Fanfic: DDP -> DiFeReNtE dO pAdRãO!!! - 1°/2°/3°/4° Fase (TV ABREV - Novela 04) (FINALIZADA)

A movimentação na casa de Renata começou antes da protagonista acordar.

Meire, avoada e tensa, anda de um lado para o outro preparando o café da manhã, arrumando as malas para a longa viagem de trabalho e também mostra-se preocupada com o primeiro dia de aula da filha, tanto que bem antes de completar 06:20, entra no quarto da adolescente e puxando de leve a ponta do edredom, a acorda:

Meire:- Renata...acorda!

Renata estava tendo um sonho muito bom, pois desperta assustada e sem nem mesmo abrir os olhos, resmunga, afinal depois de passar mais de dois meses vendo televisão até de madrugada, está mesmo desacostumada com o ritmo escolar:

Renata:- Aaaah manhê...ainda é de noite...Poxa...

Renata se cobre até o rosto e vira-se para o canto oposto ao da mãe.

Meire:- Nada disso. Já são mais de seis horas da manhã e eu tenho que estar lá no Afonso Pena às 07:15, portanto vê se não se enrola muito, ta?

Renata se senta no leito, esfrega os olhos e Meire percebe que a filha não organizou os pertences que levará para a casa do pai, onde passará as próximas 3 semanas:

Meire (visivelmente irritada):- Não me diga que você não arrumou suas coisas?

Renata (retruca):- Não vou pra lá.

Meire (ríspida e autoritária):- Criança não tem querer.

Renata (ofendida):- Criança o teu nariz. Cadê a criança?Pra sua informação, não sou criança já faz muito tempo e fique sabendo que você não manda mais em mim.

Por ter faltado o respeito com a mãe, Renata leva um cascudo de Meire:

Meire:- Mal educada... Se não quiser levar outro cascudo, vê se sai dessa cama e organize tudo. To contando no relógio: vou passar aqui em 5 minutos, hein?5 minutos...

Renata (pensa):- Ela ainda vai se arrepender por estar fazendo isso comigo...

Faria qualquer coisa para não passar aquelas 3 semanas ao lado de Felix e Helena. Não passavam de estranhos.

Durante os 15 minutos no ônibus, Tita recordou brevemente dos tempos em que idolatrava ao pai.

Sexta-feira após a aula, Felix buscava Tita para passarem o fim de semana juntos. No Domingo ao anoitecer, Renata chorava muito, às vezes até tinha febre devido a enorme saudade que sentia dos momentos alegres com o progenitor.

Quando Felix casou-se com Helena, Tita sentiu-se ofendida, compreendeu o relacionamento do pai como uma ruptura no laço afetivo que os unia.

Ao descer do ônibus, sentiu um calafrio: era naqueles blocos parecidos com presídio que passaria os próximos meses.

Renata (suspira):- Poderia ser pior.

Estudantes se abraçam, outros se beijam. Garotos do famoso C.E.P.E.M., parados com suas bicicletas, riem alto e fumam cigarro. Entre eles, está Márcio, que por não ter dinheiro para comprar o uniforme, está usando uma camisa da seleção brasileira e uma bermuda recebida de doação:

Márcio:- Alguém viu se a Cris já chegou?

Cauê:- Sei que você ta amarrado na gata, mas ela é muita areia pro seu caminhão.

Márcio:- Eita cara (Cauê), que pessimismo, sangue bom. Ela ainda vai me amar...

Cauê:- Aqui no colégio o que mais tem é mulher.

Márcio:- Mas ela não é qualquer uma.

Assim que Márcio termina de falar, Cristina, com o visual renovado e usando seu novo perfume, surpreende o amigo tampando os olhos dele:

Cristina:- Adivinha...

Márcio:- Cris.

Os meninos tiram sarro de Márcio quando vê Cris. Os amigos se abraçam e entram no colégio para conversar:

Cristina:- Tomara que a gente fique na mesma sala, né?

Márcio:- Se eu não ficar, dou um jeitinho.

Enquanto a grande maioria dos alunos já está presente ou a caminho, Rodrigo ainda nem sequer acordou.

