cair.
Ao vê-la toda suja de óleo e graxa, ele sorriu, divertido.
— Oi, Dulce!
Logo ela se deu conta de sua aparência lamentável. Os cabelos estavam presos num rabo-de-cavalo, o rosto sem um pingo de maquilagem, e a roupa velha estava imunda.
Mas, ao ver Christopher mais de perto, chegou a esquecer seu próprio aspecto. Notou umas estranhas mechas grisalhas nos cabelos castanhos, e os olhos, tão lindos, agora pareciam tristes e sem brilho. Ele emagrecera muito. Era fácil de notar pelas maçãs do rosto, muito saltadas, parecendo perfurar a pele morena. E o sorriso que ele lhe deu não tinha a menor alegria.
—Parece que você passou a noite em claro — ela comentou, a voz rouca pela emoção.
— De fato, não dormi — ele confessou. — Só ontem à tarde eu decidi fazer esta viagem, e dirigi durante a noite toda, sem parar.
— Você já esteve lá em casa?
— Já. Sua mãe foi muito gentil, e me convidou para o café da manhã. Fiquei conversando com seus pais por mais de uma hora.
— Oh! — ela exclamou, vendo uma espécie de acusação naquele olhar cansado.
— Pelo visto, você nunca falou de mim para eles.
— Não — Dulce confirmou secamente, fechando o capo e limpando as mãos num pano. — Não vi necessidade de falar sobre um relacionamento tão desastroso.


— Pois eu expliquei quem era e por que vim até aqui.
Muito tensa, ela perguntou:
— E por que veio até aqui?
— Para convencê-la a voltar comigo para Joanesburgo — ele disse.
Dulce fechou os olhos, desiludida.
Esperara por algo que nunca haveria de acontecer, e odiou-se por causa disso. Christopher a queria de volta em Joanesburgo para ser sua amante. Naturalmente o orgulho masculino não deixava que se con-formasse por ter sido recusado. E ela, idiota, alimentara esperanças falsas!
— Saia daí! — ela aconselhou, áspera, subindo para a cabine do caminhão. — Preciso dar uma volta com o caminhão para ver se o motor está funcionando bem.
Christopher entrou na cabine pelo lado oposto, sem ser convidado, e o veículo começou a roncar quando ela deu a partida.
Nenhum dos dois falou uma só palavra enquanto ela tirava o caminhão do galpão, levando-o para uma das colinas, de onde se avistava a esplêndida paisagem da fazenda. Dulce desceu e ficou olhando para aquelas campinas imensas.
"Oh, meu Deus, por que ele veio? Até quando irá essa tortura?", ela se perguntava.
Christopher aproximou-se dela, de mansinho.
— Dulce...
— Eu nunca deveria ter ido para Joanesburgo — ela o interrompeu, com aquela mesma amargura que a vinha oprimindo durante as últimas semanas. — As pessoas de lá pensam e agem de forma muito diferente. Aqui, o que é certo, é certo, e o que é errado, é errado. Em Joanesburgo é justamente o contrário. Eu não posso aceitar essa mentalidade de forma alguma, por isso decidi voltar para o lugar a que pertenço.
— Você pertence a mim! — ele exclamou.
Segurou-a pelos ombros, obrigando-a a virar-se, e olhou ansiosamente para aquele rosto pálido e sujo de graxa. Ela sacudiu a cabeça, teimosa.
— Não, Christopher, eu não pertenço a você!


