Fanfic: Bebê à Vista Adaptada * AyA* (Terminada)

No aparelho de telefone, a luz indicadora de espera con­tinuava piscando. O número conectado ao fax começou a tocar também.

- Não tem ninguém para atender o telefone aí em cima? - reclamou Cletus. Poncho ignorou o fax e apertou o botão para recuperar a ligação.

- O quê?

-  Sobre o tempo que vai levar - repetiu Elinor. - O sr. Rajchakit quer falar com você. Ele está esperando na linha. Vai ser uma reunião por telefone.

- Ah... - Poncho saudou em tailandês. - Sa-waht! Dee Krahp, sr. Rajchakit.

Não era hora de ficar pensando nas pernas de Annie.

Não fora a semana mais produtiva da vida de Poncho, com certeza.

Conseguira localizar o carregamento de jade às custas de milhares de dólares em telefonemas, algo que poderia ter feito pessoalmente se estivesse em Nova York. Conse­guira reagendar uma reunião com empresários de Hong Kong para o mês seguinte. Conseguira até acalmar o sr. Rajchakit comprometendo-se a encontrá-lo em Nova York em duas semanas, embora não tivesse certeza de poder com­parecer àquela reunião, tampouco.

Tudo dependeria do comportamento de Annie. Ou do su­cesso da tentativa dela de enxotá-lo dali.

Não queria admitir, mas ela estava fazendo um excelente trabalho.

Era claro como água que ela não o queria por ali e em­penhava-se ao máximo para que ele fosse embora. Havia barulho constante e movimentação onde quer que ele estivesse trabalhando. Não obstante, a pousada continuava a parecer acolhedora aos hóspedes.

Ele vivia atolado em papel de parede, pó e tinta fresca, mas todos os demais pareciam viver próximos ao paraíso. Não entendia como Anni era capaz de proporcionar paz e tranquilidade a todos e, ao mesmo tempo, provocar um fu­racão onde quer que ele se encontrasse.

Poncho levou cinco dias para obter seu primeiro momento de paz, num quartinho escondido.

Sabia que aquele quarto seria ocupado à noite, mas o casal em lua-de-mel só chegaria bem tarde da noite.

Assim, entrincheirara-se lá sem que Annie soubesse.

Passou três horas sozinho e avaliou todos os faxes que Elinor enviara-lhe. Conseguira até dar vários telefonemas seguidos. Ninguém lhe atirou restos de papel de parede, nem respingou tinta em seus cabelos, nem entregou-lhe um gato do qual tomar conta.

As seis horas, sentia-se como se tivesse conquistado o Everest. Arrumou a última folha de papel, levantou-se e espreguiçou-se.

Sentiu dor nas costas por ter ficado debruçado sobre a escrivaninha tanto tempo.

- Fora de forma, hein? - repreendeu-se.

Recolheu os documentos, deu uma olhada no quarto para ter certeza de que estava tudo em ordem e, então, saiu ao corredor.

A pousada estava em silêncio. Ouviu vozes na suíte de luxo; provavelmente os hóspedes já haviam chegado. Um casal estava na sala de estar, tomando xerez e lendo o jornal.

Poncho esperava que Annie estivesse por ali, comentando sobre as atrações locais, mas não. Errol Flynn dormitava num canto. Pela janela que dava para a varanda, viu o outro gato de pé, atento. Foi até lá.

-  Onde está Annie? - indagou ao bicho.

Wallace bocejou.

A campainha soou. Poncho não foi atender.

Já fora advertido de que não era sua tarefa. Acariciou o gato entre as orelhas e ganhou um ronrom de prazer.

A campainha soou mais uma vez.

Poncho aguardou, esperando ouvir os passos de Annie vindos da cozinha. O casal na sala de estar olhou-o, apreensivo.

Estranhando a demora, ele foi até a copa.

- Annie?

Foi adiante, até a cozinha. Ninguém estava lá. Viu Cletus no jardim, regando as plantas. Annie não estava com ele..

Iniciou o caminho de volta para abrir a porta, mas o velho Benjamim já estava lá, recepcionando duas moças.

- Sejam bem-vindas. Desculpem a demora em atender, não sou mais tão ligeiro quanto antes. Vou levar as suas malas... Ah, este aqui é o Poncho - apresentou, ao vê-lo. - E o gato é Wallace Beery.

Poncho sorriu. Wallace ronronou. Benjamim indicou a es­cadaria às hóspedes.

Era um avanço, pensou Poncho. Benjamim apresentara pri­meiro a ele e depois o gato.

- Onde está Annie? - indagou Poncho ao ancião.

-  Ela me pediu para cuidar da pousada um pouco - comunicou Benjamim, olhando-o por sobre o ombro. - Por aqui, senhoritas.