Arlete, sua mãe, está assistindo à missa matinal pela televisão e quando olha no relógio, pensa consigo mesma:

Arlete:- O Dico já deve estar no colégio...Vou aproveitar pra dar um jeito naquela inhaca que está o quarto dele..Eita guri desajeitado...

Quando abre a porta do aposento, encontra Rodrigo dormindo e por ser muito rígida o desperta com tapas na bunda:

Arlete (aos berros):- SABE QUE HORAS SÃO?SABE QUE HORAS SÃO?

Rodrigo quase tem um enfarte por conta do susto. Com o rosto amassado e a voz engrolada, pergunta:

Rodrigo (zonzo):- Perdi a hora?

Arlete, que estava rezando calmamente, está furiosa e até atira um chinelo de dedo na direção do filho:

Arlete:- PREGUIÇOSO, IRRESPONSÁVEL...É DESSE JEITO QUE QUER SER PADRE?

Arlete sonha em ver Dico sendo ordenado padre, entretanto, o garoto não tem mostrado vocação para seguir a carreira eclesiástica.

Rodrigo:- Calma mãe...

Arlete:- E AINDA QUER QUE EU ME ACALME?

Rodrigo:- Relaxa, mãe...Ainda é 07:15...

Arlete:- ANO PASSADO FOI PRO CONSELHO DE CLASSE E JÁ VAI COMEÇAR ESSE ANO PERDENDO AULA...

Rodrigo:- Não vou perder nada, manhê. Que drama!

Arlete:- DRAMA?DRAMA! (enche o filho de tapas) É DESSA FORMA QUE QUER PASSAR DE ANO E SER ORDENADO PADRE AINDA NO ANO QUE VEM?

Rodrigo:- Dá tempo ainda, mãe... Para, ô...ta doendo...

Arlete:- E esse ano, senhor Rodrigo, esse ano o sabiá vai mudar de cantiga aqui em casa. Uma nota vermelha e eu arrebento a vara de marmelo nas tuas costas, ouviu bem?

Rodrigo apanha a pasta - com o caderno do ano passado, papel de bala e um monte de material escolar inútil, com o prazo de validade expirado - calça o tênis fedorento de chulé, vai até o espelho e dá uma mexidinha na franja.

Arlete, nada agradada com o odor que toma conta do quarto, comenta:

Arlete:- Xi...não to gostando nada desse cheiro, hein?Se esqueceu do chuveiro, de escovar os dentes?

Rodrigo:- Mas você não disse que eu to atrasado, pô?Não entendo.

Arlete:- EU NÃO SOU VOCÊ, SOU SENHORA. VÁ JÁ PRO BANHO E TAMBÉM ESCOVE ESSES DENTES QUE O BAFO TA BRABO, HEIN?E VAI LOGO...

Andréa acompanha Julia até a sala 12, onde são ministradas as aulas de matemática. Dequinha, a irmã caçula de Ju, é superdotada e pulou alguns anos. É nova aluna do C.E.P.E.M. porque a diretora Raimunda Mascarenhas fez questão de aceitar a garota.

Poucos sabem, mas Andréa e Julia são filhas do professor Eduardo Gutierrez, o famoso professor Edu. No ambiente de ensino, as meninas são tratadas do mesmo modo que os outros estudantes, regra válida também na hora de lançar as notas.

Renata perdeu-se na imensidão do colégio para encontrar seu nome na lista do 2A e justamente quando escolhe um lugar para se sentar, o sinal, mais parecido com uma sirene de ambulância, toca insistentemente e das caixas de abelha espalhadas em todos os prédios é possível ouvir a voz irritante de Raimunda:

Vanessa (resmunga):- Lá vem sermão da véia louca outra vez.

Raimunda:- TODOS NO PÁTIO!TODOS NO PÁTIO!EM FORMA, AGORA!

Guilherme e seus amigos roqueiros estão no alpendre do colégio, onde tradicionalmente a turma do 2A dos anos anteriores formam a famosa fila: pequenos na frente, grandalhões atrás e Gui, estudante do C.E.P.E.M. durante toda a vida letiva, tampa o nariz e imita fielmente os trejeitos da diretora:

Guilherme:- TODOS NO PÁTIO AGORAAAAAAA!

