Fanfic: Bebê à Vista Adaptada * AyA* (Terminada)

Poncho gaguejava incontrolavelmente:

- Nun... nunca tive a intenção de... de...

Nem ela.

Mas acontecera. Agora, teriam um filho.

Annie levantou-se, preparada para receber os golpes ver­bais. Poncho esbravejaria, assim como Kurt esbravejara. De dedo em riste, questionaria, frio: "Bem, o que você vai fazer a esse respeito?", exatamente como o ex-noivo.

Mas Poncho não lhe apontou o dedo. Estava pálido, apesar do bronzeado. E sua voz não saiu fria. Saiu emocionada ao confirmar, incrédulo:

- É... é meu?

Não, Poncho não esbravejaria. Sua maneira de falar confortava. Atónito, ele se mantinha ali parado como se hou­vessem atirado uma bomba a seus pés.

Tratava-se mesmo de uma bomba, concluiu Annie. Poncho fora a Dubuque a fim de tratar do legado de tia Hattie, não para receber a notícia de que seria pai.

- Tem certeza? - indagou Poncho.

Ela se enrijeceu e a angústia que sentia por ele se dis­sipou. Ruborizou.

-  Sim, tenho certeza. Apesar da impressão que possa ter causado, não ando por aí dormindo com um homem a cada noite!

- Não foi o que eu quis dizer... - Ele se calou, indefeso. Suspirando, passou a mão pelos cabelos curtos. - Bolas, talvez quisesse dizer isso mesmo, mas é porque estou cho­cado. Desculpe-me...

Ele não a encarava. Parecia não conseguir desviar o olhar da barriga dela.

Annie  recebeu a desculpa no espírito em que foi emitida: de má vontade. Pegou mais dois vasos e voltou-se para o carrinho. Não ficaria ali, vendo-o pasmo! E não quereria vê-lo raciocinando, tampouco.

Queria sair correndo dali, mas também não daria esse prazer a ninguém.

Permaneceu, ciente do silêncio, ciente do passo adiante, ciente do pigarro de Poncho ao indagar-lhe:

-  Então... você ia me contar?

O tom era cordial, quase casual, mas ela sentia o nervosismo dele, sabia o quanto ele se esforçava para se controlar.

Ela passou a língua nos lábios e encolheu os ombros na tentativa de parecer descontraída.

- Num dado momento, imagino, eu teria que contar.

-  Você teria que contar? - Poncho espantou-se. - Não imaginou que eu talvez quisesse saber?

- Para ser franca, não.

Poncho encarou-a boquiaberto. Então, como se tivesse per­cebido, fechou a boca. Não deixou de encará-la nem por um instante.

Desafiadora, Annie devolveu o olhar.

- Bem, este não é exatamente um momento típico dos romances, não é?

Poncho remexeu o maxilar.

- Está querendo dizer que não quer esse filho?

Annie pressionou a mão protetoralmente sobre a barriga.

- Não, não estou dizendo nada disso! Eu quero esta criança.

Era a única coisa de que tinha certeza. Filha de pais desnaturados, fora abandonada e passara por vários lares adotivos desde os seis anos. Não deixaria que isso aconte­cesse com seu filho. Cuidaria dele com todo o amor. Quanto a isso, estava decidida.

- Mas não consigo imaginá-lo com a mesma disposição - completou. - Você consegue? - disparou, tão rude quan­to ele se mostrara pouco antes.

Poncho pareceu ficar sem resposta.

Satisfeita, Annie começou a empurrar o carrinho na direção da sala de jantar.