— Sim, você é minha! — ele repetiu, com veemência. — Nestas últimas semanas vivi num verdadeiro inferno. Tentei me convencer de que você não significava nada para mim, mas foi inútil. Saí com todas aquelas mulheres que viviam me telefonando, cada noite com uma diferente, mas todas tinham os seus olhos, sua boca, sua voz, seus cabelos. — Ele soltou um gemido doloroso e escorregou as mãos pelos braços de Dulce. — Creio que elas pensaram que eu estava ficando louco ou impotente. Sempre as deixava na porta de casa, com um "Boa noite, e passe bem".
— Christopher...
— Quando concluí que nenhuma daquelas mulheres conseguia provocar em mim o mínimo entusiasmo, afundei no trabalho até o pescoço — ele continuou, sem se deixar interromper. — Isso só fez com que eu sentisse ainda mais sua falta e chegasse à conclusão de que, sem você, eu estava pouco ligando para a Empresa Uckermann de Engenharia. Nada mais fazia sentido sem você ao meu lado, para compartilhar da minha vida. Sentia falta até das vezes em que você tentava me fazer entender seu modo de pensar. Não sei como não percebi isso antes.
Christopher tentava demolir a muralha com que ela cercara seu coração, mas Dulce estava determinada a dar não ouvidos àquelas palavras Poderia sair seriamente machucada.
— Vamos embora daqui — disse impetuosamente, ao ver que ele mal podia sustentar-se nas pernas. Passou-lhe o braço pela cintura, amparando-o, e o conduziu até o caminhão. — Você está quase dormindo em pé.
— E você está com um cheiro diferente, água de colónia misturada com graxa! — Christopher comentou, sorrindo, ao subir para a cabine do veículo. — Sabe que é até gostoso?
— Suba logo! — ela ordenou enérgica e, surpreendentemente, ele obedeceu sem discutir.


— Dulce... — murmurou naquela voz profunda, que sempre tivera o poder de perturbar-lhe os sentidos. Mas ela não queria que ele dissesse nada de que pudesse arrepender-se mais tarde.
— Por favor, não diga mais nada agora — suplicou. — Falaremos depois.
Christopher suspirou e esticou o quanto pôde as longas pernas dentro daquele exíguo espaço da cabine do caminhão, fechando os olhos. Mas ela sabia que ele não estava dormindo durante aquele breve percurso até os fundos da casa, onde estava estacionado o Jaguar vermelho, sob a sombra de uma paineira.
Blanca Saviñón estava no hall quando eles entraram na casa. Ela lançou um olhar estranho para Dulce, antes que seus olhos bem treinados percebessem o estado de exaustão do homem que acompanhava a filha.
— Coloquei suas coisas no quarto de hóspedes, sr. Uckermann. Se quiser, fique à vontade e vá repousar um pouco lá em cima — ofereceu com um sorriso hospitaleiro, que Christopher retribuiu com um sorriso de gratidão.
— E muita bondade de sua parte, sra. Saviñón. Estou precisando mesmo de um bom sono.
— Dulce lhe mostrará o caminho — Blanca continuou.
Quando eles se dirigiram para a escada, Dulce olhou para trás e viu novamente aquela expressão insondável no rosto da mãe.
O que Christopher teria dito aos país? Ficou se perguntando, enquanto o levava até o quarto de hóspedes. Que diabo de história ele teria contado?
Estava tão absorvida com aqueles pensamentos que chegou a assustar-se quando Christopher a chamou pelo nome. Só então se deu conta de que estavam parados ao lado da cama, naquele quarto espaçoso e arejado.
— Deite-se e desaperte o cinto — ela disse, brusca, colocando ambas as mãos sobre o peito largo e possante de Christopher, e empurrando-o.
Ele caiu sentado pesadamente sobre o colchão de molas. Começou a desafivelar o cinto de crocodilo sem desviar os olhos dela. Depois, esticou as pernas e repousou a cabeça sobre o travesseiro macio de penas de ganso.


Ela manteve o rosto muito rígido, esforçando-se para esconder seus sentimentos quando começou a desamarrar-lhe os cordões dos sapatos, que colocou ao lado da cama.
Precisava sair dali o mais rápido possível. Já não conseguia mais aguentar aquela proximidade perturbadora, mas ele estendeu a mão para segurá-la, como se tivesse adivinhado sua intenção de fugir dali.
— Não vá embora — pediu. Embora sua voz estivesse mole e arrastada pelo cansaço, continuava com força suficiente nas mãos para obrigá-la a sentar-se na beirada da cama.
— Estarei aqui quando você acordar. — Dulce apertou a mão que segurava a sua, como se quisesse tranquilizá-lo.
— Promete?
A ansiedade daqueles olhos atingiram-lhe diretamente a alma, e foi com a voz embargada pela emoção que ela confirmou:
— Prometo.
Ele pareceu relaxar na mesma hora, e as pálpebras cederam ao peso do sono, fechando-se. Mas continuou agarrado à mão dela por um bom tempo, antes de soltá-la. A respiração ritmada demonstrava que caíra num sono profundo, e Dulce aproveitou a oportunidade para observar aquele rosto tão amado, mas visivelmente marcado pela exaustão. Christopher parecia tão fraco e vulnerável, ali deitado, que ela foi tomada por uma onda de ternura.
— Eu te amo, Christopher, te amo muito, não importa como você seja ou o que faça. Eu sempre te amarei — disse, num sussurro.
Ele estava dormindo tão profundamente que não poderia ouvi-la. Antes de levantar-se, pousou os lábios de leve sobre a mão morena, agora abandonada molemente ao lado do corpo.