Raimunda, antes de qualquer coisa, chamou Michelle, a melhor aluna da escola e outros dois estudantes com bom desempenho para ajudá-la a hastear as bandeiras do Brasil, do Estado do Paraná e por último a flâmula com o brasão do C.E.P.E.M. estampado.

Vanessa (caçoa):- Só foi lá porque é CDF.

Guilherme cutuca os meninos para zoar da Raimunda chorando ao prestar continência para a bandeira. Vanessa ri durante o Hino Nacional e Tita, no final da fila, tenta esconder-se aos olhos da orientadora Gerusa, que ao avistar alunos rindo, os tira de circulação.

Raimunda, após cantar com louvor, ajusta o microfone, pigarreia e cumprimenta a todos:

Raimunda:- Muito bom dia alunos e mestres do C.E.P.E.M.!É com muito entusiasmo que inicio este discurso de boas vindas para novatos e veteranos...

Rodrigo conseguiu pular o muro do colégio e passou despercebido pela multidão. Apenas Júlia o reconhece e sussurra:

Julia:- Seu doido...Quase pensei que você não vinha.

Rodrigo: -Ainda bem que foi quase. Perdi muita coisa?

Julia:- Nada...

Raimunda passou mais de meia hora dando sermão. Após isso, os estudantes puderam dirigir-se até suas respectivas classes.

Para o 2A as duas aulas antes do intervalo foram de Língua Portuguesa e ambas ministradas pelo professor Eduardo, que educadamente, pediu para os novos alunos apresentarem-se para a turma e já iniciou seu cronograma.

Durante o intervalo, Raimunda anunciou através do Rádio Aluno, que as aulas, excepcionalmente seriam somente até as 10:15.

Não sobrou ninguém no pátio do C.E.P.E.M.

Para Tita, nada de novidades. Não conseguiu conversar com ninguém.

Resolveu caminhar até a casa do pai. Helena já a esperava e para agradar a enteada, preparou macarrão com carne moída, um dos pratos favoritos da filha de Felix.

A conversa durante o almoço foi superficial. Renata agradeceu pela hospitalidade, mas o semblante não sabia mentir.

Para Márcio, nada mais importaria se pudesse permanecer o dia inteiro ao lado de Cris, que está dividida entre se entregar a paixão e a carreira de modelo.

Há tempos vem querendo ser sincero com a `patricinha` e por temer ser dispensado, adia os planos. Não considera-se `bom o bastante` por ser negro, muito pobre e mal vestido.

Márcio:- Sabe, Cris...

Cristina:- Fala...

Márcio:- Você...você ta ficando com alguém?

Cristina:- Não...você ta, não ta?

Márcio:- Não...

Cristina:- Ta brincando comigo, né?Lindo desse jeito e sozinho?

Márcio:- Não precisa mentir, Cris. Bonito eu sei que não sou...

Cristina:- Não me diga que você se acha feio?

Márcio:- Sim...

Cristina:- Mas eu não acho.

Quando abraçava Cris, tentava prolongar o momento.

Quando aquelas leves e delicadas mãos entraram em contato com as suas, as batidas do coração aumentaram.

Márcio (incrédulo):- Mesmo?

Cristina (confessa):- Se eu tivesse um namorado como você, seria a menina mais feliz do mundo.

Márcio:- `Cê` ta doida, né?

Cristina, a príncipio, pareceu ter se chateado com o comentário de Márcio.

Cristina:- Desculpa se eu disse alguma besteira.

Márcio:- Não, Cris. Não foi isso.

Cristina:- Eu disse sim.

Cris e Márcio estão passeando pelas redondezas do bairro onde a garota reside.

Márcio:- Juro que não...

Cristina:- Acho que preciso ir...

Márcio:- Que não seja por isso.

Cristina:- É sério...acho que eu não devia ter dito aquilo.

Cristina despediu-se de Márcio e no caminho tentou suprimir as lágrimas que escorriam de sua face. Márcio tentou alcançá-la. Em vão.