Fanfic: DDP -> DiFeReNtE dO pAdRãO!!! - 1°/2°/3°/4° Fase (TV ABREV - Novela 04) (FINALIZADA)

Márcio:- Arlindinho, vai desistir do seu sonho só porque o tio ta hospitalizado?

Arlindinho:- Eu sei o que todos vocês pensam de mim.

Márcio:- Olha, cara, eu não sei quem falou de você, mas ignore que é inveja.

Arlindinho:- Quem teria inveja de mim?Olha quem eu sou, cara. Nem a oitava série eu terminei, nunca namorei, não sei nada...

Márcio:- Você é um grande amigo, sabia?Eu nunca falo porque não é costume, mas quando eu tava desistindo da vida, você chegou pra mim e me deu a oportunidade de encontrar no rap a liberdade de expressão, um motivo pra viver, pra fazer a diferença. A gente ainda tem muito chão pela frente pra desistir agora.

Arlindinho, que é sempre tranquilo, cai no choro.

Márcio:- Pô, truta, chora não... Momento difícil a gente passa e supera...

Arlindinho:- Se quiser continuar com o grupo, tudo bem, mas eu to saindo.

Márcio:- Sem você não tem Coxudos MCS.

Arlindinho:- Já tomei minha decisão.

Márcio:- Você imagina eu que perdi a mulher da minha vida, truta. Devia estar morrendo de tristeza, mas to aí na luta, tentando viver.

Arlindinho:- Ao menos você já teve uma mulher. Eu nunca.

Márcio:- Tua mina de fé vai chegar, cara. Tenha fé. Eu achava que nunca ia ter ninguém, aí vem a própria Cris e declara pra mim... Cara, a gente tem que sonhar também... Se viver só de realidade, fica louco.

Arlindinho:- Na verdade foi você que me inspirou a querer ser cantor, aquela época em que ia ser ator...

Márcio:- Era muita playboyzagem, sabe?Mas viu só como um inspira o outro?Vamos fazer nossa parceria, tocar nossos raps por aí. Cantar é um santo remédio pra alma, meu amigo.

Arlindinho enxuga as lágrimas e Márcio abre os braços:

Márcio:- Que desanimar que nada, truta!Vamo que vamo que um dia a gente chega lá...

Não demora muito para Cauê e Piolho chegarem.
Márcio, inspirado pelo amigo, passa a noite toda escrevendo versos.
Arlindinho não consegue dormir e ainda chora muito, seja pelo estado de saúde do pai e pelas palavras crueis que ouviu de Vanessa, ao mesmo tempo em que também descobre uma dádiva que poucas pessoas no mundo sabem desfrutar: ter amigos de verdade.

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O boletim médico de Arlindo ainda revela que o estado de saúde do homem é estável e as orações continuam.
Se as notas de Vanessa estão baixas, pouco importa para Ofrásia, que interiormente ainda sonha em ver a filha levando os estudos a sério, o que parece ser algo impossível.

Vanessa:- Quando o Ronei perceber que eu mando aqui, vai cair aos meus pés.

Ofrásia:- Mas isso não dá garantia de nada, filha. Uma hora ou outra aí o Ronei pode aparecer morto. Não quero ver minha filha sofrendo igual a Jurema com filho pra criar, com as mãos abanando.

Vanessa:- A Jurema se ferrou na vida porque é uma burra e pegou zé ninguém, mas o Ronei é o deus daqui e sendo mulher dele eu me torno a deusa também, além de herdar toda a dinheirama dele e comandar a favela com mãos de ferro. Sabe que a primeira coisa que eu faria seria jogar o Cauê pra fora de lá?Jogar ele com as trouxas e tudo, deixar sem nada...

Ofrásia:- Quanta maldade nesse coração, Vanessa. Credo!Deus que me livre!

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Renata chega ao colégio um pouco desanimada porque sabe que no fim do dia levará uma surra da mãe por conta das notas baixíssimas no boletim e se senta na carteira ao lado da de Cadu onde encontra um embrulho e até teme abrir, pois acha que deve ser de Julia, mas...

Guilherme:- Não vai abrir?

Renata se vira de costas e encontra Guilherme:

Renata:- Pensei que não tivesse mais nada a falar comigo.

Guilherme:- Bobabem, solzinho.