Fechou a porta devagarinho. Quando virou-se, deu de cara com a mãe.
— Ele dormiu? — Blanca perguntou, a meia voz,
— Sim, dormiu — Dulce respondeu também baixinho. Sem poder conter mais as lágrimas, que teimavam em cair, exclamou: — Oh, mamãe!
— Eu sei — Blanca disse, compreensiva, abrigando-a com um abraço amoroso. — Deve ser difícil amar alguém como ele.


A mãe era uma mulher muito mais esperta do que ela imaginara. Dulce não negou aquela verdade, achando que não havia mais razão para ocultar seus sentimentos.
— O que estou precisando agora é de um chá bem forte — disse, depois que desceram e entraram na cozinha.
— Ambas precisamos — a mãe concordou, indo colocar a chaleira no fogo. — Depois que tomar seu chá, sugiro que tome um bom banho e troque de roupa. Vista algo bem bonito, minha filha!
Dulce deu um sorriso encabulado. Sabia que sua aparência não era das melhores, depois de ter passado horas debaixo daquele caminhão imundo. E Christopher a tinha visto daquele jeito!
Ficou horrorizada ao pensar nisso, mas não pôde deixar de ver o lado engraçado da situação. Era um bom sinal. Apesar de tudo o que lhe acontecera, não tinha perdido o senso de humor.
Blanca também estava sorrindo, entendendo e participando das emoções e reações da filha. Dulce pensou, meio arrependida, que talvez tivesse sido um erro não ter aberto seu coração aos pais. Mas, mesmo agora, era difícil fazer confidências sobre os sentimentos que tinha por Christopher.
Pouco mais tarde ela subiu para o seu quarto, passando pela porta do quarto de hóspedes, onde Christopher dormia. As palavras dele voltaram-lhe à memória: "Vim para convencê-la a voltar para Joanesburgo comigo".
O que ele quisera dizer exatamente com aquilo? Será que iria lhe fazer, alguma proposta semelhante àquela que já lhe fizera antes, e que provocara seu afastamento de Joanesburgo?
— Oh, meu Deus, não! Isso eu não poderia suportar! — falou em voz alta, já no banheiro, ao começar a enxugar-se com uma toalha felpuda.
Antes que Christopher chegasse, estava quase convencida de que poderia sobreviver sem ele. Mas, ao tornar a vê-lo, percebeu que seria impossível apagá-lo de sua vida completamente.



"Nestas últimas semanas, vivi num verdadeiro inferno. Tentei me convencer de que você não significava nada para mim, mas foi inútil"


