Fanfic: Bebê à Vista Adaptada * AyA* (Terminada)

Annie levantou-se, trémula, e começou a se vestir. Sentiu outra contração enquanto vestia o suéter. Muito mais forte do que as anteriores, fez com que se inclinasse para a frente.

Seus problemas estariam resolvidos se perdesse o bebê, mas não queria perdê-lo! Era sua única certeza desde que se descobrira grávida. Permaneceu imóvel até a dor passar.

- Annie? - chamou Poncho, além da porta.

-  Espere. - Ela acabou de vestir o suéter.

Impaciente, Poncho entrou no quarto enquanto ela calçava a sandália.

-  Deixe que eu afivelo. - Antes que ela pudesse pro­testar, ajoelhou-se à frente dela e tomou-lhe um dos pés.

Annie sentia os cabelos dele, queimados de sol, roçando em seu joelho, bem como suas mãos grandes e fortes em torno de seu pé, tentando alojar o calçado.

-  É um luxo ter alguém para me ajudar a calçar a sandália...

Ele ergueu o olhar por sobre a barriga enorme. Seus olhares se encontraram. Ela arriscou um sorriso tímido. Ele retribuiu o sorriso.

Era a primeira vez que trocavam sorrisos, pensou Annie, desde que ele ressurgira em cena, havia uma semana. Era tolo sorrir naquele momento. Na verdade, tinha vontade de chorar. Zangada, tentou reprimir as lágrimas.

- Muito bem. - Poncho levantou-se e ajudou-a a ficar de pé. - Vamos.

- Preciso chamar Benjamim. Alguém precisa cuidar da pousada e atender ao telefone.

- Eu já o chamei.

Quando estavam na porta, encontraram-se com o velhi­nho. Sonolento, ele nem penteara os cabelos e tinha a camisa para fora da calça.

-  Você está bem? - perguntou a Annie. Sem esperar pela resposta, olhou fixo para Poncho. - Não deixe que nada de mal aconteça a ela, ouviu?

Poncho assentiu.

- Alto e claro.

O médico chegara antes e já os aguardava na sala de emergência do hospital. Era um homem forte, de cabelos grisalhos e bigodão. Com seu jeito tranquilo e brincalhão, transmitia conforto às clientes.

- Você tinha que animar o meu sábado, não é? - foi seu primeiro comentário.

- Desculpe-me - balbuciou Annie. - Tenho certeza de que não é nada. É só que ele... ele - Encarou Poncho, que teimava em segurar-lhe o cotovelo. - Ele queria ter certeza.

O dr. Bastrop encarou Poncho. Sabia que Annie não quisera envolver o pai da criança na gravidez. Não estava de acordo, mas não dissera nada. Agora, podendo avaliá-lo, pareceu aprovar.

-  Bem, vamos examinar, certo?

Poncho começou a segui-los até a sala de exames, mas o dr. Bastrop olhou-o por sobre o ombro.

-  Você não pode ajudar agora. Fique aí no corredor. Falo com você quando tivermos um quadro preciso.

Por um segundo, Annie achou que Poncho ia discutir. Mas ele assentiu e enfiou as mãos nos bolsos.

-  Eu espero aqui.

Não era confortável, mas pouca coisa era em se tratando de uma gravidez, pensou Annie.

Os exames foram feitos e Annie pôde se vestir novamente. Sentada na mesa, ficou esperando pelo médico.

- Qual era o intervalo das contrações mesmo? - indagou o dr. Bastrop.

Ela passou a língua pelos lábios.

-  As vezes um minuto. Às vezes, cinco.

- A tarde inteira?

-  É. - Aflita, Annie indagou: - Está nascendo?

-  Espero que não. Chame o pai da criança - pediu o médico à enfermeira.

Um segundo depois, Poncho aparecia na porta.

-  Está tudo bem?

-  Ela está bem.

-  E o bebê? Está nascendo?

- Não sei ainda.

-  Não sabe? - questionou Poncho, inquieto.

-  Pode até ser.        

- Mas...

-  Teremos que esperar. - O médico deu um sorriso encorajador a Annie. - Talvez, se repousar, as contrações cessem. Contrações falsas são comuns em mulheres que já tiveram filhos. Não ficaria preocupado se esse fosse seu terceiro, quarto ou mesmo segundo filho. Mas como é sua primeira gravidez, não sei. Mesmo que desse à luz agora, o bebê teria muita chance de sobreviver. Muitos bebês nas­cem de sete meses, alguns até com menos. Mas a natureza determinou nove meses. Dá menos problemas. Seria bom reter o bebê o máximo de tempo possível...

- Está bem, vou diminuir o ritmo - declarou Annie.

- Diminuir o ritmo não vai adiantar - ponderou o dr. Bastrop. - Vai ter que parar com tudo.

-  Parar com tudo?!

- Isso mesmo - confirmou o médico. - Não sei se você andou se excedendo ultimamente, mas algo está provocando a placenta.

Annie sentiu o olhar de Poncho sobre ela à menção da palavra "excedendo" e ruborizou com mais intensidade.

- Eu precisava trabalhar! Não quis... - Desviou o olhar, lutando contra as lágrimas.

-  Não importa o que andou fazendo, Annie. Não pode continuar. Precisa de repouso - declarou o médico. - E isso significa nada de correria, nada de peso, nada de escada.

- Meu quarto fica no segundo andar!

-  Nós a mudaremos para baixo - decidiu Poncho, com um olhar que desencorajava qualquer protesto. - E ela vai parar. Vai ficar na cama durante o resto da gravidez, se o senhor disser que é preciso.

Annie buscou apoio no médico, mas este parecia aliado a Poncho ao concluir:

-  Otimo. Já era hora de alguém começar a cuidar de você!

- Eu posso cuidar de mim mesma! - protestou ela, e então franziu o cenho ao sentir mais uma contração forte.

O dr. Bastrop pousou a mão na barriga dela e a manteve ali até que a dor passasse.

- Eu sei que pode cuidar de si mesma, Annie - apaziguou. - Durante todo o tempo, fez o que era melhor para o bebê. Tenho certeza de que continuará sendo assim. Fique contente por seu marido poder ajudar.

"Ele não é meu marido!", Annie quis gritar. "Ele nunca foi meu marido. Ele é apenas o pai do meu filho!" Levou a mão à testa, perturbada.

- Leve-a para casa e coloque-a na cama - instruiu o dr. Bastrop a Poncho. - Um pouco de paparico não fará mal. - Após uma pausa, sugeriu: - E cruzem os dedos.