Renata:- É pra mim?

Guilherme:- Queria saber se acertei...

Renata, curiosa, abre o embrulho cinzento e encontra um lindo colar amarelo em forma de guitarra:

Renata:- Que lindo!Poxa, não precisava!

Guilherme:- Ainda é muito pouco em vista do que eu queria fazer por você...

Renata beija o colar e Gui pergunta:

Guilherme:- Quer que eu o coloque em você?

Renata se levanta e Gui coloca o colar de guitarra, abraça a namorada e a beija. É o bastante para compreender que o casal reatou o namoro.
Cadu recebe a notícia e se alegra pela amiga:

Cadu:- Espero que dessa vez vocês não briguem mais.

Renata:- Ao que depender de mim a gente não briga nunca mais...

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Cristina e Paloma passam o intervalo juntas. Paloma é conhecida por mudar radicalmente o corte e a cor de cabelo quando bem entende. Desencanada com o corpo, come tudo aquilo que tem vontade e não dispensa um pedaço de pizza com coca-cola para recarregar as energias. Claro que por estar andando com uma modelo que aparentemente se encaixa no padrão de beleza imposto pela sociedade, sente-se um pouco envergonhada:

Paloma:- Você deve me achar uma glutona desesperada, né?Quase dez da manhã e eu botando pra dentro refri e pizza.

Cristina:- Eu não acho não.

Paloma:- Eu ia te oferecer, mas acho que você passa longe disso...

Cristina adoraria poder comer uma coxinha acompanhada de um bombom recheado com leite condensado, mas por ter tido um episódio de compulsão alimentar a noite anterior, pretende não comer nada hoje:

Cristina:- To de dieta!Preciso perder uns 3 quilos...

Paloma:- `Cê` só pode estar zoando, né?

Cristina:- To falando sério.

Paloma:- Querida, se você quiser engordar 10 kg, ainda continua fininha, sabia?Você é muito magra, muito mesmo e se emagrecer mais pode prejudicar o bebê...

Cristina:- Não precisa ser legal comigo. Eu sei que não sou tão bonita assim e por isso mesmo o Márcio se enjoou de mim.

Paloma:- Seria mais fácil você se enjoar dele, afinal você já namorou o menino que todas as meninas sonham e nunca vão ter.

Cristina:- Mas eu o troquei pelo Márcio e não me arrependo...

Paloma:- Pelo Márcio?

Cristina:- O Márcio não é isso que todo mundo pensa, não. Eu tive a oportunidade de conhecê-lo mais a fundo. Suas capacidades, virtudes, sonhos. Ele, quando quer, supera até a cdf da sala, mas não se dá conta disso porque deve ter medo de assumir a si mesmo que tem potencial pra chegar lá.

Paloma:- Então se pensa assim, por que terminou com ele?

Cristina:- Quer saber mesmo por que terminei com ele?

Paloma:- Deve ter alguma razão, né?

Cristina:- Terminei com ele porque soube que ele fez uma baita festa de aniversário e sequer teve a bondade de me convidar.

Paloma:- Só por isso?

Cristina:- Você acha pouco?

Paloma:- É, acho que se isso acontecesse comigo eu também não perdoava...

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Paty e Ricardo, Dico e Julia resolvem passar a tarde no shopping onde resolvem assistir a um filme que está em cartaz e agradou a todos em consenso.
Andréa está em casa estudando e quanto a entrega dos boletins está tranquila, pois suas notas estão altíssimas.
Márcio e Arlindinho escrevem raps em parceria para os Coxudos MCS e torcem pela recuperação de Arlindo.

Arlindinho:- Você fala tudo aquilo que a gente tem vontade, mas não tem coragem...

Márcio:- Nunca falei porque ninguém me perguntou o que eu pensava a respeito.

Arlindinho:- Ta muito legal essa letra. Quando os meninos chegarem a gente podia perguntar o que eles acham pra gente já ensaiar.

Márcio:- Beleza, truta. Por mim, tudo certo.

Alfredo está ocupado no trabalho, com suas falcatruas e nem sabe que é o dia de buscar o boletim de Cristina. Luciana que o diga!
Os pais de Guilherme vão até o colégio, mas não idealizam a reputação do filho e até se surpreendem ao saber que as notas do metaleiro estão `decentes`, assim como as de Cadu.