, as palavras dele voltaram à mente de Dulce.
Christopher teria dito a verdade? Poderia acreditar nele? Ou seria mais um truque para enganá-la? Aquela expressão de desespero nos olhos azuis chegava a ser convincente. Mas ele gostaria dela o suficiente para lhe fazer uma proposta digna, em vez de um convite ofensivo?
Envolvida com esses pensamentos, escolheu um vestido de seda estampado com flores, cuja tonalidade combinava com o dourado de seus olhos. Escovou os cabelos vigorosamente e aplicou uma leve maquilagem sobre a pele, que agora adquirira um leve bronzeado. Tudo era dourado, menos o seu futuro. Calçou um par de sandálias confortáveis, deu uma última olhada no espelho e desceu para almoçar com os pais.
Fernando foi tomar seu cafezinho, após o almoço, na varanda comprida e sombreada. Apesar de ter mencionado o nome de Christopher casualmente, passou a comentar os bons resultados que aquelas chuvas tinham proporcionado aos pastos e rebanhos.
Dulce sentiu-se grata por isso. Assim, teria mais tempo de preparar-se para o inevitável reencontro com Christopher, que não descera para almoçar.
Seria melhor deixá-lo dormir, fora o conselho de Blanca que ninguém contestou, confiando na sabedoria dela quanto a esses assuntos.
Dulce continuou à sombra da varanda, mesmo depois que os pais subiram para a habitual sesta de uma hora. Ficou o tempo todo irrequieta. Quando o relógio bateu quatro horas e Christopher não deu sinal de vida, anunciou aos pais, que já tinham voltado do quarto:
— Acho que vou dar uma volta por aí. — E, diante do olhar curioso de ambos, acrescentou: — Se precisarem de mim, poderão me encontrar perto do velho poço.
Saiu sob aquele sol ainda ardente, que lhe queimava o rosto e os braços. Parou ao chegar num recanto do jardim, à sombra dos ciprestes.

Debruçou-se sobre a amurada de pedra do poço, que há muito tempo havia secado e não era mais usado. Seu olhar estendeu-se para os campos distantes, onde rebanhos de ovelhas e carneiros pastavam sob o mormaço quente daquele fim de tarde. As cigarras cantavam alto nas árvores ao seu redor, e ela enxotou uma abelha que esvoaçava sobre sua cabeça, fervilhante de pensamentos dirigidos para uma
só pessoa. Seu cérebro parecia um dísco quebrado, repetindo sempre
o mesmo refrão: "Christopher... Christopher... Christopher..."
Não tinha ideia de quanto tempo fazia que estava ali. O sol já se escondia no horizonte quando ela ouvíu um barulho de passos. Acordou de seus pensamentos e viu o próprio Christopher andando em sua direção. Ele tinha trocado de roupa e agora, naquele jeans e camisa esporte, parecia ainda mais másculo e atraente.
Aproximando-se dela, ele também apoiou-se à amurada do poço. Aquela proximidade fez com que os nervos de Dulce vibrassem intensamente.
— É um poço de verdade? — ele perguntou, olhando para aquela profundeza sombria.
— Já foi, mas hoje em dia é apenas um buraco vazio — ela respondeu, estudando-lhe a fisionomia. — Você está melhor?
— Eu me sinto como alguém que dormiu por sete horas seguidas — Christopher respondeu sorrindo.
Dulce desviou o olhar para que ele não percebesse sua perturbação.
— Parece que vamos ter uma nova tempestade — ela comentou, olhando para as nuvens negras que se acumulavam a distância. — Posso sentir o cheiro da chuva no ar.
— Eu também pressinto que uma tempestade está prestes a se desencadear dentro de mim — ele disse calmamente, e o coração de Dulce disparou.
— Você disse um monte de coisas hoje pela manhã, e nenhuma delas me convenceu...
— E todas elas eram verdadeiras — Christopher a interrompeu.
— Vamos andar um pouco — ela sugeriu, sentindo uma dor insuportável dentro do peito. Mas ele a reteve, segurando-a pelos ombros.


