Fanfic: Bebê à Vista Adaptada * AyA* (Terminada)

Não deveria ser tão difícil. Poncho estava acostumado a negociar por te­lefone, fax e computador. Se o empresário tailandês relutava em ir a Dubuque, paciência. Continuaria sem ele.

Mas nada estava indo bem. Nada mesmo.

Mensagens eletrônicas perdiam-se ou extraviavam-se. Al­guém limpava a escrivaninha e esvaziava o cesto de lixo assim que ele se levantava para ir ao banheiro. Projetos em que vinha trabalhando havia meses simplesmente de­sapareciam no ar.

A nova linha telefónica apresentava problemas, mas o técnico afirmava que estava tudo em ordem. Annie afirmava que as demais linhas da pousada funcionavam perfeitamen­te bem.

Quase não tinham oportunidade de conversar. Ela parecia evitá-lo durante parte do tempo, enquanto na outra parte fazia questão de estar onde ele estava, passando o aspirador de pó, dando marteladas ou mostrando as dependências da pousada aos hóspedes.

Sempre tivera a vaga fantasia romântica de que mulheres grávidas eram calmas, dóceis e... bem, lerdas. Annie não era nem calma, nem dócil. E não se atreveria a duvidar de sua agilidade, pelo menos não perto dela.

De qualquer forma, após três dias, ela ameaçava deixá-lo maluco. Não lhe bastava estar grávida e administrar uma hospedaria, como uma pessoa normal. Não Annie!

Ela tinha que estar grávida, administrar a pousada e executar ao mesmo tempo seis projetos de decoração.

Certa tarde, ele a surpreendera colocando nas paredes paisagens que adquirira em um leilão recentemente. Car­regava cada quadro pesado, erguia e fixava. Então, afasta­va-se e avaliava o efeito. Insatisfeita, retirava a tela, leva­va-a para outro quarto e repetia o processo. Fazia questão de invadir os cómodos em que ele se refugiara tentando trabalhar.

- Você já esteve aqui - observava ele, quando ela entrou na biblioteca, no andar térreo, com um quadro enorme retratando prédios antigos de Dubuque.

- Eu sei. Achei que poderia encontrar um lugar melhor para este aqui. - Annie encolheu os ombros. - Não consegui. - Já tinha o rosto afogueado, mas começou a erguer a tela pesada mais uma vez.

- Não, dê-me isso aqui. - Poncho arrebatou o quadro. - Onde quer colocar?

- Ali. - Ela apontou para a área na parede acima de um aparador de madeira. - Ou melhor, ali! - Apontou para a banheira de dois lugares no fundo do cómodo, recém-instalada, a fim de alojarem casais em lua-de-mel. - De frente para a banheira. Os casais vão relaxar apreciando o quadro durante o banho...

Poncho apoiou o quadro na borda da banheira e entrou nela.

- Eu não ficaria olhando para isso se estivesse dividindo a banheira com alguém - comentou, maldoso.

Annie ruborizou mais intensamente.

- Apenas pendure, sim? - retrucou, sucinta.

Poncho obedeceu.

- Está torto - informou ela. Ele ajustou um pouco. - Passou. - Ele voltou um pouco. - Mais... - Ele mexeu mais um pouco na moldura. - Aí! Perfeito. - Fez uma pausa e avaliou o efeito. - Talvez fique melhor sobre o aparador mesmo.

Poncho saiu da banheira.

- Desculpe, querida, mas vai ficar aí mesmo onde está.

- Mas...

Ele se voltou para ela.

- Leia os meus lábios. Está ótimo!

- Então, eu mudo. - Annie avançou para a tela.

Poncho colocou-se entre ela e a tela. O telefone tocou.

Era sua secretária, Elinor, ainda tentando desembara­çar um carregamento de tecido indiano na alfândega. Pre­cisava de que Poncho assinasse uns documentos que ela en­viara via fax.

- Vou subir para receber o documento.

Não estava mais lá. A escrivaninha tinha sido arrumada novamente e o cesto de lixo, esvaziado. Nem sinal do do­cumento enviado por Elinor.

Podia ouvir Annie passando o aspirador no corredor.