Fanfic: Ria da minha vida...Antes que eu ria da sua!!!

- Ria da minha infância.

Minha mãe tinha muito cuidado comigo. Mas como fui o primeiro filho, esse cuidado foi excessivo. Eu vivia com aqueles gorros cheios de talco pra piolhos. Ia para escola com aquilo na cabeça e não podia tirá-lo de vergonha do talco. Para você ter uma idéia do tamanho da preocupação, minha mãe me colocou luvas no dia em que eu nasci e só as tirou quando eu tinha quatro meses.
Dizem que eu me assustava com minhas próprias mãos, pensando que era alguma espécie de bicho. Meses depois eu me acostumei com elas, mas passava o dia esfregando-as no rosto, na fase de análise a seres estranhos.

Com quatro anos de idade eu coloquei meu irmãozinho de um ano na janela, para ver a mamãe comprar pão lá em baixo., na padaria. Não fosse o detalhe de a janela fazer parte do décimo segundo andar do nosso prédio, daria tudo certo. Minha mãe que atravessava a rua lá em baixo, viu um pijaminha Tip Top azul na janela (aqueles com dois pompons brancos nos pés) e só Deus sabe como subiu correndo os doze andares de escada para nos pegar. E só Deus sabe também quem ficou com os pães, o leite e o chinelos dela que ficaram no meio da rua.
Aos cinco eu virei Tarzan e rachei a testa no meio da sala, tentando agarrar um cipó imaginário.
Quando meu outro irmão mais novo, o Rômulo, aprendeu a andar, tentou se matar ao escalar a grade do quintal superior de nossa casa. Não conseguiu por que a perna direita do mesmo pijaminha enroscou nela. Como esse quintal era de frente para a rua e eu estava na calçada, fui o único a vê-lo. Minha mãe estava lavando a área em baixo de onde ele estava. Ela teria tempo apenas de vê-lo se espatifando no chão.

Enquanto lavava a área, minha mãe olhou distraída para a calçada e me viu de braços erguidos, com minha lancheira pendurada e os cabelos lambidos para o lado (sem pentear a parte de trás do cabelo, pois eu não deixava ninguém me pentear), gritando:

- Vai!! Pula que eu seguro você! Desenrosca o pezinho e pula que o Christian aqui te pega!

Olhei para frente, ainda com os braços erguidos, e só vi uma vassoura e um esguicho no chão. O resto você já deve imaginar. Ainda tenho certeza que conseguiria pega-lo...

Nessa mesma época, correu um boato entre meus irmãos de que um “ser estranho” tinha aparecido em nossa casa. Era a minha irmã caçula, a Fernanda. Meus pais a mostraram pela janela do quarto, que vivia fechada nessa época porque nós três estávamos com catapora, e olhamos curiosos no quintal. Meus planos de formar um time de futebol de salão acabaram aí. Fiquei decepcionado.

Alguns anos depois, minha mãe fez uma sopa horrível de feijão com argolinhas. Eu e meus dois irmãos estávamos-mos à mesa, olhando para a sopa com cara de nojo. Após uns vinte e cinco minutos, e umas vinte e seis avisos ameaçadores de minha mãe, eu coloquei uma argola lentamente na boca. Meus irmãos riram da minha cara de nojo e continuaram a desprezar a sopa. De repente a minha mãe apareceu silenciosamente atrás dos dois , enquanto riam de mime da sopa. Sem que houvesse tempo para reação, ela os agarrou pelos cabelos e esfregou as caras deles no prato, era sopa, caldo de feijão e argolas para todo lado. Ela levantou a cabeça deles, chacoalhou um pouco para que pegassem fôlego, e tome sopa na cara de novo. Ainda hoje não esqueço a cena. Meus irmãos com argolinhas de feijão em todo rosto choravam desesperados. Quando quis esboçar um sorriso, inevitável nesses momentos maravilhosos, recebi um aviso fulminante de minha mãe:

- Ri!! Ri deles que você será o próximo com a cara na sopa!!

Tive que me conter e parar de respirar, correndo depois para rir sozinho no banheiro. Mas todo esse nervosismo da minha mãe vinha do dia anterior, quando tive a idéia genial de me deitar do lado do botijão de gás e pedir para o Rodrigo chamá-la dizendo que eu tinha morrido. O plano deu certo. Lembro-me que estava espiando deitado no chão, fingindo estar morto, e minha mãe colocando as mãos no rosto de susto para depois desmaiar.

Uma vez, na fissura de descobrir onde meu pai trabalhava, bolei um plano com o Rodrigo. Eu o mandaria para lá e ele me contaria tudo depois. Não foi difícil convence-lo. Eu tinha sete anos de idade, talvez um pouco menos. Acordamos de madrugada e eu o enfiei no porta-malas do carro do meu pai, um Fiat 147 velho, marrom. Meu irmãos dormiu lá mesmo, e de manhã meu pai saiu sem nota-lo. Quinze minutos mais tarde, minha mãe corria, berrava pela casa, enquanto eu observava amedrontado, encolhido em um canto e com medo de contar minha façanha. Ela ligou para o meu pai aos prantos, horas depois, berrando que já tinha dado até volta no quarteirão atrás do Rodrigo (naquela época não existia celular e ela teve que esperar umas duas horas até meu pai chegar ao trabalho para poder avisá-lo)

Toda a vizinhança começou a se aglomerar na frente de nossa casa por causa da gritaria. Ainda hoje eu me lembro daquela multidão, do meu pavor e do meu medo de apanhar cada vez maiores.
Meu pai largou o telefone e saiu correndo da empresa. Quando avistou o carro, viu meu irmão de pé na direção, brincando de dirigir. Meu irmão, ao vê-lo ainda tentou se esconder no porta malas, seguindo a orientação que eu tinha dado, mas não adiantou. Fomos pegos. Ele acabou ficando famoso com as mulheres na empresa, passando de colo em colo, pois, além de pouca idade e de estar apenas de sunguinha como souvenir havia tosado a própria franja na raiz do cabelo e acabado com seu visual. Sem dois dentes da frente, parecia que tinha problema. Os nossos pais vão direto para o céu.