— O que você tanto teme, Dulce?
Ela levantou os olhos e encarou-o durante alguns segundos, adorando aquele toque, mas odiando suas consequências.
— Eu tenho medo é de você — confessou, com absoluta honestidade. — Tenho medo de como você me faz sentir e, sobretudo, tenho pavor de ser ferida.
— Eu não quero ferir você, Dulce, por mais inacreditável que isso pareça. — Christopher deu um passo à frente quando Dulce começou a andar, mas não a tocou novamente. —Minha única intenção ao vir para cá foi suplicar, caso seja necessário, que você me dê uma oportunidade de me desculpar e consertar meus erros passados.
De que forma ele poderia desculpar-se por ter-lhe proposto ser sua amante? Christopher tornara bem claro, desde o início, que para ele o casamento estava fora de cogitação.
Para evitar a pergunta, ela propôs:
— Se andarmos naquela direção, poderemos ver o sol se pondo por detrás das colinas.
Christopher a acompanhou em silêncio, mas ela o sentia com todas as fibras de seu ser. Amava-o pelo que ele era; um homem com uma vitalidade inesgotável, capaz de gestos generosos e desinteressados, disfarçados sob aquela falsa aparência de arrogância. Lembrou-se da sra. Gandia, recebendo flores e visitas constantes.
O sol começou a esconder sua luminosidade por trás das colinas. Faixas coloridas, desde o vermelho até o amarelo, enfeitavam a linha do horizonte.
— Lindo, não acha? — ela perguntou, suavemente temerosa de estar perturbando a paz silenciosa do entardecer.
— Dulce, olhe para mim.
A hora da verdade tinha chegado, e ela sentiu-se amedrontada.
— Por favor, Christopher, não poderíamos esperar até que...
— Olhe para mim, já disse! — ele insistiu, com firmeza. — Eu não quero assistir a outro pôr-do-sol sem ter você a meu lado. Deu para entender?
— Por acaso está pedindo que eu vá viver com você?
— Só sei que sem você a minha vida não tem sentido. Estou lhe propondo que fique comigo. — Christopher passou as mãos pelos cabelos ruivos dela e completou: — Estou pedindo que se case comigo!


Uma alegria intensa explodiu no coração de Dulce, mas mesmo assim ela continuou de prevenção.
— Dentro dos meus padrões de vida, eu acredito no "para sempre", e não estou absolutamente certa de que essa seja a sua intenção.
— Eu te amo, Dulce, e preciso de você. Para mim, uma eternidade não seria suficiente para provar o quanto te amo!
As muralhas haviam sido derrubadas, as máscaras, removidas, e a mais incrível felicidade apossou-se do coração de Dulce.
— Oh, Christopher! — E eles se abraçaram, comovidos.
— Isso significa que você aceita o meu pedido de casamento? — ele perguntou, com uma humildade que não combinava com aquele homem pretensioso e arrogante que ela conhecera.
— Sim, eu me casarei com você! — afirmou, os olhos já nublados pelas lágrimas de alegria, — É claro que eu aceito!
Um beijo apaixonado completou aquele momento de felicidade. Por muito tempo eles permaneceram abraçados, sob as trevas que começavam a cair. Tremendo de felicidade, ela perguntou:
— Por quanto tempo pretende ficar aqui?
— Fui convidado a ficar até o próximo sábado, quando será realizado o nosso casamento.
— Sábado? — ela repetiu, surpresa com a notícia, e já pensando no que fazer para aprontar tudo, caso ele estivesse falando a sério.
— Planejei uma lua-de-mel fantástica para nós — Christopher disse, e lançou-lhe um olhar malicioso. — Uma viagem de seis semanas pelas ilhas Britânicas e pela Europa.
Ela lembrou-se daquele primeiro convite e ficou muito vermelha diante da sugestão.
— Fale a sério, Christopher, por favor!
— Estou falando a sério! — ele confirmou. — Telefonarei à sra. Gandia para que ela compre as passagens para Londres. Tudo estará pronto quando chegarmos a Joanesburgo.


Ela o olhou, já aliviada, e brincou:
— Tive um pressentimento de que não poderia recusar essa sua proposta.
— Claro! Eu também sabia que um dia você haveria de aceitar! — Segurando-a pela mão, ele propôs: — Que tal voltarmos para a sua casa?
Ao se aproximarem do sobrado, viram os pais de Dulce sentados na varanda. Ela parou, curiosa, e perguntou:
— O que disse a eles hoje de manhã, quando chegou?
— Eu disse que tinha sido um idiota por não ter pedido você em casamento há mais tempo.
— E o que foi que eles disseram?
— Que eu não deveria alimentar muitas esperanças, mas que ficariam torcendo por mim. Seu pai me prometeu uma garrafa de uísque para afogar minhas mágoas, caso você recusasse o meu pedido.
— Você não tem jeito mesmo — Dulce disse rindo. Diante do olhar que ele lhe deu, resolveu completar: — Sabia que eu te amo muito?
— O que eu sabia é que você iria escolher um momento como este, na frente de todo mundo, para dizer que me ama.
— Nunca pensei que você fosse um homem capaz de se encabular diante de outras pessoas — ela caçoou, arrependendo-se do que dissera no instante seguinte.
— Você me provocou! — ele a advertiu, antes de beijá-la apaixonadamente na frente dos pais.

