Fanfic: DDP -> DiFeReNtE dO pAdRãO!!! - 1°/2°/3°/4° Fase (TV ABREV - Novela 04) (FINALIZADA)

No outro dia, no horário do almoço, a tragédia...

-Lembra daquele colégio que eu ia te matricular, mas não tinha vaga?

Um colégio linha dura onde eu estudaria só com meninas e teria aulas com os melhores professores da cidade?Como não poderia me lembrar?
As lágrimas se misturaram com o sabor da comida e por mais que fosse contra minha vontade, a decisão já estava tomada, como sempre!

-Criança não tem querer!-bradava minha mãe

Chorando muito, acompanhei minha mãe para comprar o uniforme e fazer a matrícula na nova escola.
O meu primeiro dia por lá coincidiria com o primeiro dia de aula das garotas também. Mesmo assim, foi horrível, deprimente de lembrar. Se eu reclamasse, apanharia.
Ninguém quis falar comigo, ainda mais que todas já se conheciam desde a quinta série e eu era uma intrusa, uma criancinha, pois todas só falavam assuntos de mocinha e eu era apenas a idiota que a mamãezinha ainda vem buscar no portão.
Bem naquele ano um tal de Abel Villas-Boas passou a protagonizar a novela teen ao lado da Flavia Ribeiro, uma atriz cuja magreza faz qualquer pessoa normal sentir-se gorda. Todas as meninas idolatravam Abel e Flavia. Todas, menos eu. Assinei minha exclusão.
Até tentei me enturmar, assistir a novela, mas com 3 cenas já estava irritada com aqueles diálogos pífios, sem nexo. O enredo desse folhetim não condizia nem um pouco com a realidade do jovem brasileiro e até hoje não entendo como aquilo tem sucesso. Preferia mil vezes assistir pegadinhas no mesmo horário e dava muitas risadas, me esquecia do mundo idiota em que eu era obrigada a viver.
Não sentia vontade de estudar, de ser uma adolescente comum. Não gostava de me arrumar nem de falar sobre mim mesma.
Era triste ser chamada de `sapatão` porque não achava o Abel Villas-Boas bonito, aliás, ao meu ver ele é feminino demais pra um homem e por todas as garotas dizerem que era bonito, eu o odiava, o achava ridículo, arrogante, sem graça, um verdadeiro mala sem alça. Tinha calafrios só de ouvir os gritos histéricos das minhas colegas ao vê-lo numa foto da revista teen.
Quanto mais eu torcia pra modinha da novela acabar, mais ela crescia. Não foi surpresa nenhuma saber que os mocinhos da novela resolveram `virar`cantores. Tenho pavor daqueles refrões grudentos falando sobre porra nenhuma.
Eu, em contrapartida, estava me apaixonando por rock, o que minha mãe odiava, pois queria que eu fosse `normal` como as jovens da minha idade. Para começar a escrever, foi um salto.
Começou como um exercício pra conseguir dormir, até que um dia me vi escrevendo a tarde toda e quanto mais escrevia, mais sentia que precisava continuar escrevendo, embora minha mãe lesse e rasgasse:

-Você só escreve coisas sem nexo, menina. Quer que eu te interne?

Será que a professora Daniela havia mentido pra mim?Será que eu não era boa naquilo que pensava ser boa?
Mesmo assim, às escondidas, continuei escrevendo e crescendo a olhos vistos, vendo a vida acontecer pela janela, invejando as garotas da minha idade que falavam com os meninos e namoravam.
Eu já ia completar 15 anos e mal podia ter um cachorro. Só pode ter sido o anjo do Horácio a convencer mamys de que seria bom ter um cão em casa.
Até cheguei a ter alguns na infância, porém na primeira travessura ele ia embora. Por não poder fazer o mesmo comigo, as surras eram o método de me manter sempre na linha.
Quando acordei naquela manhã de domingo, encontrei o Cricri (nome dado pelo criador) me lambendo e foi paixão a primeira vista. Ele salvou as férias daquele ano, pois me manteve entretida o tempo todo. Parecia até mãe dele de tanto que me envolvia em suas descobertas.
Mesmo assim, uma parte de mim queria mais do que eu podia ter. Almejava liberdade, uma transformação, um ano que realmente pudesse chamar de novo, pois desde que me compreendo por gente tive de acompanhar os foguetórios televisivos em Copacabana e da janela observar os vizinhos soltando fogos, rindo, se divertindo e eu sempre me sentindo vazia, solitária, tentando preencher a dor com palavras que nem mesmo eu acreditava que pudessem ser reais.
2003 iniciava dando a impressão de que seria idêntico aos últimos 3 anos de tédio... Estava completamente enganada!