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Raimunda, taxada de cão que ladra e não morde, não está fazendo a caveira do segundo A para os pais e responsáveis dos estudantes.
Geraldo e Marilda conferem o rendimento de Paty e Ricardo e percebem que as notas dos primos aumentaram bastante em relação ao ano anterior:

Geraldo:- Foi muito bom ter a Patrícia conosco lá em casa. Acho que isso motivou o Ricardo a estudar.

Marilda:- Eu acho que o ambiente lá de casa a motivou a estudar. Deve ser difícil ter ânimo pra estudar num lugar onde se convive com a violência 24 horas por dia, além dos outros problemas que ela enfrenta dentro de casa.

Geraldo:- Espero que dessa vez o Gumercindo esteja honrando com o que prometeu...

E não está. Gumercindo está bebendo todas no Bar do Jacinto, admirando as `vanessas` da vida, inclusive a própria que vai para casa tomar banho:

Gumercindo (grita):- Uma petutinha dessa em casa e eu to feito.

Vanessa (revida):- Se enxerga, velhote. Olhe pra mim e olha bem pra você...

Quando Van chega em casa, encontra os Coxudos MCS cantando no maior embalo:

Coxudos MCS:- Calar a boca dos grandes seria muito pouco
em vista do custo de cada coronhada, cada ofensa
música pra vagabundo, desliga essa droga de som
É difícil falar o que ninguém deseja ouvir
mas a caravana segue e o rap se fortalece
Salve, salve, liberdade de expressão
Quem a conhece?Me diz, você a conhece?
Conhece, conhece e se esquece, se prevalece
se engrandece, liberdade onde estará?

Vanessa os aplaude debochadamente e já parte para a grosseria:

Vanessa:- Aqui dentro vocês não cantam isso não. Todos os zero a esquerda achando que isso aí é música.

Piolho:- Incomodado que se retire.

Vanessa:- Essa casa aqui é minha, viu?Quem não gosta de mim, que saia.

Arlindinho:- Só que essa casa também é minha porque também sou filho dos donos dela e chamo aqui meus amigos sim.

Vanessa:- Parece que não ouviu nada daquilo que eu disse ontem.

Márcio:- Dê graças a Deus por ele não dar ouvidos a pessoas invejosas como você, que por não terem sonhos, quer destruir o dos outros, mas saiba que o truta aqui - abraça Arlindinho - não ta sozinho. A gente ta com ele nessa e vamos todos juntos até o fim. Coxudos MCS é união e nosso nome vai ser falado por aí.

Vanessa:- Na DP, se for...

Piolho:- Vamos lá pra casa, pelo menos lá a gente ensaia sem mané ficar criticando. Não gosta, vai tomar no cu e vaza.

Meire está revoltada com as notas de Tita e se choca ao ver o boletim da filha. Edu, que está atendendo aos poucos pais de alunos ali presentes, conversa com Meire:

Eduardo:- A Renata Muriel ainda não nos mostrou a que veio. Percebo nela que há capacidade de reverter essa situação, mas não vejo atitude da parte dela...

Paula, por sua vez, diz o seguinte a Meire:

Paula:- Eu acho que ela ficou um pouco perturbada depois que essa coleguinha morreu, mas ela vai acordar, você vai ver, mãe.

Carmen, ainda zangada por conta da prova rasgada em público, difama Tita:

Carmen:- Se ela continuar achando que colégio é balada, vai ficar mais um ano por aqui e eu não vou ter dó de reprovar. Vagabundo não pode ser tratado com a mãozinha na cabecinha...

Tita e Gui fizeram amor e agora estão namorando no quarto dele, ouvindo rock e conversando. Deitada no colo do amado, Tita comenta:

Renata:- Minha alegria só vai durar até colocar os pés em casa.

Guilherme:- Bobagem, Tita. Cão que ladra não morde...

Renata:- Você não deve conhecer minha mãe. O que ela promete, ela cumpre.

Guilherme:- Mas mesmo assim nem é caso de distribuir porrada. Se fosse assim, eu já estaria usando dentadura, pois já reprovei de ano, já tirei notas super baixas, já fui suspenso.

Renata:- Juntos nós já fomos suspensos.

Guilherme:- Fora as outras vezes que você nem viu...