Dulce apertou o cinto do penhoar de seda e deixou a mala aberta para admirar o esplêndido buque de crisântemos brancos. As flores já estavam na casa de Christopher quando eles chegaram, e traziam um cartão da sra. Gandia desejando-lhes mil felicidades.
Dulce agradeceu interiormente a boa intenção da velha secretária de Christopher, mas aqueles votos eram desnecessários. Ela estava feliz ao girar no dedo anular a aliança de ouro.
Lupe e a mãe tinham viajado até Aberdeen para assistir à cerimônia de casamento. Guilermo Ochoa também estivera presente.


Para não perder tempo, Christopher fizera os arranjos necessários para que o Fiat e o Jaguar fossem transportados por via férrea até Joanesburgo. Depois do casamento, eles tomaram um avião particular, contratado por Christopher, até Port Eiizabeth, e de lá pegaram outro para Joanesburgo, onde a viagem de lua-de-mel teria início.
Saindo daquele banheiro, já tão seu conhecido, após ter tomado um banho e vestido o penhoar, ela encontrou Christopher deitado na enorme cama onde, certo dia, lhe fizera uma massagem relaxante.
— Lee só vai servir o jantar daqui a duas horas — ele disse, procurando-lhe os lábios.
— Quer dizer que teremos tempo de sobra? — ela sussurrou, aceitando aquele convite para o amor.
Ele tirou-lhe o penhoar e admirou sua nudez, extasiado.
— Você é tão linda e macia! — constatou, acariciando-lhe os seios com os lábios. — Tem o mesmo cheiro delicioso do ar da montanha!
— Oh, Christopher, eu te amo tanto! — ela murmurou em êxtase, acariciando aqueles macios cabelos castanhos com sofreguidão.
— Eu te adoro, minha querida! Nunca disse isso antes?
— Você já disse, só que eu não acreditava.
— Sabe, Dulce? Acho que eu estava cego e surdo. Só não estava mudo. Falei tantas bobagens! Fazia tanta questão da minha liberdade, que terminei sendo aprisionado por ela. — Christopher passou a mão pelos cabelos ruivos de Dulce, soltos sobre os ombros, e acrescentou: — Eu estaria disposto a enfrentar novamente o inferno por você, mas não gostaria jamais de tornar a lhe causar tanto sofrimento.
E eles se amaram naquele mesmo leito, conforme o destino tinha determinado desde o primeiro instante em que se viram.


Fim...




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Autor(a): natyvondy

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 563



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  • stellabarcelos Postado em 10/09/2015 - 01:34:49

    Muito perfeito! Parabéns

  • larivondy Postado em 16/10/2013 - 01:04:16

    perfeeita *-*

  • PatyMenezes Postado em 19/02/2011 - 14:11:35

    Aaaah .... :)
    Final perfeito *-*

  • PatyMenezes Postado em 19/02/2011 - 14:11:35

    Aaaah .... :)
    Final perfeito *-*

  • PatyMenezes Postado em 19/02/2011 - 14:11:35

    Aaaah .... :)
    Final perfeito *-*

  • PatyMenezes Postado em 19/02/2011 - 14:11:35

    Aaaah .... :)
    Final perfeito *-*

  • PatyMenezes Postado em 19/02/2011 - 14:11:34

    Aaaah .... :)
    Final perfeito *-*

  • moreninhavondy Postado em 19/02/2011 - 14:09:10

    LINDO *--------------------*
    Amei o final *-*

  • moreninhavondy Postado em 19/02/2011 - 14:09:10

    LINDO *--------------------*
    Amei o final *-*

  • moreninhavondy Postado em 19/02/2011 - 14:09:10

    LINDO *--------------------*
    Amei o final *-*


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