Fanfic: Friends Or Lovers? (lesbian version)

Após o término do jogo que passava na TV tanto de Jéssica quanto de Nicole, as duas desligaram-na com o controle remoto, cada uma em sua casa, a primeira com um olhar preocupado no rosto, e a segunda segurando algumas lágrimas. 

O Corinthians tinha acabado de perder mais um jogo que poderia ser decisivo. Agora, teria que ganhar o próximo e último jogo para se salvar do rebaixamento.

Jéssica nunca se importara com futebol, e a verdade é que continuava achando tudo aquilo muito sem graça, mas estava aprendendo a torcer por um time, apenas para que pudesse imaginar um sorriso no rosto de Nicole. No entanto, sabia que neste momento não haveria nenhum sinal de sorriso ali, e isso a estava matando.

Nicole, no seu sofá, imaginava se merecia tudo isso. Primeiro a desilusão com Giovanna, que ocorrera de tal forma que parecia impossível voltar a ser a mesmo tanto com ela quanto com Mari. Depois, o mesmo acontece com Jéssica, mas nenhuma das duas se declaravam apaixonadas. Em seguida, seu time seria provavelmente rebaixado, e ela não tinha esperança alguma que a motivasse a torcer até o fim.

E para completar, ela tinha acabado de se dar conta de que Giovanna estava certa, e ela sabia disso desde o início. Ela estava apaixonada por Jéssica, sua melhor amiga. Ou ex-melhor amiga, agora.

O único lado bom de tudo isso era que agora estavam tão distantes que Nicole não precisaria olhar no rosto dela sempre com esperanças de ser beijada novamente. Sabia que isso nunca aconteceria.Se ao menos ela tivesse alguém para consolá-la como teve com Giovanna, talvez ela conseguisse superar novamente. Mas, perdendo Jéssica, ela não tinha mais ninguém. Não queria ter, ninguém poderia substituí-la.

O que ela não sabia era que Jéssica não conseguia conter seus sentimentos de proteção por ela, e queria ajudá-la mesmo sendo ela a causa de sua dor. Não podia imaginar a amiga num estado deplorável e ficar indiferente. Então, achando que era o melhor a se fazer, resolveu visitá-la.

Nicole foi até a porta a passos lentos, imaginando ser algum vizinho chato a convidando para mais uma reunião com o síndico, mesmo que todos soubessem que Nicole nunca participava dessas coisas.

Então, quando abriu a porta e deu de cara com aqueles olhos castanhos observando-a por detrás dos fios loiros de seu cabelo que, mesmo bagunçado parecia estar impecável, teve certeza que as coisas podem sempre piorar.- Por que você não avisa antes de aparecer? – perguntou, cansada.

- Porque eu sei que você não me deixaria vir. – Jéssica respondeu, dando os ombros e tentando sorrir.

- Então por que vem, mesmo assim?

- Porque eu sou sua amiga, oras. – sorriu mais uma vez, querendo arrancar um sorriso da amiga, em vão. Tentava parecer contente como sempre, mas estava usando todas suas forças para não desabar em frente à frieza de Nicole.

- Não, Jess... – fechou os olhos, engolindo em seco. Se quisesse se livrar dessa sensação que tinha sempre ao encontrar-se com Jéssica, precisava tomar alguma atitude, e a hora era essa. – Você não é mais minha amiga. – Jéssica olhou chocada para ela, não acreditando no que ouvia. – Então apenas pare de agir como se fosse e ficar aparecendo do nada, porque não é. E isso me faz mal.

- Ni, por que você está me falando essas coisas? – conseguiu falar, sentindo um bolo se formar em sua garganta.

- Porque a Giovanna estava certa. Porque eu gosto de você e não só como amiga, então se for pra continuar sendo sua amiga e me machucando, eu prefiro nunca mais te ver. – Jéssica tentava olhar nos olhos de Nicole, mas seus olhos pareciam fugir dos dela.

- Você não pode estar falando sério. – Jéssica queria acreditar que era tudo uma brincadeira, mas uma lágrima presa no olho de Nicole mostrava que tudo era real demais.- Nunca falei tão sério. Eu não quero repetir tudo que passei com a Gih, até porque é pior ainda. Eu não vou suportar ouvir de você um dia que você está namorando não sei quem, e ter que fingir estar feliz por você. E muito menos correr o risco de ser beijada por você apenas porque você estava empolgada com uma música, droga! –Nicole gritou, magoada, como se as palavras arranhassem sua garganta, sentindo que podia desabar a qualquer momento.

- Nicole, eu... Eu não sei o que falar.

- Não precisa falar, só vai embora. – falou, grossa, fechando a porta, mas foi impedida pelo pé de Jéssica.

- Eu vou, mas antes vou falar uma coisa. – o tom decisivo de sua voz chamou a atenção de Jéssica, que olhou sério em seus olhos. – Se você quer abrir mão assim da minha amizade, você é que nunca foi minha amiga.

Nicole ficou sem palavras, vendo Jéssica dar as costas e ir embora. Fechou a porta, tendo certeza que, de alguma maneira, conseguira piorar ainda mais as coisas.

Não sabia o que tinha dado nela para falar tudo aquilo para a Jéssica, na porta de seu apartamento. Quando percebeu, já tinha falado tudo, sem pensar.

Os dias passavam lentamente para Nicole, que nem se lembrava mais a última vez que tinha sorrido. Só queria voltar aos tempos em que encontrava conforto na amiga, mas agora nada poderia confortá-la por perdê-la.

E a culpa, mais uma vez, era toda sua. Ela tinha que confundir as coisas, tinha que estragar tudo. Só que dessa vez era tão diferente, e isso a assustava. Não tinha demorado tanto para esquecer Giovanna, ainda mais com a ajuda de Jéssica – e agora fazia mais sentido a rapidez de tudo. E para esquecer Jéssica, como faria? Quanto tempo levaria?

Algo dentro de si dizia que ela simplesmente nunca esqueceria; que poderia até se apaixonar por outras pessoas, mas Jéssica seria sempre o seu amor que nunca deu certo. Porque, se é que ela entendia alguma coisa de seus sentimentos, ela podia jurar que gostava de verdade de Jéssica, não como havia sido com Giovanna. Aquilo não passara de atração, e como sempre disseram pra ela, confusão de sua parte.

Mas com Jéssica parecia que poderia ser tão certo, e que a confusão tinha sido serem apenas amigas por tanto tempo. Fosse o que fosse, não importava mais. Não eram mais nada, e, ao contrário do que Nicole imaginara, ela continuava sofrendo, mesmo sem vê-la bater à sua porta do nada.

Na verdade, a única coisa que a fazia levantar da cama era a esperança de que talvez Jéssica voltasse a bater ali.