Quando Tita volta para casa, encontra Meire furiosa a sua espera e a mulher não é nada benevolente, tanto que já chega a direção da filha a puxando pelas orelhas para levá-la até o banheiro:

Meire:- Parece que você gosta disso, né?

Renata:- Me larga, mãe.

Meire:- Eu te avisei. Eu te avisei.

Meire abre a porta do banheiro e joga a filha pra dentro do box. Por pouco Tita não bate a cabeça e fica inconsciente:

Meire volta segurando o cinto e berra:

Meire (autoritária):- Tira a roupa.

Renata (chorando):- Não vou tirar.

Meire (berra com força):- Tira a roupa.

Renata (berra mais ainda):- Não vou tirar. Você não pode bater em mim.

Meire:- Posso e vou...

Renata:- Eu não sou mais criança...

Meire:- Tira essa roupa agora antes que eu mesma tire. Anda logo, tira a roupa.

Renata, humilhada, está tirando o casaco preto, a camiseta do colégio e a outra blusa que estava por baixo:

Meire:- Se é assim que me ouve, assim será e trate de tirar essa roupa logo...

Meire esbofeteia Renata que chora e deseja morrer porque toda vez que apanha desse jeito se sente a menina de seis anos sem defesa alguma, mas...

Horacio:- Abre essa porta, Meire!

Meire trancou a porta do banheiro. Renata está só de calcinha quando Meire liga o chuveiro e começa a espancar a filha.
Horacio arromba a porta do banheiro com os pés e Tita se desespera. Meire bate nela com ainda mais força:

Horácio:- Se você colocar mais um dedo na Tita eu vou embora.

Meire (berra):- Saia daqui, Horácio. Esse assunto é entre mim e Tita.

Horacio aborda Meire e a contem com os braços para impedir que Tita apanhe. A adolescente se encolhe num canto do box.

Horacio:- ISSO É JEITO DE TRATAR SUA PRÓPRIA FILHA?

Meire:- Vá embora, Horácio. Vá embora!

Horacio:- Coloque a roupa, Renata.

Meire:- Fique aí, Renata. Eu não terminei.

Horacio:- E não vai terminar. Se quiser terminar, vai me perder pra sempre, pois eu não vou mais tolerar que você bata na Tita desse jeito. (para Renata) Vá se secar e coloque a roupa.

Meire:- Fique aí.

Horacio grita, mas não é para magoar Tita e sim para enfrentar Meire:

Horacio:- Vá se secar e coloque uma roupa.

Renata se enrola uma toalha escura que está pendurada no box e sai do banheiro, mas leva um tapa de Meire que a aborda e a estapeia seguidamente. Horacio contem Meire novamente com os braços e a mulher grita desesperadamente.

Horacio:- Isso não é jeito de resolver a situação, Meire. Por favor, uma mulher civilizada e estudada como você sabe que não se resolve problema distribuindo pancada nos outros.

Renata:- Por isso mesmo eu te odeio!Sim, eu te odeio e eu não estou com raiva!Eu te odeio com todas as minhas forças!Te odeio porque sempre precisei me esforçar pra que me amasse. Eu odeio tirar nota 10 e odeio mais ainda o modo como se satisfaz com o meu esforço só pra contar pros outros com louvor que a violência resolve tudo, mas não resolve e você sabe que alimenta revolta. Eu queria poder ter sido uma criança normal como as outras...

Meire (debocha):- Vai começar a lembrar do tempo do epa...

Renata (berra com ódio):- Tempo que você roubou de mim não me deixando brincar com outras crianças, me batendo quando eu queria pintar, sair de casa pra andar de bicicleta, jogar bola, o que todo mundo fazia. Eu não queria ser menina prodígio, saber nome de capital e tirar 10. Eu não queria usar fitinha na cabeça, vestidinho com manga bufante e viver com sorriso fotográfico no rosto. Eu não queria ser a melhor aluna da classe, a que passava o intervalo inteiro sozinha ou fugindo do resto da classe que me zoava por eu ser a queridinha da professora. Eu queria ser aquela menina que brincava na terra com todo mundo, que se lambuzava tomando sorvete e conversava na sala, mas não pra atrapalhar a aula e sim pra interagir com todo mundo, como as crianças normais fazem...

