Fanfic: Ria da minha vida...Antes que eu ria da sua!!!

- Meu primeiro erro com uma menina... Primeiro de vários!!

A primeira vez em que notei que uma menina podia perturbar minha mente de forma estranha foi quando eu tinha dez anos de idade e cursava a quarta série. O nome dela era Stella. A menina mais bonita do colégio. Cabelos castanhos e toda charmosa. Totalmente tímido e escondido atrás dos óculos, eu só tinha um agasalho que não era adidas. O agasalho adidas era aquele azul mais claro, bonito, que só os meninos do fundão e os mais ricos tinham. O meu era azul escuro e parecia uma calça fuseau de balé grudada nas pernas, perdia o elástico, caía, fazia aquelas bolinhas brancas, as tiras laterais descolavam tanto que eu poderia até pular corda com elas se eu quisesse.

Assim, ninguém me notava, muito menos ela, paparicada por todos o tempo todo. eu a observava de longe, sentado na rampa do colégio, comendo aquele meu pão com carne de sempre que a minha mãe preparava todos os dias e enrolava no papel aluminio para não esfriar (mas esfriava).

A Stella foi a primeira mulher que me fez sentir o famoso friozinho na barriga. Um dia, cheguei até a brigar, rolando na areia com um dos meus melhores amigos, só porque ele disse que gostava mais dela do que eu. Falar com ela? Fora de cogitação! Anos passaram, até que um dia tudo piororu, quando passei mal no colégio e vomitei beterraba na sala de aula, quase em frente a carteira dela. Isso me jogou de vez no mundo dos esquecidos. Mas um milagre aconteceu. por mero acaso, nos mudamos da nossa querida casa branca na rua Tavares bastos, 1014, para outra rua, Spcipião, 349. Ficava no mesmo bairro, na lapa, mas era mais bonita e muito maior.

Ainda arrumando minhas coisas, levei um susto quando a vi na janela do meu quarto. Derrepente pensei ter visto a Stella passando pela minha rua. Dias depois, descobri que não tinha sonhado. Ela morava na casa em frente a nossa!!!! Ou seja, milagre. Passei horas rindo sozinho. Logo fiz amizade com o irmão mais velho dela, e passamos a brincar juntos, ora na minha casa, hora na casa dela. Isso me deu a vantagem infinita sobre os outros concorrentes da escola. Eu aproveitava e ficava de olho nela e provocar uma oportunidade para me declarar, muitas vezes sem prestar atenção ao que fazia. Na escola, ela me passou a cumprimentar com beijinhos, e automaticamente sai do mundo dos esquecidos e passei para o "quem é esse cara?", ganhando posição a cada dia.

Foi quando uma idéia começou a fervilhar em minha cabeça: já que não tinha coragem de me declarar pessoalmente, por que não me declarar por telefone? Tinha somente que esperar pela hora certa. A hora certa foi no dia em que o irmão da Stella foi ao banheiro e me deixou sozinho com ela na sala. Tomei fôlego e, vermelho como um pimentão, disse, com as pernas tremendo:

- Stella, tem uma coisa muito importante que eu tenho que te falar. Vou te ligar daqui a pouco, posso?

Podia estar enganado, mas me pareceu que ela estava gostando da minha timidez. Perguntou-me porque não dizia logo e imbecilmente respondi que só tinha coragem por telefone. O irmão dela chegou. Pisquei para a Stella e corri para casa. Minha casa era um sobrado, então subi, me tranquei no quarto e peguei o telefone dela (o telefone da Stella valia ouro no colégio). Disquei o cobiçado numero suando frio.

- alô?
- alô, Stella?
- não, aqui é o Rodrigo.
- desliga que eu vou usar! - disse pro meu irmão mais novo, Rodrigo, que por ser pequeno ainda tinha a voz aguda e havia atendido a extensão na sala. Fechei os olhos, impaciente, e disquei novamente:
- alô?
- oi, Stella... Tudo bom?
- aqui quem tá falando é o Rodrigo...
- desliga isso!!! Não tá vendo que sou eu?

Meu irmão, escutando o tec-tec-tec da extensão, pensava que o telefone tava tocando lá em baixo e atendia na hora. Depois, cada vez que eu ia discar, era um sacrifício tomar coragem. Tentei novamente e atenderam no primeiro toque:

- alô?
- DESLIGA ISSO AÍÍÍÍ, MEU DEUS DO CÉÉÉÉU!!! Eu vou descer ai e você vai ver... Desliga sua annnnnnnnntaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!!!
- ah? Alô? Christian? É você? Nunca mais se atreva...

Bati o telefone. Fiquei mudo. Gelado. Tapei a boca e arregalei os olhos... Adivinhe o que eu tinha feito? Havia confundido as vozes e xingado a Stella. Claro que depois dessa, quando você é criança, estraga

t-u-d-o... Desolado e desencorajado, com a timidez multiplicada por mil, foi assim que voltei para rampa, com meu agasalho (que não era adidas) e pão com carne. Perdi pra sempre a Stela...