Meire:- Se eu não tivesse batido em você aquela vez, você não teria chegado ao ensino médio.

Renata:- Por isso mesmo me tornei esse monstro que agora confronta com você, porque você pensou estar com a razão quando surrou violentamente aquela menina de seis anos sem defesa nenhuma porque preferiu se contaminar com as palavras de uma professora mal comida, mal paga em vez de apenas me dizer pra falar só quando necessário. Eu odeio pensar que até hoje sinto medo de ser eu porque você ainda acha que eu sou criança e vai continuar me espancando achando que é o melhor método de se educar, mas não é. Deus é prova do quanto eu queria ter levado uma vida bem diferente, sem ter derramado metade das lágrimas de solidão que meu travesseiro já enxugou porque você diz ser minha mãe, mas não sabe quem eu sou, não sabe o que me deixa feliz, mas sabe o que me deixa triste e continua me ferindo. Você sabe que eu existo, mas não me conhece, não me conhece mesmo, pois se conhecesse teria um pingo de amor por mim, não pelo roteiro metódico que criou e quer me encaixar nele. Eu não sou uma idealização, não sou você, não sou uma forma melhorada de você. Não posso sonhar os seus sonhos, repetir seus feitos, vivê-la agradando, pois sou um ser humano e preciso de referência, de atenção, o carinho que você se negou a me dar quando eu não correspondia as suas expectativas imaginárias, quando me corrigia por eu me identificar mais com meu pai, bom, isso quando ele tinha um pouco de consideração por mim. Eu sempre desejei morar com ele porque quando estava ao lado dele não sentia esse medo que você me transmite, esse medo de pisar em falso e ser punida por isso...

Horácio chora por Tita porque se sente culpado pelo sofrimento da menina porque muitas vezes viu Meire bater nela e não a defendeu.

Meire:- E as coisas sem nexo que você escreve por aí?Se eu mostrar a um psicólogo, ele te interna ao ler.

Renata:- Coisas que talvez a sua insensatez soem sem nexo, mas que no meu mundo fazem todo sentido. São os meus sentimentos, caralho. Não valem nada pra você?É assim que sempre vai ser?Você fala o que quer pra mim sem saber se estou pronta pra ouvir e nunca pede perdão quando é injusta?Como eu disse, você pensa que me conhece, mas na verdade não se esforça pra me ver com bons olhos porque está tomada pelo preconceito, pela fantasia que criou a meu respeito achando que eu era uma bonequinha que você ia manipular a vida toda pra só fazer o que você quisesse, mas aí a menina boba foi crescendo e quer viver a própria vida com o direito de errar também, de não ser 100% o tempo todo. A menininha quer namorar, sair com os amigos, ficar até um pouco mais tarde no colégio e conversar, por que não?Pois saiba que eu converso na aula, as mato de vez em quando e picho minhas carteiras, falo muitos palavrões e faço amor com meu namorado. Eu minto, tenho dificuldade nas matérias exatas, odeio matemática, pra falar a verdade e quando tiver filhos, espero que venha uma menina, pois posso até ser imatura, não saber nada da vida, mas sei de uma coisa: não vou agir como você!

Meire:- Isso se você tiver um filho.

Renata:- Isso se você não tivesse me prendido em sua corrente imaginária por 15 anos, mas eu estou rompendo as algemas, ouviu?Estou rompendo!Nunca houve diálogo nem compreensão, pois que eu saiba, gritos não são uma forma saudável de se tratar quem ama e se houve diálogo sempre foi unilateral. Você ditando as regras e eu sendo obrigada a obedecer, mesmo que isso custasse minha anulação como pessoa, a falta de opinião que me faz submissa a vida toda... Claro!Não foi você que cresceu alimentando ressentimento, ódio, infelicidade por ver a vida acontecer e não poder ser personagem efetiva, sempre a sombra de uma mulher tirana e opressora, a margem de berros e ameaças, suposições maldosas a meu respeito. Isso não é vida!Se quiser me espancar, que seja até a morte, pois não quero continuar vivendo desse jeito!

Renata chora, mas não se intimida com o olhar maledicente da mãe e desabafa todas as angústias que guardou durante a vida, fazendo dela a menina traumatizada e infeliz, cujas mágoas sempre escondeu de todos.